A
nossa terra foi em determinadas épocas, e os primeiros anos da década de 40
foram uma delas, assolada por terríveis naufrágios que deixaram casas com
pobres famílias na orfandade. Mais morte… por Ílhavo, em consequência de
naufrágios? É mesmo o que queremos dizer.
Perante
uma notícia vaga, vinda de St. Jonh’s da Terra Nova sobre o desaparecimento do
vapor Catalina, reinou a tristeza, a
comoção e a ansiedade, nesta nossa vila maruja – relata O Ilhavense de 1 de
Fevereiro de 1942. O brutal acidente
do Maria da Glória, do Delães, em 1942, do Santa Irene, do Pádua, em 1943, e tantos mais, encheram páginas
dos jornais.
A
tripulação do Catalina era de 18
homens, dos quais, dez eram ilhavenses, a saber:
José
Fernandes Matias, imediato, João Nunes dos Santos (o Silveira), piloto, Manuel
Pereira Lamarão, contramestre, Tomé dos Santos Panela (o Romeiro), Manuel São
Marcos, Luís Francisco da Madalena, António Ferreira Carrapichano, marinheiros
e Ângelo Ferreira, ajudante de cozinheiro e João Francisco Bichão, moço de
câmara.
O
Catalina tinha saído do Porto para a
Terra Nova, onde ia buscar bacalhau frescal. O seu comandante, nosso
conterrâneo, Sr. José Francisco Bichão, adoecera, tendo recolhido a um hospital
local. O imediato, José Fernandes Matias (o Cajeira) ocupou o comando do navio,
tendo saído de Fortune Bay a 14 de Janeiro – não mais houve notícia dos nautas
e seu navio. Temporal, icebergs,
consequências da guerra?
O
Catalina, juntamente com o Ourém, pertenciam a uma empresa de
navegação com sede no Porto, C. A. Moreira & Cª., Lda., utilizados no serviço
comercial, com destino à Terra Nova, Islândia e Groenlândia. Paralelamente,
escalavam portos no norte da Europa com eventuais viagens para Cuba,
assegurando o transporte de açúcar, para os portos nacionais.
Ex-Kilkeel,
ex-Falconer, o Catalina tinha um
comprimento fora a fora de 55, 50 metros, 9,08 de boca e 4, 70 metros, de pontal.
Eram muito raras, senão inexistentes, fotos do Catalina. Chegaram-nos às mãos (via Canadá) as duas que publicamos.
CATALINA
Fortaleceram
mais o desejo de postar a notícia de
há 70 anos, dando-lhe uma nova vida (ou morte), já que tanto de trágico teve a
ver com Ílhavo.
Em
site, muito mais tardio, é evidente,
mas fiável, tivemos conhecimento de que o navio fora torpedeado na posição 47º
15’N| 52º 15 ‘ W pelo submarino alemão o U-203, em 15 de Janeiro de 1942, quando de
viagem de Fortune Bay para St. John’s na Terra Nova. Não houve sobreviventes.
Fotografias
oferecidas por Aníbal Paião
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Ílhavo, 12
de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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5 comentários:
muito bom ...como tudo o que escreves
Boa noite Sra. Dra. Ana Maria Lopes. Penso poder haver uma pequena gafe no nome de José Fernandes Martins (Tripulação), logo no início. Não será, mais exactamente, "Matias"?
Cumprimentos,
T. Sacramento
Tempos muito difíceis!
Sr. Sacramento:
Muito obrigada. Ainda aqui tinha à mão todos os elementos em que me baseei. A letra era um pouco ilegível, mas, é, de facto, Matias.
Mais uma vez, agradeço a observação. Cumprimentos.
Neste navio desapareceu o pai do capitâo João Laruncho de São Marcos, conforme se pode ler-se no livro " Memórias de um pescador".
Ricardo Graça Matias
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