sábado, 12 de junho de 2021

VIII Encontro de Embarcações Tradicionais em Esposende

 

Evocação… A pandemia fez com que estes eventos, que eu adorava, deixassem de existir. Ao mesmo tempo, eu também já não me sinto com forças de me envolver neles…  Vivo de memórias... que recordo e republico”

Cheguei há pouco de Esposende. Cansada, mas de alma cheia. Dois dias diferentes, a registar. O meu grande agradecimento à Amiga Ivone Magalhães, Directora do Museu Municipal e à Conceição, pela simpatia e acolhimento com que me receberam. Dia de festa em Esposende… Dia do rio e mar e de sua comunidade piscatória.

Ontem, passei a tarde na rampa junto à lota, à beira-rio, a tentar identificar as embarcações tradicionais que participaram no VIII Encontro de Embarcações Tradicionais em Esposende e a saborear-lhes a beleza das suas manobras.

Algumas embarcações já me eram bem familiares, como a catraia de Esposende, réplica navegante construída em 1993, a Sta. Maria dos Anjos”, algumas «dornas galegas» e a lancha de fragata ou o catraio tejano, bem bonito e centenário, trasladado por gosto do proprietário, do Tejo para a laguna de Aveiro, de seu nome Costa Nova».

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Catraia Sta. Maria dos Anjos”

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O catraio tejano Costa Nova”
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As tais memórias tradicionais marítimas de Esposende, que são relevadas pelo carinho e genica de alguns, iam-se sucedendo e preparando, ao mesmo tempo. Ao fim da tarde, algumas pescadeiras enfeitavam devotamente os andores que participariam na procissão fluvial de hoje e no lançamento de uma coroa de flores, ao mar, após a difícil saída da barra, em memória dos homens do mar falecidos em acidentes marítimos.

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Na lota, alguns das divindades
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Algumas «estórias», tradições, memórias, lendas foram recordadas, enquanto transpúnhamos a fé e o carinho com que enfeitavam os andores, com as respectivas divindades. Pescador e fé caminham de braço dado – Nossa Senhora da Barca do Largo, Nossa Senhora da Graça, S. Pedro, a Senhora da Bonança (freguesia de Fão), a Senhora da Guia, a Senhora de Fátima, e o, para mim, conhecido, mas nunca visto, S. Bartolomeu do Mar.

O dia de hoje, com a dita procissão fluvial, num clima ameno, calmo e morno convidava ao passeio. Sem contar, mas sem hesitar, aceitei o convite de última hora para embarcar. Todo o desfile foi magnífico, neste caso, em “catraias” modernizadas, ditas «voadoras», a motor. Embandeiradas em arco com bandeirolas multicolores, desfraldavam à pouca aragem a beleza e o significado da bandeira nacional. Cenário alegre, garrido, penetrante e envolvente. A procissão teve dois momentos altos: um, o do encontro, em que as embarcações se dirigem mais para montante, para receber a Senhora da Bonança (da freguesia de Fão), que vem incorporar-se no cortejo.

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A incorporação da Senhora da Bonança
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O outro, em navegação a jusante, em direcção à barra, o lançamento à água da simbólica coroa de flores, em homenagem aos pescadores mortos em acidentes marítimos. Um misto de respeito e temor pela ondulação do próprio mar e do entrecruzar da agitação dos motores das embarcações, era o que sentíamos a bordo.

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No mar, a coroa de flores
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Chamou-me a atenção um barco com quatro fotografias de rostos – explicou-me a Ivone – que era um barco de memória fúnebre, o “Flecha”, que lembra os quatro últimos homens do mar, que faleceram de uma mesma família – a família Nibre.

 

Barco de memória fúnebre
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De regresso à lota, donde saímos, parece que soube a pouco. Belo, empolgante e salutar!

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De regresso do rio

 

Ílhavo, 5 de Junho de 2016/12 de Junho de 2021

Ana Maria Lopes

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