sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O lugre «Ilda»

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Dias invernosos, chuvosos, húmidos e ventosos, como os que têm estado, favorecem as trocas de impressões, à distância, entre amigos que têm gostos afins – navios.
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Depois de umas visitas e arrumações no meu baú virtual, tendo-me já ocupado no Marintimidades dos naufrágios na barra de Aveiro de que consegui elementos fidedignos, verifiquei que o encalhe do lugre Ilda ficou em branco.
Outros bloguistas mais adiantados já o fizeram, mas o lugre Ilda, encalhado a sul do Farol, não podia ter ficado ausente. Estamos a tempo de o repor.
Aproveitei o desafio.
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O lugre Ilda cujo construtor foi António Dias dos Santos, de Fão, em 1906, tinha uma arqueação bruta de 225,27 toneladas e 189,30, de arqueação líquida. Era pertença do armador Daniel Silva, de Angra do Heroísmo, com registo em Aveiro.
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O Ilda, de três mastros, não era bacalhoeiro, mas muita da sua tripulação, que se salvou, era de Ílhavo. Como o soube? Claro, pelo jornal O Ilhavense, de 19 de Agosto de 1934, em busca aturada que tenho vindo a fazer, com parcimónia.
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Respigando a notícia: – «há perto de um mês desceu do ancoradouro da Gafanha para a boca da barra o lugre Ilda, propriedade do Sr. Daniel da Silva (…) que, por não poder sair, ali ficou aguardando o dia seguinte. Quando o seu capitão, António de Oliveira da Velha, procedia a manobras, verificou que o barco estava em seco.
Rebocado ora por um, ora por outro rebocador, no dia 13 do corrente mês (Agosto), conseguiu safar-se do banco de areia, tomando a direcção do mar. Quando ia na pancada da vaga, foi apanhado por um valente estoque de água que o arrastou para sul do Farol, onde encalhou».
 
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Ficou como se vê, com um acesso fácil, através de escada improvisada, aos proprietários, tripulação e seguradores e, sempre que assim acontecia, era um tal arraial de voyeurs, em vaivém, para ver realmente visto aquilo que, de facto, acontecera.
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O capitão, piloto, Sr. José Russo, e outros tripulantes, como já referi, oriundos de Ílhavo, foram salvos por barcos de pescadores, assim como a maior parte da carga constituída por sal, cal, louças e fósforos.
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O navio estava seguro numa companhia inglesa por 110 contos, que tomou conta do barco e, em dias seguintes, fez a venda dos salvados em hasta pública.
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E assim a acabou a romaria à Barra, pelo menos sem perdas de vidas humanas. E logo em Agosto!...
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Fotografias – Arquivo Digital de Aveiro.
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Ílhavo, 1 de Janeiro de 2016
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Ana Maria Lopes
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