quinta-feira, 9 de maio de 2013

Histórico do lugre-patacho Gamo - 1

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A César o que é de César e a Gamo o que é de Gamo. Para quem tem dúvidas acerca dos Gamo, passo a explicar.
 
Para conseguir elementos relativos à construção do lugre-patacho Gamo, recorri, com a cooperação do Amigo Reinaldo Delgado, à página do registo de navios do American Bureau of Shipping, de 1875, conseguindo a seguinte informação:
 
O lugre-patacho Gamo foi construído em Inglaterra, no estaleiro de Ed. Tayport, tendo sido dado por concluído durante o mês de Março de 1874. Foi inicialmente baptizado com o nome “Reindeer”, propriedade de W. Thomson, que teve o navio matriculado na praça de Dundee. Estava arqueado em 283 toneladas, tinha 38,95 metros de comprimento, 7,68 metros de boca e 4,08 metros de pontal.
 
Colocado à venda em 1885, foi comprado pela firma Bensaúde & Cª., por 3.150 000 (três milhões, cento e cinquenta mil réis) e registado nos Açores, ficando sob o comando do capitão açoriano (?) Sr. João Ribeiro.
 
Em 1891, com a transferência da empresa Bensaúde & Cª. para Lisboa, o navio passou desde então a navegar registado em Lisboa, mas, à época, sob propriedade da recém-formada Parceria Geral de Pescarias.

No registo de 1899 o navio já se apresentava armado em lugre, arqueando 315,09 toneladas brutas e 894,222 metros cúbicos de capacidade de carga. Todavia, a informação parece incorrecta, com base na foto, abaixo, da Ilustração Portuguesa, de 1907, onde o navio foi retratado com aparelho de lugre-patacho. No entanto, é possível que o navio tenha, de facto, sido armado em lugre, muito provavelmente durante o período entre 1911 e 1913.
 
 
O Gamo – Ilustração portuguesa de 1907



Uma informação complementar relativa a 1902, permite constatar estar a navegar equipado de 42 tripulantes, com 32 canoas, passando alguns anos depois a dispor de uma equipagem à volta dos 35 tripulantes, com o mesmo número de canoas. A partir da lista de navios de 1909, já é possível verificar que o navio mantém as 315,09 toneladas de registo bruto, sabendo-se igualmente ter 300,01 toneladas de registo líquido, valores esses confirmados pela lista de 1914. Nesta lista, o Gamo apresenta 38,90 metros de comprimento, 7,10 metros de boca e 4,04 metros de pontal.


Para terminar, por hoje, o navio naufragou após ataque que lhe foi movido pelo submarino alemão U-155, sob o comando do capitão Ferdinand Studt, em 31 de Agosto de 1918, que enviou para o lugre alguns disparos de fogo intimidativo. Na altura foram-lhe colocadas cargas explosivas junto ao casco, que abrindo rombos lhe provocaram o afundamento. O Gamo encontrava-se numa posição próxima das 370 milhas da ilha das Flores, a navegar desde a Terra Nova com destino a Lisboa.
 

Ilustração portuguesa de 1907

Em próxima postagem, relatarei, pela pena de outrem, o naufrágio do Gamo mas, sobretudo, a grande heroicidade demonstrada pelo capitão, o ilhavense, Sr. João Fernandes Mano (Agualusa) e seus homens, dos quais também identifiquei o piloto, Sr. João Maria da Madalena.



Imagens – Ilustração portuguesa de 1907

Ílhavo, 9 de Maio de 2013

Ana Maria Lopes
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