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Na senda do programa “O Meu Museu”, que iniciei, a convite do director do MMI, Nuno Miguel Costa, muitos episódios me assolaram a memória e este foi um deles – a história do molinete.
“Certo dia, quando o nosso saudoso
amigo Capitão Francisco Marques terminava a construção do “Faina Maior” e com grande satisfação me
foi mostrar o seu trabalho, perguntei-lhe se não pensava instalar-lhe um molinete. Ele olhou para mim e, com
amargura, disse-me que não se sentia com forças para isso. Não mais se tocou no
assunto.
Mais tarde, já em Lisboa, conversei
com o amigo Dr. Manuel Leitão, que, com a sua sempre pronta solicitude, logo me
apresentou um conjunto de desenhos detalhados dos molinetes que se usavam nos palhabotes
de Gloucester. Era completamente igual ao que eu conhecia do “Gazela”, só que de dimensões
apropriadas a um navio como o “Faina
Maior”.
Guardei estes planos, mas não falei
no assunto a ninguém, por não ter oportunidade.
Construi, então, uma maquette à escala e apresentei ao Sr.
Director do Museu e ao Sr. Presidente da Associação dos Amigos do Museu a ideia
da sua possível construção.
A minha proposta foi aceite em
reunião da AMI e o Dr. Aníbal Paião, de imediato, deu ordem para a iniciação
dos trabalhos, pondo à disposição as oficinas, os armazéns e o apoio logístico
necessário para se dar início à obra.
Contactei o mestre José Vareta, a
quem mostrei os desenhos e a maquette,
para saber se estava disposto a dar seguimento a esta tarefa.
Observou tudo com atenção, e aceitou o trabalho, com a condição de ter apoio do serralheiro para acompanhar e executar os trabalhos em metal, para os transportes e suporte financeiro para a aquisição das madeiras necessárias.
O trabalho começou e logo se mostrou a todos os que o acompanharam, de uma atracção invulgar.
Foi bom voltar a ver riscar, serrar, unir e dar forma àquelas grandes peças de madeira que, dia a dia, iam mostrando as colunas, o tambor e as bonecas que começavam a dar vida à “velha” peça feita agora de novo.
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Depois, voltámos a ver trabalhar a enxó de ribeira, guardada há tantos
anos, mas que o mestre ainda manobrava com mestria.
Começava o acerto das ferragens que,
depois de devidamente aplicadas, davam movimento ao nosso molinete.
Trabalhava, rodava e até “cantava” como os seus “irmãos” a bordo dos navios.
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Chegava o dia de partir para o seu lugar e lá seguiu desmontado na camioneta que o levou até ao Museu de Ílhavo, onde o mestre Zé Vareta, que já tinha construído o “Faina Maior” ia agora terminar o seu trabalho colocando no castelo de proa o molinete para virar a amarra».
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28.4.2009 – António Marques da Silva
Fui acompanhando o trabalhado, sempre
com curiosidade e entusiasmo, e fotografando as suas diversas fases.
Mais uma vez, estamos muito gratos ao
Amigo Marques da Silva, pela boa vontade, espírito de pesquisa, saber e
paciência.
Obrigada, Capitão Marques da Silva!
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Ílhavo, 5 de Março de 2023
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Ana Maria Lopes
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