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Nos cem anos do Titanic - 1
Perante o andar dos acontecimentos e o «puzzle» que se tem vindo a completar, resolvi reorganizar e reescrever as minhas memórias dos talheres do Titanic existentes em Ílhavo, a que já dedicara alguns posts, em anos transactos.
Mas, como disse, a estória, longe de estagnar, avançou e tem vindo a atingir o auge, com algumas coincidências, cruzamentos de dados e interesses criados, perante o ano de comemoração do desditoso naufrágio do grande Titanic – 2012.
Opinávamos em escritos anteriores – Ílhavo na «rota» do Titanic. À primeira impressão, pareceria descabido, mas, o que é certo, é que acabámos de receber, há dias, a televisão francesa, do Programa Thalassa, France 3, que por Ílhavo permaneceu três dias, para gravar alguns depoimentos e plasmar algumas imagens acerca de artefactos (talheres) do fatídico navio, bem como acerca do fascínio que em torno dele se tem vindo a gerar.
Desde que me lembro, comecei, na juventude, a ouvir falar do Titanic, em casa dos meus avós maternos, onde hoje habito, a propósito, de umas simples, mas fortes e sóbrias colheres de sopa, de prata, com uma estrela relevada, na extremidade do cabo, logotipo da White Star Line.
Estas colheres faziam parte de um dos faqueiros do luxuoso Titanic. Como, porquê e a que propósito?
Colheres de prata do Titanic?...
Aqueles dados foram-me dando volta à cabeça, até porque o meu Pai, de vocação nada marítima, manifestava um certo endeusamento pelo Titanic, o maior vapor da época, o mais luxuoso, o “inafundável”, como diziam, que chegou a desafiar os desígnios de Deus, acabando por naufragar num acidente fatídico, ao colidir, na sua viagem inaugural, com um gigantesco iceberg, na noite de 14 de Abril de 1912, sem que a orquestra nunca tivesse parado de tocar, para não aumentar o pânico aos passageiros (afirmação posta em causa).
Em 1958, a história do Titanic encheu os ecrãs do cinema com o filme ”A Night to Remember”, com Kenneth More, no principal papel. A preto e branco, transmitia-nos todo o drama por que aquela gente passara, a maioria, sem retorno. Ainda muito jovem, vi-o no Teatro Aveirense, mas aí, então, não pensava muito nas colheres com as quais convivia.
Ainda adolescente, era-me contado que aquelas colheres tinham sido encontradas nos restos de um riquíssimo aparador, já só com uma gaveta, com a inscrição TITANIC. Não nos esqueçamos, pois, de confrontar datas e percursos. De fins de Abril a Setembro/Outubro era a altura do ano em que os lugres bacalhoeiros faziam, parcialmente, uma rota aproximada, idêntica à do Titanic, que, ao sair, na sua viagem inaugural, de 1912, em 10 de Abril, de Southampton para Nova Iorque, via Cherbourg e Queenstown, naufragara em 14 de Abril, às 11.40 p. m.
Explicação hipotética, mas dada brilhantemente pelo Comandante António Manuel São Marcos, a bordo, perante uma carta geral do Atlântico Norte, para a TV francesa.
Ele, que também mostrou os seus talheres, entre os quais uma colher de sopa da estrelinha, com que, em criança, comia a sopinha toda, pela mão carinhosa da tia Mercedes…
No primeiro dia de encontro com a equipa, fez-se um reconhecimento dos possíveis locais de filmagem: Ílhavo e enquadramento geográfico, sala Faina Maior do MMI, Arquivo, algumas das casas onde existem os míticos e presumíveis talheres do Titanic.
Tal “cómoda” teria sido “pescada”, de bordo de algum lugre bacalhoeiro, por pessoa amiga ou aparentada do meu Avô, que havia distribuído parte do faqueiro por algumas, não muitas, famílias ilhavenses.
Era o que a tradição oral ia revelando e lá que tinha lógica de sobra, tinha. E, se para experimentar a sensação, um belo dia, puséssemos uma mesa requintada com as presumíveis colheres, para saborearmos a sopa, Avó e netos, imaginando-nos passageiros, de 1ª classe, do tal mítico Titanic, no mundo do faz-de-conta?
Os anos foram passando, sem nada de especial referente ao assunto, a não ser algumas notícias relativas a sobreviventes ainda “vivas” do naufrágio.
Millvina Dean, a última, que fizera a viagem com dois meses apenas, morreu, aos 97 anos, em Southampton, no lar onde decidira passar os últimos dias da sua vida, a 31 de Maio de 2009. Com 97 anos, a 97 anos do naufrágio…
Ironicamente, quando os problemas financeiros do resto da sua vida haviam sido resolvidos pelos consagrados actores do film Titanic (1997) – Leonardo Di Caprio e Kate Winslet – que promoveram um fundo que lhe permitiria pagar a mensalidade da casa de repouso e as despesas médicas, expirou.
Modelo do navio, à escala de 1/350
Tinha 269,10 metros de comprimento, 28 de largura e 46,328 toneladas de arqueação, com uma altura da linha de água até ao tombadilho das baleeiras, de 18 metros.
As máquinas, accionadas a vapor, eram as maiores, construídas até então, com 28 caldeiras. Geravam uma pressão de 15 Kg/cm2, consumindo 728 toneladas de carvão em cada 24 horas. O vapor produzido accionava as turbinas Parsons, que desenvolviam 51 000 hp e impulsionavam o navio a uma velocidade máxima de 23 nós.
Podia transportar um total 3 547 pessoas, entre passageiros e tripulação.
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Erro fatal:
Indubitavelmente, o navio mais luxuoso que alguma vez cruzara os oceanos, não reunia um dos aspectos mais importantes do projecto – a segurança.
Levava 3 560 coletes salva-vidas individuais, mas apenas 16 baleeiras (para 1 178 pessoas), das 64 previstas pelo primeiro desenhador, que teriam sido suficientes para salvar os 3 547 passageiros.
Mas, como o mito da indestrutibilidade do Titanic era tão radical, assim aconteceu…
(Cont).
Fotos de Arquivo da autora do Blog
Ílhavo, 4 de Fevereiro de 2012
Ana Maria Lopes
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1 comentário:
Impressiona tanto o tamanho do navio como a história do seu naufrágio. Esta é tão incrível e quase tão impossível, que tudo o que dela vem parece fruto de um sonho.
Estes talheres que vieram parar a Ílhavo são prova disso.
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