Já que tivemos a oportunidade de atravessar o Canal do Boco da ria de Aveiro, que banha as traseiras da Vista Alegre, visitemos, hoje, uma feira dos 13, em 1935, através de quatro fotografias que são um documento.
O Bispo D. Manuel de Moura Manuel terá desenvolvido junto da Coroa e apoiado o despacho de D. Pedro II da Feira Franca da Vista Alegre, que, na prática, foi reduzida a feira mensal, instituída todos os dias treze de cada mês. Foi, pois, a 15 de Junho de 1693, que foi estabelecido o alvará da Feira dos Treze, também conhecida pela feira do Bispo, a pedido do povo e autoridades de Ílhavo.
A importância desta feira como centro dinamizador das trocas na zona, trazendo até nós populações vizinhas e até estrangeiras, foi de uma importância enorme para a fixação de populações. Tornou-se numa das feiras mais movimentadas da época, onde se vendiam e procuravam o sal, produtos agrícolas, gado, lenha, peixe, cereais, etc.
Aceder-se-ia a ela, através dos parcos meios de transporte da época, não menosprezando, de modo algum, o acesso lagunar, para várias populações ribeirinhas.
Hoje em dia, a feira tem pouco em comum com a realidade de outros tempos: antigamente os feirantes chegavam de véspera, bebiam vinho verde, comiam castanhas assadas e variados petiscos; dançava-se e cantava-se desde o alvorecer. O mês mais importante para a realização da feira era, e ainda é, o de Novembro, coincidindo com o dia de S. Martinho.
Ainda hoje se realiza, apesar de ter perdido o carácter de acontecimento social. Era uma das mais movimentadas da época.
O próprio movimento em Espinheiro, em dias de Feira, era notório; hoje, o dia nem lembra.
Comecemos pela imagem dos barros, junto à Ria, de oleiros que vinham da zona de Ovar, e que ali tinham umas características e toscas barracas, onde deixavam muito material em barro, de umas feiras para as outras – vasos, alguidares, bacias, púcaras, cântaras, bilhas, jarras, assadores de castanhas, buzinas, etc.
Os panos pendurados em arco…
Os compradores procuravam os tecidos que mais lhes agradavam, regateando preços, para comprar o melhor possível.
Os panos pendurados em arco despertavam os olhos arregalados das freguesas. As imagens apresentam um verdadeiro figurino de época: xailes grosseiros e rudes, pela cabeça, atados à cinta, suportados aos ombros, caídos, traçados à frente ou passando por baixo de um dos braços, com a ponta encavalitada no ombro oposto.
(Cont.)
Ílhavo, 10 de Abril de 2010
Ana Maria Lopes
2 comentários:
Gostei de ler esta descrição. Sou descendente de alguns desses oleiros de Ovar que refere. Eu próprio fiz essa feira muitos anos, a partir aí de 1967 e até ao início da década de 80. Foi precisamente o desmanchar das barracas que acelerou o fim da nossa participação na feira. Durante muitos anos o transporte era feito por barco (não sei se chegou a ser feito em carros de bois) e mais tarde em camioneta. Aí encontrava algumas pessoas da minha família, que está espalhada pela zona de Ílhavo, Vagos e Gafanhas, e, tirando a necessidade que tinha de nesse dia me levantar muito cedo e almoçar muito tarde, gostava de ir à feira dos 13.
José Regalado
Ovar
Sr. Regalado:
Curioso comentário! Muito obrigada!
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