Em
maré de romarias setembrinas, este ano, todas adaptadas às normas ditadas pela
DGS, segue-se no último fim-de-semana de Setembro (de 26 a 28), a festa da Nossa
Senhora da Saúde, na Costa Nova. Será pena, mas a romaria também estará mal,
com o ambiente em que vivemos.
Se
fosse possível regredir no tempo, por uns dias, desejaria assistir a uma
romaria dos anos sessenta, com artística armação na Avenida Marginal e nos
caminhos conducentes à Capelinha. A montagem da armação em altos escadotes
marcava o início da festa. Seguia-se a chegada das primeiras tendas. Mas quando
os primeiros moliceiros vinham do
norte e do sul da ria, os norteiros e os matolas e atracavam
mesmo aqui pertinho de mim, então a festividade estava próxima.
Recordo com
saudade a chegada das barracas das cutelarias de Guimarães, os chapelinhos de
papel de vários feitios e cores, os brinquedos toscos
infantis de lata e de madeira, o café “de apito”, a doçaria tradicional da Ti
Rosa Caçoa, com os seus suspiros melosos e açucarados e os bolinhos brancos de
gema.
Ao
lado, a Ti Adelaide Ronca com as flores das festas, de papel, com quadra a
gosto, e as coloridas e vistosas ventarolas. O Sr. Quintino Teles com os seus
pratos típicos, em cerâmica relevada, com castanhas e sardinhas assadas, ovos
estrelados, que até apetecia degustar, etc.
Ainda
os ferros forjados, as barracas das loiças de Barcelos e de alguns atoalhados e
“lingerie”, bem como, os homens dos guarda-chuvas, compunham o ramalhete.
E
os vistosos e animados coretos com a banda a tocar!!!!.....
Não faltava a Vida de Cristo, em movimento, descrita em voz roufenha, rouca, do publicitador, tornada ensurdecedora pela ampliação conferida pelas cornetas do altifalante, que tentavam sobrepor-se ao anúncio da casa dos espelhos, do carrocel, dos carrinhos eléctricos ou cadeirinhas voadoras.
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Com
muita gente, com muito barulho, acabou por se tornar impossível a festa na
frente/ria, incluindo a própria procissão, que não era recebida com o respeito
devido.
Há
uns anos largos, toca de mudar a festa para a Avenida do Mar. Ainda pior!!!!
Chegou-se a um exagero e a uma falta de sanidade, com que alguns moradores não
conviviam muito bem, quase impossibilitados de entrar em suas casas. Já não
eram vendas típicas e, por vezes, ingénuas, mas uma autêntica FEIRA, onde
chegou a intervir a ASAE.
No entanto,
na frente/ria, já voltavam a aparecer as doçarias festivas diversas, muito
apelativas, os frutos secos muito apetecíveis, e algumas barracas de brinquedos
e quinquilharia.
Este ano, nada
virá e talvez se realize a eucaristia dominical, festiva, com os devidos distanciamentos
e máscaras, talvez até no exterior da capelinha. Resta-nos a esperança
de que a mui devota Santa faça o percurso da procissão em carro de bombeiros, com
a pompa, circunstância e devoção possíveis. Tanto que precisamos do seu alento e
coragem, nos tempos em que vivemos. É o
que consta, mas teremos de esperar para ver.
Ainda se vai
passar à Costa Nova a Senhora da Saúde, quanto mais não seja, para saborear,
entre amigos, poucos e distanciados, a chanfana ou o leitão assado, o que
origina uma prévia “procissão de leitões”.
O momento alto que vivia na festa era a passagem da procissão na Calçada Arrais Ançã, frente à minha varanda, com colgadura de damasco amarelada, em que reunia amigos para a verem passar, num misto de satisfação, convívio, colorido, adorno empenhado dos andores e muita fé.
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Outros
aspectos haveria mais a enumerar – irmandades, fanfarra, grupo de escuteiros,
pároco da Gafanha da Encarnação, acólitos e crentes acompanhantes, cumpridores
de promessas.
Nem gosto,
sequer, de ver a casa fechada, nesse dia.
Tradição… sem exageros e com muito senso. É para respeitar e tentar transmitir…
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Imagem – Etelvina Almeida
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Costa Nova, 17 de Setembro de 2020
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Ana Maria Lopes
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