Entre céu e água...
Entre ria, mar e sol, o sal vem para
temperar e dar gosto a quem já, a gosto, aqui tem partilhado as suas
intimidades.
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Entre mar e intimidades, a salinidade dá-nos a medida dos sais e da saudade, do que outrora fora o
salgado da laguna: entre o alagado e a botadela;
entre a estação da safra e a da entressafra, em que o homem verde e
tenro se torna maduro e duro; tisnado pelo sol, pisando o «ouro branco» que o
alimenta.
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Assim, vem o Marintimidades trazer «um
olhar poético sobre o sal», mensal. Vem temperado de discurso, legendagem,
imagem e sentimento. Retrata momentos que marcaram uma época, uma gente e uma
paisagem. Foram mãos e pés que gretaram e braços que carregaram o tempero das
mesas portuguesas.
Paisagem retalhada de janelas e
postigos, entreabertos para o céu, esse céu que se reflecte nas vidraças já embaciadas
pelo tempo e alagadas pela água salobra ou enlameada. Outros tempos…
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A mão do Homem retalhou a temperada
paisagem do salgado lagunar: do simétrico ao assimétrico, entre água, lama e
vegetação, «desenhou» as marinhas com seus meios,
cabeceiras, talhos, sobre-cabeceiras e algibés, sem régua nem esquadro.
Fê-lo apoiado na sabedoria de gerações e com alma de marnoto.
Fê-lo apoiado na sabedoria de gerações e com alma de marnoto.
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São muros,
são muretes, são defensões para as marés, são traços desenhados por mãos calejadas,
mas sábias. Tal como o arquitecto desenha em estirador, esse mestre e artista
desenha em água, em areia e em lama.
O nosso olhar aproxima-se e penetra nas
profundezas da água da laguna, baixas e transparentes.
Ao longe avista-se a serra.
Aproximamo-nos da cidade – silhuetas recortadas de casario urbano, água e
lamas, caminhos e muros serpenteiam, palheiros e árvores indiciam presença
humana, retalhos geométricos pintalgados de «cones» brancos – é tudo o que a
vista alcança!
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Nota - Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
Imagens | Paulo Godinho | Anos 90
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10
| 05 | 2013
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Texto
| Etelvina Almeida| Ana Maria Lopes
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6 comentários:
Na conta!!! Nem mais nem menos!
Tempero suficiente para um texto muito bem conseguido e com ilustrações maravilhosas.
Parabéns.
As palavras são como o sal, adicionado qb, são sempre saudáveis.
gostei bastante...
vou seguir entretanto e deixo um convite, visitem também:
http://gostosesaberes.blogspot.pt/p/fotografia.html
fazer um blogue é relativamente fácil, alimentá-lo é que é um pouco dificil, felicidades
Acácio Moreira
Eventualmente o desemprego e a crise as revitalizem... Mas vai ser impossível termos outra vez os anos 50, 60 e 70… Como já tivemos oportunidade de trocar impressões no MN há uns tempos, foi um crime o Estado deixar de lado os Planos de Fomento, neste caso o do Vouga. A ver vamos.
Apesar das fotografias terem saído da minha objectiva, pareceu-me este texto enriquecê-las de uma forma que não previa. E isso levou-me a escrever este comentário para tentar enriquecê-lo mais ainda.
Bons velhos tempos, aqueles em que tive oportunidade de entrar num "avião" ultraleve e voar quase como uma gaivota sobre tais janelas entreabertas.
Lembro-me de ter pensado como uma dessas aves errantes, como nós, habitantes do mar e da terra, mas que só no mar encontram o seu sustento e deleite: Que belo é … olhar para onde a ria acaba e a terra começa!
Que lindas cortinas de algas e que janelas saborosas as ostentam, temperadas a gosto, que só o Criador contempla, como se da Sua casa de tratasse. Certamente estará furioso e arrependido de as ter confiado a tal descuidada geração, ávida de lucro a qualquer preço, que nem a própria casa consegue zelar.
Bem-haja, ao menos, quem nos mostra que há outro mundo para além do rebuliço desconcertante do dia-a-dia atarefado. Sorte têm aqueles que o descobrem e dele desfrutam, neste caso com todos os sentidos, incluindo o paladar!
"UMA JANELA PARA O SAL"
Abrimos esta "janela" e olhámos através dela.
Revimos esse salgado lagunar que nos conta e relembra outros tempos - os de outrora...
Queira a Natureza providenciar o "tempo" para que o sal se produza e assim, mensalmente, traremos o nosso olhar a quem aprecia estes "temperos" visuais e escritos, com gosto...
Traremos o sal, o "nosso" sal lagunar.
Desfrutem!
Uma nota:
Quero expressar o meu sincero agradecimento à Drª Ana Maria Lopes pelo convite formulado, para este eloquente projecto - "uma janela para o sal" - e ao fotógrafo Paulo Godinho, pela confiança que depositaram em mim.
Sinto-me privilegiada por poder tecer e expressar algumas palavras e sentimentos espreitando por essa "janela" aberta para o "sal" de outrora.
Sinto-me honrada na companhia de tão conhecedora e apaixonada mulher, que fala e sente as/sobre as coisas ligadas ao mar e à ria, às embarcações e às artes, à museologia marítima e ao salgado lagunar.
Com ela aprendo, partilho, e saboreio esses tempos idos...
E é através dessas imagens, desses registos magistrais, fruto de um olhar atento, feitos nesse glorioso tempo, que "labutamos" pela marinha em época de preparação, de "botadela" e de safra...
E é com esse sal que adicionamos o tempero, q.b., conforme comenta João Afonso, às palavras e imagens que o retratam...
Bem hajam.
Etelvina Almeida
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