terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

José Teiga Gonçalves Leite

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Capitão José Leite. 1950. AV.
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José Teiga Gonçalves Leite, o jovem capitão, filho de José Gonçalves Leite Júnior e de Alzira Teiga Leite, nasceu em Ílhavo, em 22 de Novembro de 1924. Filho mais velho da D. Alzira, que sempre conheci viúva e, como filho mais velho de mãe “viúva”, era o “homem” da família, para os irmãos mais novos, Armanda e Francisco.

Era possuidor da cédula marítima nº 24.250, passada pela Capitania do porto de Aveiro, a 9 de Setembro de 1943.

Do casamento com Maria Henriqueta Gomes da Cunha e Maia Mendonça, nasceram os filhos José Alberto, Maria Solange e Maria Frederico Mendonça Leite. Passaram, então, a residir, em Lisboa.

“O jovem capitão Leite era típico dos jovens comandantes de Ílhavo. Hoje em dia, em vez de começar como moço e progredir para o posto de pescador, o aspirante a capitão tem um longo período de instrução académica, porventura mais teórica do que prática. Mas, o capitão Leite ainda era um comandante à maneira da tradição antiga, apesar de não ter mais do que vinte e cinco anos de idade. Era bem capaz de conduzir o Gazela e de o navegar com grande velocidade, apesar de o único outro navio de pano redondo em que servira tivesse sido o navio-escola Sagres, onde o jovem Leite não passava de um entre 300 rapazes” – escreve sobre o capitão Leite, Alan Villiers, na sua Campanha do Argus, que acompanhara na safra de 1950, sob o comando do Capitão Adolfo Paião.

E continua: “José Leite olhou em volta da pequena câmara branca, limpa e imaculada, com a velha bússola pendurada em argolas acima do lugar do capitão (o seu lugar) à mesa, de modo a que pudesse ser vista de lá de baixo, para que o capitão estivesse sempre certo do rumo tomado. (…). Através da pequena claraboia, o capitão Leite avistava o triângulo da popa, abanando por enquanto ao de leve, porque não havia vento. Pegou nos binóculos e apressou-se a ir até ao convés. Ainda não havia quaisquer sinais de perigo real no que dizia respeito ao clima e todos os pescadores que ele conseguia avistar continuavam perseverantemente, à pesca, a maioria deles alando os aparelhos depois do primeiro lanço do dia. Tornaram-se amigos, nessa safra de 1950, o comandante australiano Alan Villiers e José Leite, nesse ano, capitão do lugre- patacho “Gazela Primeiro”.

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Gazela Primeiro. AV.
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Antes do seu início de vida na pesca do bacalhau, é de lembrar um episódio por que passou o jovem José Leite na primeira viagem que fazia, acabadinho de sair da Escola Naútica, com os  seus dezoito anos. Desempenhava o cargo de 2º piloto no vapor "Pádua", quando este teve um acidente perto de Marselha, numa viagem ao serviço da Cruz Vermelha Internacional. 
O navio foi de encontro a uma mina que andava à deriva, dando-se uma explosão, que provocou a morte de seis dos vinte tripulantes, bem como o afundamento do vapor.

A sua vida profissional, começou, propriamente, como piloto do lugre “Creoula”, que dispensa apresentações, na safra de 1947. Em 1948 e 49, saltou para imediato do mesmo lugre, sob o comando de Francisco Paião (Almeida).

Nos anos de 1950 e 51, foi então capitão do icónico lugre patacho “Gazela Primeiro”. Deixou, então, os navios da Parceria Geral das Pescarias.

Nos anos de 1952 a 54, comandou o navio-motor “António Coutinho”, construído em 1945, por Manuel Maria Bolais Mónica para a Sociedade Lisbonense da Pesca do Bacalhau, Lda.

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Navio-motor “António Coutinho”

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Em 1955, “saltou” para o comando do navio-motor de ferro, “Sam Tiago”, construído pelos Estaleiros de Viana do Castelo, para Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau (SNAB), tendo o prazer de fazer a viagem inaugural. Por lá ficou mais os anos de 1956 e 1957, na companhia do imediato Francisco Leite, seu irmão.

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Navio-motor “Sam Tiago”

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E terminou a sua brilhante carreira do bacalhau, na campanha de 1958, com a estreia do navio-motor de ferro “Nossa Senhora da Vitória”, construção dos estaleiros de Viana do Castelo, para a SNAB.

Depois da carreira do bacalhau, passou a ser piloto da barra de Lisboa, cidade, onde já se tinham instalado.

Há uns anitos, creio que estive com ele, numa idade já provecta, no Museu, aquando da estreia do filme “A campanha do Creoula” (2013), apresentado pelo realizador André Valentim Almeida, seu sobrinho-neto, que se inspirou em algumas fotos da grande pesca, no “Creoula”, encontradas numa gaveta do tio-avô, no auge da sua vida pesqueira. Sempre tentei que essas fotos me chegassem à mão, mas vários desencontros impediram-no. Chegou hoje a oportunidade de relatar a biografia de José Leite, que faz parte da minha memória, mesmo sem as tais fotos.

Deixou-nos, em 25 de Dezembro de 2014 com 90 anos de idade.

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Ílhavo, 23 de Fevereiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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