sexta-feira, 21 de junho de 2013

Regata de moliceiros - 2013 - Preparativos

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É sexta-feira, não 13. Mas dia 21. Era suposto ter começado o Verão. Uma nortada fresca! Eu estava inquieta e ansiosa…Pensava na anunciada Regata de Moliceiros, a realizar amanhã e domingo, já prevista com versões diferentes, integrada num evento de nome pomposo e sonante «Ria de Aveiro Weekend». Não seria melhor aproveitar o espectáculo dos preparativos, que, por vezes, são o melhor da FESTA?
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Não me contive. E eis-me a caminho da Torreira, praia do Monte Branco, junto ao Estaleiro-Museu, onde trabalha o Mestre Zé Rito. Actualmente, é lá o melhor local para sentir a véspera da festa. Quem vagueia pela ria, sabe-o.
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Há pessoas de boa vontade, há manobras, há barcos, inseridos numa paisagem deslumbrante e envolvente!
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Mestre Zé Rito, na sua fácies simpática e risonha, ultima o seu moliceiro, que ficou para o fim. Estava carenado. Três gerações entreajudam-se e colocam-no na posição normal, para ser aparelhado.
 

Carenado…

 
Oxalá que a geração mais nova se interesse pelas embarcações, que os mais velhos tanto prezam.
E três rapazotes conduzem o mastro do ZÉ RITO.
«Força, carago! Botem-no em cima do xarolo, para o poisar no traste, para o apontar na coicia».
Agora, vão os cabos.

É este o verdadeiro espírito da ria. O mestre, de plaina em punho, aguça o mastro na ponta, fá-lo passar pelo buraco do traste e, eis que, em uníssono, coadjuvado por outros, o enfia, com esforço, mas sabedoria, na dita coicia.
Está firme. Vai ser calçado e ajustado.
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Fogo, é pesado! – reclamam! Não soa bem assim, mas de forma idêntica.
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O Ti Zé Revesso, miúdo, magrote, de olho azul desbotado pelo sol, de pele engelhada, conhecedor, de calça arregaçada, lastima-se:
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– Será que bão deixar morrer tudo? Aquase metade dos barcos que bão correr amanhã, estão aqui.
– Olhe, diga-me, que idade tem? Está tão ligeiro e tem tanta força…
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– Digo só à Senhora, para os outros num oibirem. Tenho 37. Percebe? Isto dá saúdi. Bou todos os anos ao Canadá, mas, passados 15 dias, já estou doente. Mesmo que eu lá morra, quero bir para cá.
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O seu barco há-de ser pintado todos os anos, até poder. E foi. E mostra-mo enlevado, pintadinho de fresco, o A. RENDEIRO.
  

O Zé Manel e o pai ultimam…


Disso se encarregou O Zé Manel, o conhecido pintor da ria, que a todos acode. Mas, o tempo foi pouco. Pai e filho também o ajudam a finalizar as tarefas artísticas.
Perguntam-me a opinião e eu participo na conversa.


Proa de BB

Perdi-me na imensidão da paisagem.
Esqueci-me do mundo, das crises, das maleitas, dos exames e quejandos.
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Bebi sofregamente a imensidão do céu, salpicado por novelos de nuvens translúcidas, brancas e acinzentadas…
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Bebi sofregamente a imensidão da água agitada por um ventinho norte, bem puxado, que a «marola» …
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Fotografar, procurar o melhor ângulo, recolher informação, reunir o maior número de proas e de rés, em tão poucos barcos…foi minha intenção.
Para os tempos que correm, quatro moliceiros tradicionais juntos é uma mão cheia deles.
Que prazer! As águas que enchiam, no seu chape-chape, lamberam-me as botas.
Sentei-me num paneiro, na areia, à revessa, a secá-las.
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E a pensar…Não há objectivas, por mais potentes que sejam, que captem tanta beleza!
Ao longe, da esquerda para a direita, a policromia do cais dos pescadores, a Ponte da Varela riscada no céu, as serranias delineadas no horizonte, em que o casario longínquo sobressai, serviam de cenário a embarcações manobradas à vara, para se encaixarem e alindarem para a festa.
 

Encaixe de proas e rés…em manobra


Não tinha vontade de regressar. A hora crepuscular e o vento obrigaram-me. Desejei ser Raul Brandão, mas não fui bafejada com tais dotes descritivos e poéticos.

Grande GENTE e grandes BARCOS!!!!!!!!!!!!


Efeitos...
 
 
 

Imagens – Recolhidas, hoje, pela autora do blogue
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À beira-ria, 21 de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:

etelvina almeida disse...

Magnífico!
É isto que nos alimenta a alma.
Lá passei na quinta-feira, dia 20 de Junho de 2013, como costumo fazer todos os anos, e foi um pouco do que vi e a Drª Ana Maria aqui descreve de forma tão bela.

E é o que resta dos barcos moliceiros, mas que esta gente zela com carinho redobrado, com amor, atrevo-me a dizer: desde o mestre zé Rito e outros construtores, passando pelo pintor até aos proprietários e amigos.

Preservemos o que resta, por favor!

Abraço da Ria.

Etelvina Almeida

Maria Emília disse...

Que maravilha poder assistir a estes entusiásticos preparativos! Obrigada Drª Ana Maria pela partilha!