Faz hoje dez anos, dia 19 de Outubro, que, pelas 3. 30 h da madrugada, um cargueiro de grande porte, com bandeira dos Barbados, encalhou na praia de S. Jacinto.
O Courage, que transportava cerca de seis mil toneladas de bagaço e resíduos de palmiste, preparava-se para descarregar parte da mercadoria no Porto de Aveiro; encontrava-se fundeado ao largo da costa e o incidente deverá ter sido provocado pelo mau tempo que se fez sentir e consequentes problemas técnicos.
O navio, de cerca de 114 metros de comprimento fora a fora, 17,68 m. de boca e 9,02 de pontal, com uma arqueação bruta de 4 715 toneladas e líquida de 2 981, construído em Uwajima, no Japão, em 1976, acabou por encalhar a 50 metros da praia de S. Jacinto.
Feita a chamada de emergência, as equipas de salvamento ainda aventaram a hipótese de salvar os seus dezoito tripulantes através de um cabo de vaivém, mas a forte rebentação impediu tal operação, acabando por se optar pela utilização de um helicóptero, cerca das 10 h da manhã. A tripulação foi salva em segurança.
E, agora, o navio?
Depois de uma primeira hipótese de poder ser rebocado e reposto a navegar, tal solução foi rapidamente posta de parte, pois houve dificuldades em contactar o armador e as condições climatéricas também não eram as mais favoráveis.E os problemas ambientais originados por qualquer derrame do combustível existente a bordo?
O comandante grego, Papapateras, descansou os jornalistas assegurando que o navio não tinha muito gasóleo a bordo e, que o que tinha, não apresentava qualquer perigo.
O pior é que, entretanto, com o decorrer dos acontecimentos, foi lançado o alerta de que o cargueiro estava em risco de se quebrar, o que veio a acontecer com a abertura de uma fenda a meio, na zona da carga e de um dos depósitos, o que motivou preocupações bem maiores e daí a necessidade de ser efectuado um plano de emergência.
Corre o risco de abrir fissuras…
Tudo a postos, disponibilizadas autoridades de emergência, de prevenção também alguns responsáveis da Reserva Natural de S. Jacinto, chegou a ser posto algum material antipoluição pela Direcção Geral da Marinha (tanques, bombas e aspiradores) em frente ao local onde o navio encalhou, tentando evitar os efeitos de uma eventual “maré negra”.
O previsto aconteceu mesmo e o navio alquebrou em dois.
Todos davam o seu parecer…achando que os impactos causados pelo eventual derrame de combustível seriam um pouco imprevisíveis. Teriam um efeito mais imediato, derramando-se sobre a areia? Far-se-iam sentir mais tarde, através da cadeia alimentar, com peixes com sabor a gasóleo? – foram as hipóteses mais imediatas.
Só me fui apercebendo, na época, que o assunto causou muita polémica, que foi noticiado, quer na imprensa, quer na televisão, durante anos, tendo-me chegado ecos, através do jornal Expresso, que, após 5 anos (1999), ainda permaneciam soterradas no areal 300 toneladas de destroços, visto que a operação de remoção não obtivera um sucesso pleno.
Nunca mais ouvi falar do assunto. Certamente porque o que se temeu na altura - riscos ambientais - se não concretizou.
Fotografias gentilmente cedida por Reinaldo Delgado
Ílhavo, 19 de Outubro de 2009
Ana Maria Lopes
3 comentários:
Boa noite.
Muito interessante ver este caso de apenas há 10 anos atrás, mas do qual não me recordava.
(Agora brincando), mas que desastre seria se aquelas 6.000 toneladas de bagaço entrassem no mar.
Países com mar e costa, nunca estão livres de encalhes, e seria bom que Portugal tivesse os meios para tratar destas possibilidades. Podem ser tragédias muito sérias, como o foi a do "Prestige" na Galiza, já bem perto de Portugal. Não sei se o assunto seria tratado da mesma forma como o foi pelos Galegos, com tanta prontidão e voluntariado das populações.
Como se diz na minha terra, "é livrar de acontecer".
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.pt
Os casos de naufrágios e encalhes fazem-me arrepiar porque os vivi.
O último, o encalhe do "Coral Bulker",semelhante ao que descreve, aconteceu no dia 25 de Dezembro de 2000, poucos meses antes de me reformar da pilotagem. Estava de serviço quando tal sucedeu e nos dias e meses seguintes constituiu um espectáculo visto por milhares de pessoas que dos mais diversos pontos da região e do país se deslocavam em romaria para ver as ondas batidas contra o costado galgarem o navio. Houve quem afirmasse que a Romaria d'Agonia tinha sido antecipada.
Boa tarde mesmo a tempo de ainda dar a minha opinião !
O navio encalhou ,vindo do ancoradouro normalmente a oeste do porto de Aveiro ,mas veio ao rola e com certesa com temporal ou ventos fortes ,e não deu tempo por isto ou aquilo de por as maquinas em funcionamento total !
Mas vir a praia e tentar salvar os homens com cabos de vai e bem e, com os helis ali encostados na base de Sao Jacinto !!!
Mais uma de arrepiar ,porque os homens ,não sei quantos foram salvos só as 10 horas da manhã por helicópetero !!!
É de supor que se fosse um barco de pesca ,morreriam todos como aconteceu com o claudio manuel ,perto da praia do mesmo e mais recentemente o luz do sameiro que a 50 metros da praia infelismente só escapou um homem !!!
É caso para dizer estamos super preparados para deixar morrer os homens mesmo na praia ,uma vergonha Nacional !!!
com os melhores cumprimeentos de Jaime Pião
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