segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Encalhes na barra de Aveiro


Ao saber-me na senda de naufrágios, pessoa amiga fez-me chegar estas duas notícias, do início do século XX. Por se referirem a naufrágios ocorridos na barra de Aveiro, edito e divulgo.

Quando no Domingo de manhã, dia 21 de Abril, saía a barra do porto da cidade de Aveiro, o iate Modelo da praça do Porto, com um importante carregamento de sal e em derrota para aquela cidade, rebocado pelo vapor Alice, sucedeu partir-se o cabo, e inclinando o navio para o Cabedelo do Sul da barra, veio cair sobre a areia, achando-se totalmente perdido, assim como a carga, que estava coberta pelo seguro.
Devido à quebra da espia e ter-se envolvido esta no hélice, esteve também em grave risco o rebocador, acudindo-lhe a catraia dos pilotos, que conseguiu trazê-lo para dentro da barra onde fundeou. Não houve vítimas algumas.


[Notícia publicada no jornal Progresso de Aveiro, de 25 de Abril de 1907]


Naufragou na barra de Aveiro a chalupa D. Maria, da praça do Porto, para onde se dirigia com carga de sal, de conta do negociante de Ílhavo Sr. José Teiga.
O D. Maria foi ainda até ao espalhado para sair, mas como o mar embravecesse, voltou para dentro. Antes, porém, de chegar ao ancoradouro, um desarranjo no leme fez desgovernar o navio, que foi cair num baixo de areia do lado Norte, abrindo logo água e começando de imediato a inutilizar a carga, que se perdeu por completo. Sem esperanças de salvar o casco, a tripulação começou removendo o massame, velas, correntes, etc., que se acham em terra. O navio conserva-se ainda inteiro, porque está ao abrigo do embate das ondas, pelo que se pensa poder recuperá-lo. O D. Maria foi propriedade do conhecido e falecido armador de Ílhavo Sr. Manuel Machado e viajava então com o nome de "Machado 1º".
Perto do sítio onde agora naufragou, o navio sofreu há três anos igual sinistro, conseguindo-se todavia pô-lo a flutuar, passando depois à propriedade do Sr. José Teiga. Este Sr. só dispunha agora de uma terça parte, sendo as restantes duas terças partes da firma do Porto José Dias Pimenta & Cª. Nem o navio nem a carga estavam seguros. O D. Maria que se achava tombado foi ontem à tarde posto direito, à força de espias, lançadas pelo lado da costa de São Jacinto. Parece que se pode considerar salvo, embora seja grande o volume de água que se encontra no porão.

[Notícia publicada no jornal Progresso de Aveiro de 21 de Março de 1908]

Ílhavo, 23 de Fevereiro de 2009

Ana Maria Lopes
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1 comentário:

Anónimo disse...

Está em preparação,por um conhecido ilhavense, um estudo acerca dos barcos do armador dos"Machado I",II,III,etc.O último dos quais parece ter desaparecido,diz-se que a caminho da Madeira com fogo de artifício.Supondo-se,nessa linha,que a carga tivesse causado a perda do navio,por incêndio/explosão.Cumprimentos, "kyaskyas"