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Barcos moliceiros sobrantes, tradicionais, navegaram, à vela, na Ria, com os painéis tapados de preto, em exteriorização de pesar e revolta, pelo cancelamento da Regata da Ria com inerente concurso de painéis.
Já sabemos, mas as imagens e o slogan NÃO MATEM OS MOLICEIROS comprovam-no. Esperemos e desejamos que a organização tire, ao menos, algum resultado, para além da satisfação pessoal.
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De luto…
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Agora, o que nos deu para observar, enquanto as manobras de arria a vela, descoicia e baixa o mastro, para entrar no Canal Central se iam sucedendo, deu mais que pensar. Desta vez, as imagens falam mesmo por si.
Às voltas e revoltas pela Lota Velha, deparámos com um desmazelo impensável, na entrada lagunar para a cidade.
Moliceiro que deverá ter os seus dez anos, completamente entregue ao abandono…carenado, espatifado, apodrecido, chocante… e logo de nome MOLIÇO, em que os vestígios de decoração e da legenda «ABRE-ME A PORTA DO TEU JARDIM», estavam sumidos e desadequados.
Tudo acaba.
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Agora, no dito Canal Central, supostamente tão agradável, mas, ultimamente, tão badalado, não pelas melhores razões, ia um desaforo, um vaivém de embarcações adulteradas, numa lufa-lufa de atracar turistas que se satisfazem com pouco, esperam bastante e tostam-se ou molham-se muito. Enfim, mas em tempo de «crise», ter feitio e capacidades para suportar a energia do convite pessoal ao passeio e a concorrência colada, nem sempre muito saudável, águas-meias com, pelo menos, seis empresas operadoras turísticas, não deixa de ser uma virtude. Toca a aproveitar um domingo soalheiro, apesar de ventoso, na Veneza portuguesa!
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Já não chegaremos a ver, mas vaticinamo-lo, que, quando não houver mesmo nenhum moliceiro tradicional, Vereador da Cultura de qualquer Câmara ribeirinha se pugne por mandar construir uma réplica navegante, se ainda houver quem a faça e a mande apaparicar como convém.
É que as embarcações tradicionais são um pedaço da nossa identidade.
E, então, as nossas, da nossa identidade lagunar…
Será?...
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Ílhavo, 15 de Julho de 2012
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:
As imagens falam por si, é vem verdade!
A observação que faz sobre o ponto da situação é muito interessante, mas provoca uma sensação de angústia e revolta: entre uns que se vestem de luto, pela morte anunciada; os outros que ali já jazem e ainda, os que se passeiam, vestidos com outras vestes, amputados da sua dignidade, resta a esperança neste alerta que moveu hoje homens e "barcos"...
Bem haja por esse seu "olhar e sentir"!
Abraço,
Etelvina Almeida
Grande verdade aqui documentada. Obrigado por nos ajudar a expor a agonia de uns, perante a leviandade de outros. Bem haja.
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