Lamas novas...
Marinhas que renascem do negro invernoso para o veraneio salgado…
Fundos enlameados, ainda salgados,
encamisados e areados, são fundos de parcel ainda em limpeza, em
preparação para a seca da estrangedura e para a cura.
São estes homens, marnotos, que labutam nos meios da
marinha, entre sol e vento.
Que brilho é esse a teus pés,
homem de sal, homem de lama? Que brilho é esse que te reflecte num mar de
carvão? Ai tanto, para ganhar o pão...
-
-
Com o teu ugalho, estranges o
fundo ao parcel e repetes esses movimentos vezes sem conta, até que as
lamas se vão, até que o chão endureça, seque e cure para receber a nova água
que dará o branco cristal.
-
-
Do negro do fundo ao branco
profundo, vão dias, semanas, de lamas, de sol, de água e vento, de mãos e pés
calejados…
Pés de criança, que puxa e repuxa
o rodo de lama com força redobrada...
Já são tuas pernas e braços um
instrumento de trabalho, e é entre areias, sal, lama e água, que moldas o teu
corpo ainda tão tenro e curtes a tua pele aveludada.
Marnoto
atento, caminhas pelo macho da marinha e regressas a casa já cansado,
afeito ao trabalho, curvado pelo peso do ugalho
– esse que já se tornou no prolongamento do teu próprio corpo.
______________
______________
--
Nota – Para esclarecimento de
linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de
Diamantino Dias.
Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
30 | 05 | 2013
Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
-
4 comentários:
Sempre bonito o texto e as imagens! E vamos aprendendo...
Olá:
Obrigada, pela minha parte, Maria Emília. Bjinho.
Era outro, o "salgado lagunar".... fica o saudosismo e as relíquias de um passado não muito distante..
Obrigada Maria Emilia...
Este projecto nasceu do sonho de uma grande mulher da ria, a Drª Ana Maria.
Beijinho da Ria
Enviar um comentário