domingo, 10 de fevereiro de 2013

Irreversível ausência

 
Fora de época, mas intemporal!
 




Sala aconchegada e aquecida. Fogueira crepitante e avermelhada. Em volta da mesa primorosamente decorada, sentadas em dez cadeiras, três gerações saboreiam a ceia de Natal – o tradicional bacalhau cozido, peru recheado assado, frituras da quadra, doçaria regional da época e goles saborosos de um néctar precioso, fresco e espumante. Todos conversam. Sorriem. Pensam. Entreajudam-se. Colaboram. Entre eles, uma mulher com vestígios de quem foi bonita, de rosto enigmático, vestida de preto e vermelho, revê-se nas crianças. Ouve uns trinados de guitarra dolente e, ao longe, o murmúrio plangente do mar. Mas, a sua mente pensa e soluça em silêncio, num pranto disfarçado. No seu espírito, um lugar ficou vazio na mesa e o dono não mais voltou. Será que está perto? A quem pertenceria?


Foto – Gentil cedência de TCS


Ílhavo, 24 de Dezembro de 2012/ 10 de Fevereiro de 2013



PS. Domingo de Carnaval, triste, ventoso, frio e cinzento, presta-se para recordar, divagar e ensaiar. Não, não troquei o calendário, a vida é que me trocou as voltas.



AML
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1 comentário:

etelvina almeida disse...

Belíssimo texto.

Ao redor de uma mesa, tudo se passa, tudo se expressa, tudo se vive e recorda, mesmo em estado de presença ausente...

São momentos da nossa vida!

Beijinho!