sexta-feira, 19 de julho de 2013

Uma janela para o sal - III

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Lamas novas...


Marinhas que renascem do negro invernoso para o veraneio salgado…
Fundos enlameados, ainda salgados, encamisados e areados, são fundos de parcel ainda em limpeza, em preparação para a seca da estrangedura e para a cura.


 
São estes homens, marnotos, que labutam nos meios da marinha, entre sol e vento.

 
 
Que brilho é esse a teus pés, homem de sal, homem de lama? Que brilho é esse que te reflecte num mar de carvão? Ai tanto, para ganhar o pão...
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Com o teu ugalho, estranges o fundo ao parcel e repetes esses movimentos vezes sem conta, até que as lamas se vão, até que o chão endureça, seque e cure para receber a nova água que dará o branco cristal.
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Do negro do fundo ao branco profundo, vão dias, semanas, de lamas, de sol, de água e vento, de mãos e pés calejados…

 
 
Pés de criança, que puxa e repuxa o rodo de lama com força redobrada...
Já são tuas pernas e braços um instrumento de trabalho, e é entre areias, sal, lama e água, que moldas o teu corpo ainda tão tenro e curtes a tua pele aveludada.
 
 
 
Marnoto atento, caminhas pelo macho da marinha e regressas a casa já cansado, afeito ao trabalho, curvado pelo peso do ugalho – esse que já se tornou no prolongamento do teu próprio corpo.
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Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
 
Imagens | Paulo Godinho | Anos 80

30 | 05 | 2013

Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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4 comentários:

Maria Emília disse...

Sempre bonito o texto e as imagens! E vamos aprendendo...

Ana Maria Lopes disse...

Olá:

Obrigada, pela minha parte, Maria Emília. Bjinho.

etelvina almeida disse...

Era outro, o "salgado lagunar".... fica o saudosismo e as relíquias de um passado não muito distante..

etelvina almeida disse...

Obrigada Maria Emilia...
Este projecto nasceu do sonho de uma grande mulher da ria, a Drª Ana Maria.
Beijinho da Ria