Alguns
posts ficam em banho-maria durante largos tempos. Outros se lhes adiantam.
Afazeres…prioridades…razões diversas. Com o início do ano, temos estado a
tentar arrumar a casa para ver o que anda por aqui «a boiar».
E
o lugre-motor Otelina, com curta, mas
dramática existência, é uma dessas histórias. Há cerca de dois anos, ao
digitalizar umas imagens, duas, identificadas, e de familiar de pessoa
conhecida, chamaram-nos a atenção. Nada sabíamos do navio em causa. Se
pudéssemos procurar algo?…e assim fizemos.
Segundo
O
Ilhavense da época, com um calor tropical, foi lançado à água, num
domingo, dia 22 de Julho de 1944, na
Gafanha da Nazaré, o lugre-motor Otelina,
construído no estaleiro do Mestre António Maria Bolais Mónica, para a Sociedade
de Navegação Veloz, Lda., com sede em Aveiro.
A
nova unidade, para 12 tripulantes, dotada de todos os equipamentos próprios,
tinha três mastros, deslocava cerca de 300 toneladas, possuía um motor de 240
cavalos, media, de comprimento fora a fora, 39 metros, de boca, 8,45 m e de pontal,
3, 67 metros.
À espera do grande momento…
Amadrinhou-o
a Sr.ª D. Otelina Mónica, filha do
construtor, como mais tarde soubemos. A amarra foi cortada pelo Capitão do
porto de Aveiro, Comandante Almeida Carvalho.
Quando
o Otelina entrou nas águas da nossa
ria, o cenário foi o habitual – enorme multidão, muitos aplausos, longos vivas,
estridente foguetório, agudas sirenes e acenos com lenços e chapéus.
Já flutuava, embandeirado em arco…
Lá
se quedou na água amena por uns tempos, até que todos os seus acabamentos
tivessem lugar, para partir para a primeira viagem!
Deus
o proteja! – ouvia-se em surdina.
Mas,
não protegeu por muito tempo, na sua curta vida.
Secundada
por pessoa amiga, consultámos, de novo, o nosso Jornal de 1 de Outubro de 1945.
Refere
que, no Brasil, quando ia em viagem para o Pará, naufragou à entrada do rio
Amazonas, com forte agitação de mar, o lugre Otelina, a 21 de Setembro de 1945.
Como estava a operar no «tráfego de longo curso», estaria a transportar todo e
qualquer tipo de mercadorias. Durou um ano, o Otelina.
Era
comandado pelo ilhavense Manuel Pereira Ramalheira, nascido a 1893.
Salvou-se
toda a tripulação, com excepção do piloto Joaquim
Marques Machado, nascido a 1879, segundo consta da sua ficha do Grémio.
Sempre que possível, gostamos de fazer estes confrontos, que nos permitem
certificar mais elementos.
Ficha do Grémio
E
por lá ficou o Otelina, lançado à
água, no meio do maior júbilo, há pouco mais de um ano. Mar é mar…há ir e
voltar. Mas, nem sempre se voltou. Joaquim Marques Machado não voltou. Ílhavo
bem o sabe.
Imagens
– Arquivo da autora do blogue
Ficha
do Grémio gentilmente cedida pelo MMI
Ílhavo,
12 de Fevereiro de 2013
Ana Maria Lopes
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5 comentários:
Desta, se calhar nem o João David sabia !!!
Muito bem. Procure lá no fundo do baú, que deve haver mais história para contar.
Bem haja!
JR
Boa dia caros amigos,
É claro que o João David sabia, talvez sem todos os detalhes agora apresentados, que nem eu sabia.
Mais um excelente trabalho de pesquisa sobre a frota aveirense e ainda melhor documentado com duas fantásticas imagens.
Muitos cumprimentos a ambos,
Reinaldo Delgado
Caro Amigo:
Obrigada pela atenção, mas não acredito que haja aí nada que o Senhor não saiba.
Não será muito conhecido, o Otelina, não!
E tive sorte em «pescar» as imagens! Fizeram com que pesquisasse o resto.
Parabens,mais uma vez, pelo excelente trabalho .HÁ TEMPOS QUE PROCURAVA UMA FOTO DESTE PEQUENO NAVIO DE 284 TONS BRUTAS e que esteve aqui nos Açores , em Ponta Delgada para tomar gasoleo, que aqui abundava nos depositos da Bensaude e que era dificil de obter nos portos do continente devido aos racionamentos da guerra.Esteve cá a caminho do Para,Brasil e impressionou o meio maritimo local por ser tao pequeno para essa derrota de 3000 milhas e parecer uma "talhada de melancia", pelo abauladoo da proa e popa,no dizer de um velho lobo do mar, hoje com 86 anos
Os navios de carga construídos em madeira, durante a II guerra mundial, não se revelaram muito robustos com o Atlântico mais revolto; lembro-me do Marianela que naufragou perto da Bermuda, exactamente semanas após escala de reabastecimento em Ponta Delgada, o Vilas Boas , afundado como Cova da Iria, O Efalmeida etc.
João Moura
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