Alertada pelo Diário de Aveiro, resolvi dar uma saltada ao Museu da Cidade, para lá espreitar uma exposição de painéis brejeiros de moliceiros.
Estive como peixinho na água. Hei-de revisitá-la com mais tempo.
O próprio nome da Exposição “espreita aqui, painéis brejeiros de moliceiros” é criativo, porque, ao usar um apelo, com o verbo, no modo imperativo, fá-lo ao jeito de muitas das legendas que conheço:
AFINA-ME. BEM. ESSA. VIOLA
NÃO.ME.FUJAS.EM MARE.DE.FESTA
SALVA-ME=SE=EU=MERSER
Umas boas centenas, não as contei, de painéis, são o suporte técnico de toda a mostra.
E a tal criatividade, não a revelo, pois mataria a surpresa. Destapem a ponta do véu!
Muitos dos quadros são-me extremamente familiares, pois também fazem parte da “minha colecção particular”, que venho conquistando desde os anos 70. Melhor seria, se tivesse começado mais cedo, mas não deu. Rondarão o milhar? Talvez.
Também algum material de construção de embarcações lagunares proveniente do estaleiro de José Agostinho Henriques de Miranda, enriquece a mostra: banca de carpinteiro com numerosa ferramenta, uma molhada de paus de pontos, alguns moldes de construção (leme, braço de caverna, vertente, papo da proa, etc).
A curiosidade despertada pela visita obrigou-me a vir para casa consultar os canhenhos, para tirar algumas dúvidas.
Cheguei à conclusão que José Agostinho Henriques de Miranda, do Monte, Murtosa, viveu entre 1910 e 1996. Era conhecido pelo Ti Preguiça, cuja sigla foi um rectângulo formado por triângulos encaixados, coloridos a vermelho e verde. Já fora também a de seu pai.
Um aspecto de que gostei menos foi a exibição de um meio moliceiro, “ um moliceirinho”, pertença da CMA, que se encontra num estado de degradação desastroso.
Conheci-o, há uma boa trintena de anos, numa sala do Museu de Aveiro, aquando da realização da exposição filatélica Lubrapex 72. Nessa altura, fresquinho e cuidado. De morrer!
Lubrapex 72, no Museu de Aveiro
Agora, é lógico que não tinha cabimento no espólio do referido Museu (por onde teria andado ele?), uma desgraça! Sem mastro, nem vela, nem leme, nem qualquer tipo de palamenta, de pintura lixada, de painéis praticamente ilegíveis, lá flutua, meio abandonado.
A má percepção das legendas ainda deu para recordar que teria sido um barco moliceiro (mini, nos seus 7.50 metros de comprimento, mas rigoroso) construído em 1962, pelo Mestre Manuel Lopes Conde (1919 – 1991), cujo estaleiro, já inactivo, ainda visitei, na Gafanha do Carmo.
Restaurem-no, por favor, se ainda forem a tempo!
E chega de considerações. Não mais me calaria!
Só mais um pequeno contributo. Da minha colecção, apreciem e sorriam!
«ELA GUIA E EU TOCO AS BUZINAS»
ESPETA MANEL QUE É BOM PEIXE!
O.AMORE.E.COMO.UM.FÓSFRU.
SÓ.DURA.ENQUANTO.Á. PAU.
“A MENINA QUER QUE EU LHE TAPE O BURACO?”
«NÃO BOTES A MÃO NA BICHANA.»
E fiquemos por aqui! Espreitem lá!
Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho
Ílhavo, 8 de Outubro de 2009
Ana Maria Lopes
6 comentários:
Fantástico! Não me recordava desta dimensão brejeira da cultura popular da Ria. Muito obrigado por a ter trazido.
Boa noite
Uma destas legendas de um destes barcos, tenho-a num pequeno quadro a bordo do meu barco.
Comigo já atravessou o Atlântico 4 vezes.
Acho uma delicia o pitoresco da nossa ria.
É o colorido que a agua salgada, ou salobra tem. Se os nossos políticos bebessem um pouco dessa agua o país era menos cinzento...
Boa noite
Muito obrigado por me fazer gostar ainda mais dos Moliceiros.
Vou concerteza visitar a exposição.
Prometo enviar algumas fotografias do Inobador a velejar à vela na nossa Costa Nova nos dias de hoje.
Obrigado PT.
Pena o Ilhavense na outra margem.
Já tentei dar-lhe vida, mas parece que o seu destino vai ser a morte...
Bom dia.
Na minha opinião, esta vertente brejeira dos painés ajuda imenso a mantê-los na mente das pessoas, mas daí até se recuperar o prazer de velejar na Ria nestes barcos, vai um passo largo. Quantas pessoas possuem hoje um moliceiro e passeiam na Ria nos tempos livres?
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Sem duvida, sempre curiosa esta expressividade tão singular dos painéis,já tratados(a autora o vem fazendo com grande qualidade)por tanta gente.Mas o que me desperta a curiosidade é perceber:
1-Quando apareceram os painéis nos Moliceiros?
2-De onde veio o impulso que levou um pequeno grupo sociológico,recém chegado à laguna, a usar os barcos para se afirmarem diferentes(respeitosos à proa ,brejeiros na ré)-porque assim foi no princípio,não sei se todos captaram ,já,o facto.
«Espreita Aqui» é um belo convite,colocando a duvida, e deixando caminho aberto à curiosidade.De efeito garantido.
É caso para dizer:«olha mas não abuses...»
Senos Fonseca
Palavras para quê? Sempre muito interessante...
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