domingo, 16 de agosto de 2009

O "saltadouro" do Ti Tainha - III



Toda a nossa atenção é pouca. É necessário estarmos atentos a muitos pormenores. Pare ele, parece que tudo é feito mecanicamente.
Cada estaca é espetada no sítio certo, cada nó é dado no sítio certo; só a arte, a perícia, a destreza de quem pratica estas acções ininterruptamente no tempo, há cerca de sessenta e cinco anos, o justificam.

Aos dois primeiros espaços de rede branqueira, colocados, verticalmente, entre três varas, dá-se o nome de arinques. A seguir, sempre, verticalmente, entre varas, seguem-se os cinco adagues.

Após o 1º adague, o Ti Manel monta o segundo…


Entra o salto em cena, rede também de três panos, aérea, mas apenas com tralha de chumbo, que fica por cima dos 5 adagues. Fixa também em varas colocadas mais altas, com uma inclinação de 35 a 45 graus, relativamente à superfície da água.

Talvez este esquema ajude quem não assistiu, em directo, à montagem de uma das mais engenhosas artes da ria de Aveiro.

-

Esquema da arte


Terminados os cinco adagues, o Ti Manel inicia o lançamento à tona de água de uma rede singeleira (de um só pano), também chamada peixeira, rabeira ou rede de cerco, já que a sua função é cercar e conduzir o peixe até à parte central da rede, que passa por fora das quatro varas primeiramente espetadas e que pode flutuar, junto à praia.
Está montada a arte.

Aspecto geral e exterior da armadilha


Entretanto, o Ti Manel começa a bater na água, com uma vara, em movimentos certos, fortes e ritmados para afugentar o peixe em direcção ao salto.

O bater da vara


As tainhas encontram a passagem interrompida, e seguem guiadas pelo cerco para ver se encontram alguma abertura, até à espiral, onde se introduzem.
Aí, a sombra da rede, o bater da vara, fazem-nas saltar de susto e eis que caem na armadilha, armada fora da água.

O primeiro peixe preso…


(Cont.)

Costa-Nova, 16 de Agosto de 2009

Ana Maria Lopes
-

4 comentários:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Muito interessante, como sempre. A leitura permite quase estar no local e assistir a tudo...

João Reinaldo disse...

Bela descrição e óptima ilustração.
Ficamos a aguardar a continuação... ou a conclusão!
Mas... ou eu muito me engano ou isto vai dar livro! Ai vai, vai!!!
Conserve o entusiasmo e a inspiração para continuar a entrevistar e a divulgar.
Os meus parabéns
JR

marmol disse...

Palavras para quê?
É uma escritora nata, com um conhecimento aprofundado da arte de cativar o leitor, deixando-o sempre expectante!
Parabéns.
Martins

J.pião disse...

Boa tarde meus Senhores ,mais uma vês não deixo de escrever um comentário sobre este blogs e sua escritora BEM-HAJA ,a Senhora vai sempre descobrir o que muitos não conseguem ou o que a muitos passa ao lado!
Artes de pesca antigas artezanais ,que valor tém hoje???
Para muitas pessoas Doutoradas se calhar nada ,mas ainda bem que temos esta e outras pessoas como a Doutora Ana Maria que nos trás estas descobertas e que eu pescador reformado muito ademiro para alem da arte em si tambem a maneira de falar ,mas isto é pura cultura que se deve preservar ...
cumprimentos Jaime Pontes