terça-feira, 6 de novembro de 2012

O encalhe do lugre Neptuno Segundo

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Na senda de alguns navios e não foram poucos que encalharam à entrada da barra de Aveiro, também tive conhecimento do acidente do Neptuno II, mas porque não consegui imagem, foi ficando, foi ficando para trás, até hoje…que vem a lume.
O que se passou, então?
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Valendo-nos do jornal O Ilhavense de 20 de Outubro de 1948, ficámos a saber que o lugre Neptuno II, de regresso da pesca do bacalhau, em 16 do corrente mês, rebocado pelo vapor Neiva, ao passar na pancada do mar, bateu num baixio, partindo-se a amarra que o ligava ao rebocador.
 
Feitas manobras de emergência, o Neptuno entrou o porto impelido pela corrente de água e foi parar a uma restinga, do lado do canal que vai para S. Jacinto. Não houve acidentes pessoais.
 
Depois da descarga de algum peixe, e quando o navio começou a aliviar, as bombas acusaram água no porão.
A descarga foi sendo feita com regularidade, mas imaginou-se que o navio teria um rombo no costado, tendo-se safado na maré da tarde do dia 22, e ancorado já na Gafanha.

 
 
Embora o jornal Comércio do Porto de 17 de Outubro de 1948 (acima) noticie que o navio poderia ser salvo, sabemos que a vistoria que, entretanto, a autoridade marítima fizera ao casco, considerara o navio inavegável, o que o obrigou ao abate e desmantelamento.
 
O navio de madeira Neptuno, de três mastros, tem uma longa história para contar.
O amigo Reimar, que colabora comigo, sempre que me vejo atrapalhada nestas barafundas marítimas, enviou-me, passados uns dias de pesquisa, um histórico do navio, «de luxo».
 

Dele respiguei aqueles pontos que imagino que os meus leitores apreciem mais, embora lhe esteja extremamente grata por todos os preciosos dados que me forneceu.
O lugre Neptuno Segundo construído em Vila do Conde, pelo mestre construtor Manoel Gomes Rodrigues, em 1873, como patacho, foi baptizado com o nome Mariana 1ª, com cerimónia de bota-abaixo no dia 9 de Setembro, ficando matriculado na Capitania do Porto de Lisboa.
 
Sem se conseguir identificar o armador, o patacho Mariana 1ª devia fazer parte duma frota que incluía a barca Mariana 3ª, o patacho Mariana 4ª, a galera Mariana 5ª, a galera Mariana 6ª e a barca Mariana 7ª, daí poder concluir-se pertencer a firma de considerável dimensão ou proprietário abastado.
 
Depois de alguns saltos em listas de navios portugueses até ao ano de 1897, o patacho ainda com as mesmas características, foi transferido para a Parceria Geral de Pescarias – ano em que deve ter efectuado a primeira campanha ao bacalhau, embarcando 32 tripulantes com 29 dóris.
 
Na lista de navios de 1925, o navio manteve ainda os mesmos atributos, julgando ser fácil averiguar na documentação dos Mónica, a grande reparação e transformação do navio para lugre, que teve lugar na Gafanha da Nazaré, em 1926. Depois da reconstrução nesse ano, mudou de nome para Neptuno Segundo, alterando a mastreação e as características. Efectuou uma nova matrícula em Lisboa, durante 1927, ano em que foi avaliado em 480.000$00 escudos, passando a navegar com os seguintes detalhes principais:
 
Nº Oficial: «357-F» – Indicativo internacional: «H.N.P.S.» – Registo: Capitania do porto de Lisboa
Arqueação: Tab 243,80 toneladas – Tal 170,50 toneladas.
Dimensões: Comprimento entre perpendiculares, 36,72 metros – Boca, 7,90 metros – Pontal, 3,82 metros.
Propulsão: Continuou a navegar à vela.
Navio com três mastros com proa de beque e popa redonda.
 
Em 1934 actualizou o indicativo internacional e em 1939 foi vendido à Empresa de Pesca de Portugal de Ílhavo, pela quantia de 245.000$00 escudos. Em datas posteriores, o lugre ficou matriculado inicialmente com o nº oficial «G-395» e depois «LX-7-N», em 1944.
 
Após 1934, embarcaram nele os seguintes capitães, alguns deles muito conhecidos na «nossa terra»:
 
Adolfo Simões Paião Júnior (1934 a 1936), Augusto S. Labrincha (1937 e 1938), Manuel Lourenço Catarino (1939 e 1940), António Andrade Rainho (1941), Samuel H. Damas (1942), Mário Paulo do Bem (1943), Manuel Paulo do Bem (1944), José Silva Rocha (1945 e 1946), Luiz Capote Teiga (1947) e José Simões Negócio, 1948, ano em que encalhou.


 
Em tempo da Segunda Grande Guerra, na época dos comboios

 

Fotografia – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 6 de Novembro de 2012

Ana Maria Lopes
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