segunda-feira, 22 de junho de 2009

De Altair a Vega e de Vega a Vaz



Num belo dia de pesquisas em Testa & Cunhas, já há uns anos, veio-me à mão, por lá, nem sei muito bem porquê, a sugestiva imagem, identificada, do lugre Altair. O Altair? Gostei do navio e da expressividade do nome – Altair, de origem árabe, significa "Águia voando" e é a estrela mais brilhante da constelação Áquila. Poucos dados…Há pouco tempo veio outra parar-me às mãos.

Percorridos os caminhos tortuosos habituais da pesquisa, opiniões encadeadas, monta-se mais uma vez um “puzzle”, que poderá ter alguma delicadeza, mas que creio que tem uma forte e segura dose de viabilidade.


Lugre Altair – sem data


Lugre de madeira de três mastros, foi construído por Manuel Maria Bolais Mónica, em 1918, na Gafanha da Nazaré, para a Companhia Aveirense de Navegação e Pesca. O seu lançamento à água foi em 25 de Março de 1918.
Nas campanhas de 1918 e 1919, foi seu capitão Fernando Domingues Magano e na de 1920, o Sr. Fernando Mathias.
 

Outra imponente imagem do Altair



Vendido à Companhia Portuguesa de Pesca do Bacalhau, em 1921, continua com o registo em Aveiro, mas altera o nome para Vega, outra brilhante estrela, sendo capitão das campanhas de 1921, 1922 e 1923, Júlio António Lebre.
Após a safra de 1924, é vendido à Sociedade Continental de Pesca, de Lisboa, alterando o registo para Lisboa, mas mantendo o nome de Vega.
As características não deviam diferir muito das que apresentava enquanto Vega: comprimento entre perpendiculares 35,70 metros, boca, 8,90 m. e pontal, 3,85 m; com uma tonelagem de arqueação bruta de 242,36 toneladas, não possuía motor auxiliar.
Foi capitão na safra de 1925 José André Senos (o Argau).

Também tinha gosto em editar esta imagem que me chegou às mãos, por via paterna, claramente anotada – Vaz – e tem razão de ser.

Lugre Vaz
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A fonte por onde normalmente começo é o Catálogo de A Frota Bacalhoeira, que explicita: - Vaz, lugre de madeira, ex-Vega, construído em 1918, por Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré.

Fechou-se o circuito: só podia ter sido o Altair, depois Vega, para acabar em Vaz.

Há umas ligeiríssimas diferenças na tonelagem e no comprimento, que provarão que o navio foi reconstruído, com o seu regresso à praça de Aveiro.
O Vaz, pertença de um primeiro armador, José Cândido Vaz, nos anos de 1928 e 1929, passou para a propriedade de Brites, Vaz e Irmãos, Lda., em 1930.
Foi seu último capitão, de 1938 a 1940, João Fernandes Parracho (o Vitorino), (n. a 28.3.1906), segundo confirmação da respectiva ficha do Grémio, já que o navio naufragou, com água aberta, nos bancos da Terra Nova a 31 de Agosto de 1940, não havendo conhecimento de vítimas.

Na última imagem, para os leitores mais observadores, é curiosa a ausência de estrada, que mais parece um estaleiro, e muito menos de avenida e de cais, junto à ria (anos 30).
Sobressai, em baixo, à esquerda, a ré de um mercantel, com o seu pujante leme. Vão-se os tempos, mudam-se os costumes, é caso para evocar!

Posteriormente, existiu outro navio de nome Vaz, já navio-motor, de aço, construído na Holanda em 1948, para a mesma empresa. Inicia a faina da pesca em 1949, efectua a última campanha em 1969, sendo, então, adquirido pela Empresa de Pesca Oceano, Lda.

Imagens – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 22 de Junho de 2009

Ana Maria Lopes
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1 comentário:

fangueiro.antonio disse...

Boa tarde.

Pois é só suspirar quando a Drª publica estas raridades. Mal vejo uma foto que desconhecia, a vontade de pôr mãos-à-obra e fazer um modelo volta a atacar. Diria que sobretudo é a vontade de ter visto um destes veleiros ao vivo, sendo tal hoje impossível. Teremos no entretanto veleiros em aço para contemplar.
Sempre agradecido à Drª Ana Maria pelas minuciosas buscas e fotos, muitas delas de encantar.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt