A dança das
águas…
Depois da festa, volta o marnoto para o bailado das águas, numa
relação íntima com a sua amada: a dança das águas não pára, é diária.
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Nos cristalizadores, a água lá fica por uns dias depositando o sal, até
à redura.
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Novas águas os banham – a
renovação é constante. É preciso limpar, depurar, conduzir os sais líquidos e rer os sólidos, voltando a encher esse
ventre produtor, dia a dia, de sol a sol, enquanto houver fertilidade...
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E eis que a marinha
chora...
São os olhos da marinha,
esses lacrimais chorosos, que o marnoto abre com o muradoiro – homem crente e engenhoso.
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É por eles que as águas salgadas e espumosas escorrem e
transcorrem serpenteando pelas carreiras,
formando regos ao longo da crosta endurecida e ressequida, em craquelé.
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Num simples abrir e fechar de
«olhos» e fendas, o mestre abre e
activa um labirinto de canalizações que alimentam, que escoam, que comunicam
entre si – corre vida pela marinha!
–.
São águas velhas e novas – escoam-se e renovam-se.
São entroncamentos por onde escoam, escorrem e dançam ao
sabor da necessidade dessa mãe produtora e que, sob o olhar atento do marnoto, formam um complicado, mas admirável
bailado de espuma salgada.
Tão belo cenário atrai! – emprenha-se a marinha que, em breve, dará o sal da
vida à gente que nela trabalha.
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– Marnoto, que curas,
pisas, acamas e alisas esses parcéis,
abre agora a porta à água fértil. Deixa esse ventre embeber-se, deixa humedecer
o craquelé...
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– Solta essas águas! Deixa-a
«parir»... produzir o que de mais belo te dá a laguna, o branco sal!...
De vigília, em cuidados com tão
delicada paridura, ele se mantém.
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– És tu, marnoto, que controlas as águas, que supervisionas a paridura dos
alvos cristais e rezas para que o tempo lhes dê tempo para a cristalização.
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– E assim
se faz vida nessa marinha, tua
rainha, que, de sol a sol, te obriga a abrir, a tapar, a sulcar... sempre
vigilante. És seu criador, cirurgião, seu amparo e parteiro.
– Produz sal, marinha minha – sussurras-lhe tu...
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Nota – Para esclarecimento de
linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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23 | 07 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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1 comentário:
Parece que agora o facebook está mais na moda para comentários... Eu continuo a preferi-los junto à fonte!
E só queria dizer o curioso que me parece lembrar-me perfeitamente de ver estas imagens pelo visor da máquina fotográfica, há cerca de 25 anos. Só que, na altura, o meu olhar jovem e mais ingénuo não se apercebeu da carga de fecundidade intrínseca a estas imagens, tão bem realçada neste fantástico texto. É engraçado ver o poder da natureza a actuar a céu aberto, mesmo aos nossos pés, ao invés do que ocorre debaixo da terra, ou lá no alto da nossa atmosfera.
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