quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A famigerada bateira erveira de Canelas... no MMI - 2

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(Cont.)

E, então, a embarcação que agora relembro ao Sr. Manuel Pires, que ainda fotografei semi-abandonada no esteiro de Canelas (anos 80)?



Esta seria mais a verdadeira bateira erveira de Canelas, já sabia, aceito. Mais barata, menor, utilizada exactamente para os mesmos fins: comprimento, 9, 40 metros 2 metros de boca e 14 cavernas, não contando com as dos golfiões duplos. Preparada com traste, para aplicação de mastro. O seu acesso às medidas, á época, não foi fácil.

Popa da bateira erveira e reflexo
(Anos 80)

As pessoas com mais posses, mais abastadas, preferiam mandar construir a primeira de que falámos, chamando-lhe barco, para distinguir.
Há pontos que lhes são comuns e de que não abdicavam: um par de golfiões à proa e outro à ré, bordo com cinta e draga, embreamento a negro, uso de casca de arroz a polvilhar os locais escorregadios, não sendo as pintas decorativas, obrigatórias.

Sondando o Mestre Pires relativamente a um convívio com os construtores de matolas, renegou-o, sul é sul e norte é norte, da Ria – revelou. Desconhecia onde o pai teria ido buscar os moldes de proa e ré, sobretudo, da famigerada bateira erveira de Canelas.
Tê-los-ia, muito mais idênticos, ali mais à mão, no estaleiros dos Mestres Garridos. Se não é bateira a nomenclatura mais correcta, mas poderá ser barco, matola é que nunca. Teriam de me convencer muito bem e, hoje, já não é fácil. Onde tem o matola, a elegância desta proa, além das outras diferenças já apontadas?
Pareceres...
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Sempre ouvi falar só num tipo de matolas, do que fui vendo há dezenas de anos pela Ria, e do que lia nos livros de registos da Capitania, que consultei na época. Eram-lhe atribuídas as seguintes medidas – comprimento, 13, 50 metros, 2, 50 m de boca, e de pontal 0, 45 m. E já mo confirmara o mestre do Seixo, ainda nos anos 80, conhecido carinhosamente por Mestre João Gadelha, pai do actual Evangelista Loureiro (também conhecido por Gadelha).

Este trabalho que agora reconheci em Canelas é para uma representação turística e sabemos que aí os barcos perdem alguma dignidade. Não vai ter mastro, nem vela, embora tenha  coicia, traste e uma minúscula enora. Não vai ter leme, nem fêmeas do leme tem, e a pá da borda não corresponde à traça correcta, pois não está ajustada para navegar.
Mantém as cavernas de arrancas de carvalho, como todos os barcos de Canelas, mais resistentes às águas doces e salobras da região.
Não teria sido mau que tivesse concluído que a embarcação em causa era um matola, mas não concluí. Serei livre de assim pensar, perante os diversos contextos por que fui passando.
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Foi frutuosa a visita ao galpão polivalente e improvisado de Manuel Pires: tinha de tudo que o tempo ainda não apagou: chão de terreiro, próprio para enterrar as estacas, teias de aranha pendentes dos travejamentos superiores, pipas de vinho, cabras à solta, moldes, paus de pontos, restos de madeira de pinho e de arrancas de carvalho. Fiquei razoavelmente elucidada, tendo gostado da clareza explicativa de Manuel Pires.

Imagens – Do arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 12 de Outubro de 2011
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Ana Maria Lopes
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1 comentário:

fangueiro.antonio disse...

Boa tarde.

Obrigado pela sua persistência em documentar a realidade de cada barco, pois normalmente quase ninguém se interessa por tirar a limpo os detalhes das coisas.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt