sábado, 5 de novembro de 2011

O Barco Mercantel ou Saleiro - 2

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À medida que o barquinho ia crescendo, a minha caixa de memórias deixava escapar lembranças que nem eu sabia que lá estavam guardadas.
 
Primeiro apareceram os barcos da passagem da Bestida para a praia da Torreira. Como os recordava grandes e altos que até me faziam pôr em bicos de pés a espreitar por cima das falcas para ver correr a água! Depois vieram as viagens à Senhora das Areias em São Jacinto, nos barcos do Sr. Henrique Ramos, com música, cantadores e muitas cestas com merendas.
 
Entretanto, também lembrava os que chegavam cheios de cacos de telhas e de tijolos das fábricas de Aveiro, para descarregarem ao longo das secas da Cale da Vila desde os estaleiros até ao esteiro do Oudinot. Foram eles que pavimentaram o que seria a marginal limitada pela muralha que chegou depois, feita com pedras que os mercantéis igualmente iam buscar algures lá para o norte.


Mas, havia ainda o torrão e o saibro com que os lavradores da Marinha Velha e da Cambeia fizeram dos caminhos de carro as estradinhas, que hoje são algumas das ruas da cidade da Gafanha da Nazaré.

Eram igualmente estes barcos que os descarregavam ao longo da borda nos locais das margens da Ria onde podiam chegar os carros de bois.

Para todos os lados se avistavam os mercantéis, incansáveis trabalhadores da Ria. À vara, à vela e até à sirga, acarretavam tudo o que era necessário à vida dos povos que cercavam este grande espelho de água e que para seu uso diário os idealizaram e construíram.


À vela, à sirga ou à vara…


Esguios e fortes, mas ágeis e bons de vela, quando governados pelas mãos práticas dos seus arrais, sulcavam não só os esteiros das salinas, mas ainda os estreitos canais da cidade.
 
Sem dúvida, era no trabalho das marinhas, carregando o sal que lhes deu o nome, que melhor se identificavam e se embelezavam com aquelas cargas cintilantes.



Postal – Ao serviço do sal…



Nasceram com esta missão específica e foi durante a faina da descarga do sal, feito pelas salineiras no canal de S. Roque, que os olhos perspicazes dos artistas os imortalizaram em telas por todos conhecidas.


Óleo de Cândido Teles


Foram estas memórias que fui revivendo durante as horas da construção do modelo que me fizeram ver como era notável a dignidade que transparecia desta embarcação. Não era vistoso o seu aspecto, mas irradiava segurança, força e altivez.

Na verdade foi um senhor da nossa Ria.

As suas medidas principais eram:

Comprimento……………..18.00 metros
Boca…………………....…..03.28 m
Pontal……………………...00.73 m
Escala………………………1/25

30.9.2011

António Marques da Silva


Imagens – Da autora do blog

Ílhavo, 5 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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1 comentário:

Anónimo disse...

Na década de 50,num daqueles passeios que se faziam a S.Jacinto,tive a oportunidade de empunhar e manejar a vara para vencer o canal do "triângulo"junto ao Forte.(velas em baixo,claro...)Actividade que,pelo amadorismo,me custou uma escorregadela e umas esfoladelas no joelho...Belos tempos!,,,