segunda-feira, 16 de maio de 2011

O lugre Maria das Flores - o desencalhe - 3

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As contrariedades e complicações continuaram: dificuldades em pessoal, especialmente e concretamente do que movimentava a areia.
As indicações das calas (profundidades) da ria, apesar de terem sido calculadas por um suposto perito e prático, não foram, de início, as mais correctas.

As manobras apresentavam-se muito difíceis e com muito poucos resultados à vista.
O processo ia sendo repetido, mas as condições de avanço eram sempre diminutas, com um grande desgaste dos trabalhadores, acidentes pessoais, bastante mau tempo, perda de material e muitas avarias.

Curiosidade – Apesar de hospedados na Pensão Costeira de Pardelhas, compraram-se dois colchões, quatro mantas e cabeceiras de palha, para se poder dormir a bordo e estar presente ao trabalho, quando necessário, por 969$00.

Algumas autoridades, por vezes, visitavam o local para observação dos trabalhos e exultação dos ânimos.
Tornava-se cada vez mais árduo ir descarregando os batelões, devido à muita altura para a areia ser descarregada à pá.

Vento fresco de noroeste e maré desfavorável fizeram interromper os trabalhos.

Testadas as dragagens, referenciadas as marcas do calado, revisto todo o escoramento e estropos, insistiu-se no processo e assim ia avançando o Maria das Flores, de 30 em 30 metros, de 60 em 60 metros, até que no dia 12 de Abril, se deslocara cerca de 200.

A dragueta da JAPA continuava a dragar junto à Ribeira de Pardelhas.
Tempo de aguaceiros e vento de refregas de W NW, com frequência…

A 20 de Abril, sábado de Aleluia, a tripulação do navio foi autorizada a ir a casa passar a Páscoa, ficando a vigilância do navio, estropos e escoramentos, a cargo dos rapazes da AGPL.


Aspecto lateral do conjunto


Curiosidade – Veio a bordo uma senhora fotógrafa de Estarreja, que tirou algumas fotografias ao navio.

Se não fosse este procedimento, talvez, hoje, nem uma imagem houvesse desta aventura – um primor de engenho.

Devido a grande avaria na draga, os serviços só foram retomados a 26 de Abril.
Perante uma tentativa de paragem de trabalho do pessoal das barcas que conduziam as lamas, por cansaço excessivo e falta de pagamento de horas extraordinárias, foi necessário fazer ver ao pessoal a gravidade da situação, com promessa de gratificação, depois de safo o navio.


Sempre com muitas interrupções devido às marés inadequadas, ao frequente mau tempo e a avarias no material, lá o Maria das Flores, foi avançando em direcção à Gafanha da Nazaré.

Pelas 15 horas do dia 29, chegaram as lanchas a motor, Mina e Gafanha, dos estaleiros de S. Jacinto, que juntamente com a da Junta Autónoma, colaboraram no trabalho.


Saída do Maria das Flores do Bico da Murtosa


Curiosidade – Na noite de 30 de Abril, por estarem totalmente molhados, mandaram vir de Pardelhas um automóvel para conduzir a equipa técnica à pensão, voltando a utilizá-lo no dia seguinte para o regresso ao Bico da Murtosa.


Pelas 16, 45 h do dia 2 de Maio, chegou junto do navio o rebocador Vouga, que lhe passou o cabo de reboque. A chegada à Gafanha deu-se pelas 9 h do dia 3, tendo-se seguido a amarração, frente à Delegação da CRCB.

Procedeu-se então, com todo o cuidado à desmontagem do sistema, que incluía os batelões, tendo sido estes, despachados para Leixões.

A 5 de Maio, depois da desmontagem e arrumação de todo o material, ficou o navio liberto, para poder seguir viagem para Lisboa, em conformidade com as exigências legais recomendadas pelas autoridades marítimas.
Depois de vistoriado, do recebimento de tanques, de vários equipamentos (dóris) e da matrícula da tripulação, o navio lá esperou que o mar abonançasse para seguir o seu destino, a reboque do Oceania.

A 23 de Maio, no final do “Relatório dos serviços prestados no levantamento do lugre Maria das Flores na Ria de Aveiro, do Bico da Murtosa para a Gafanha”, a equipa de trabalho agradece a diversas entidades e instituições:

- Capitão do porto de Aveiro, Comandante Duarte de Almeida Carvalho;
- Junta Autónoma da Barra e Ria de Aveiro, na pessoa do Eng. Manuel Matias;
- Piloto-mor da Barra e Ria de Aveiro, Capitão Samuel Maia.

Concluem que a abundante chuva que esteve ocasionou uma apreciável subida das águas, o que muito contribuiu para o êxito do empreendimento.

Não vos faz lembrar nada esta história? E por que não o salvamento da Nau Portugal, em menor dimensão e com menos espavento?
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(Cont.)

Ílhavo, 16 de Maio de 2011
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:

João Reinaldo disse...

Já temos o navio a flutuar!...
Já estou mais descansado.
Bom trabalho.
JR

Anónimo disse...

Vejo,no texto,uma referência ao eng,Manuel Matias,da J.A.R.B.A.Quando se começou a fazer a nova Ponte da Barra,ouvia dizer que "o Eng,Matias,em Lx,era o "pai"da nova ponte.E que o pequeno vão do lado do mar se destinava a reconstituir a "estrada velha da Barra",que passaria por esse vão...Teria sido engraçado...
Cumprimentos,"kyaskyas"