quinta-feira, 10 de abril de 2014

Artes de Pesca - Pescadores, normas, objectos instáveis

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Saída proveitosa! Tendo tido, ontem, de me deslocar às imediações de Cascais e tendo sabido da inauguração no Museu Nacional de Etnologia, em Belém, da exposição «Artes de Pesca – Pescadores, normas, objectos instáveis», logo pensei que de «uma cajadada poderia matar dois coelhos». E assim fiz!
A ansiedade de ver a exposição arpoava-me!
Saboreei-a como quis, com vagar, apreciei, li as identificações, mas não havia ainda catálogo nem textos on-line. Uma falta.
O espaço cénico apresentava-se moderno, apelativo, com muito boa iluminação e bem concebido.
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Mas «as artes», as verdadeiras artes, essas, desiludiram-me um pouco.
Um ensaio de sistematização das artes de pesca é sempre mais um, mas nunca chega a ser completo, porque o número é muito extenso e são instáveis.
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Mostrar objectos que só se usam em meio líquido, em meio aéreo, é quase impossível. O efeito não é o mesmo. Daí uma maior abundância de artefactos auxiliares das artes – varas, paus, agulhas, pandas, pandulhos, bóias sinalizadoras, cabos, etc. As redes em si, desde as singeleiras aos tresmalhos, às de cerco e às de arrastar são mesmo impossíveis de se deslocar do meio em que operam. Perdem a funcionalidade, a viabilidade e a beleza.
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Daí terem, na exposição, um papel preponderante artes do tipo de «armadilha» usadas individualmente ou «em caçada»: covos, muregonas, alcatruzes diversos.
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Alcatruzes
 
As mais compreensíveis, porque apresentadas ao vivo são os galrichos, os botirões, o xalavar, a cabrita, as dragas, as fisgas e os diversos anzóis, com isco natural ou artificial.
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Por alguns sistemas de pesca, tenho um fascínio especial:
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- a arte xávega, só apresentada em filme, claro, com o auxílio das juntas de bois! – Eixe! Oi! Eixe! Que algazarra, naquele vaivém.
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- a mugiganga – muito tenho falado na mugiganga, ultimamente.
Além de outras situações, a saber mais tarde, também foi uma arte com saco longo, panda mestra, duas mangas ou asas (com bóias e pandulhos), calões e cabos.
Assim é apresentada em tamanho real, em suspensão, como sugere a imagem.
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Mugiganga
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- a tarrafa, a outra, não «a dos ílhavos». Pode confundir. Ei-la, em suspensão:
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Tarrafa
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- o salto ou parreira – para a tainha – deu-me que entender como poderia ser representada. As redes, quer singeleiras, muito compridas, no sentido da rabeira, quer os tresmalhos, que formam o curral, todas enroladas. Sem varas, que constituem um elemento fulcral do salto. Só o esquema era compreensível, para quem já dele tinha uma noção.
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Salto ou Parreira
 
- a majoeira, porque é uma arte posta por um ou dois pescadores,   de emalhar, no mar, frente à nossa costa. Tão simples e tão curiosa!
E por aqui me quedo. Visitem e vejam o resto.
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Majoeira
Muito mais haveria que dizer. Mas, em vez de escrever, de rajada, enquanto bordejo o Tejo, fá-lo-ia durante toda a viagem!
De louvar a recolha de material, os registos sistemáticos junto de pescadores, quer sonoros, quer videográficos.
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Algures, entre Lisboa e Aveiro, 9 de Abril de 2014
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Ana Maria Lopes
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1 comentário:

Anónimo disse...

Não é que seja grande especialista,mas andava confundido com a designação de "tarrafa"para a das "ílhavas"...A que é mostrada nas imagens,de forma circular,de uso INDIVIDUAL,e lançada à água com um elegante gesto largo e rodopiante,era a que conhecia,cá e em África...O uso individual,e repetido até algum peixe "ca
ir ao engano" lembra-me (só nisso...)a pesca "à sartela"...
Cumprimentos,"kyaskyas"