sábado, 16 de agosto de 2008

As velas do barco moliceiro




Luís de Magalhães refere, no seu trabalho Os barcos da Ria de Aveiro, 1905 – 1908, que nas romarias fluviais, as velas ricas têm bordados interessantes, quase todos multicores e feitos por meio da aplicação de estofos diversos ao pano da vela: umas armas reais, uma cruz, um vaso com flores, etc.
Já há muito que esse costume não se observa, é pena. Creio mesmo que nunca vi.

No MMI., em exposição na Sala da Ria, o visitante tem possibilidade de apreciar um desses raros exemplares, com escudo encimado por coroa real, ladeado por ornamentos florais, em arte aplicada. Tem a particularidade de rizar só por cima. Data provável 1816/1876 (?)



MMI. – Vela festiva



Costume que ainda se mantém é ornamentar a vela com bandeiras de várias nacionalidades, relativas aos países para onde emigraram os donos dos barcos ou familiares, em dias também festivos.

Decisão e confiança de vencer

Normalmente. as velas são brancas, não se submetendo ao encasque ou seja à submersão numa cozedura de casca de pinheiro, que lhes dá uma cor vermelho-acastanhada. Tornam-se translúcidas e luminosas, deixando transparecer a luz, o que permite apreciar as várias teadas inteiriças ou emendadas, se a lona não chegou, ou remendadas, quando já apresentam partes envelhecidas.



As teadas da vela evidenciam-se



Esporadicamente, usavam um segundo mastro, à proa, o mastaréu, mais baixo, que fixavam numa pequena coicia, através de uma abertura entre as duas painas da proa, entre um argolão que funcionava encostado a uma reentrância do barrote, onde trabalhava uma vela de dimensões menores, chamada traquete. Chegavam a bolear e a arrastar com dois panos, mas, quando o tempo era muito, arriavam o traquete e botavam ombro ao mastaréu, poisando-o por cima da proa, por riba dos golfiões.


Imagem de beleza invulgar era o moliceiro armado com vela grande e traquete de que conservo uma vaga ideia da minha juventude, aqui, na Costa-Nova. Era motivo para virmos apreciar à varanda, quando algum passava…já ia sendo raro. Agora, nada, nem com duas velas, nem com uma. Eu bem olho…mas…só na realidade imagética de alguns espólios encontrados…



Na amplidão da ria, moliceiro com duas velas



Foi o que aconteceu há pouco tempo, quando me veio à mão, em buscas em sótãos, pela primeira vez, um cliché de um moliceiro a navegar com duas velas, frente à Costa-Nova. Não é brilhante a imagem, mas, até hoje, foi a única encontrada. Por isso, merece divulgação e partilha.

Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho
Cliché de João Teles

Costa-Nova, 16 de Agosto de 2008

Ana Maria Lopes



2 comentários:

fangueiro.antonio disse...

Boa noite.

O detalhe das velas bordadas evidencia bem o carinho que as pessoas tinham pelos seus barcos e bens vários.
Como já conhece o meu gosto pela pesca do bacalhau, este detalhe lembra-me os bonitos lugres antigos à vela que também tinham pintados bonitos motivos, quase florais, nas proas e nas popas. Mesmo em barcos daquela dimensão e propósito, os seus armadores gostavam de os adornar. Outros tempos, outras belezas, outra gente.

manny disse...

Eu sou filho do senhor Davide dos santos ( ja falecido).
A Inda me reacordo de andar no moliceiro com duas velas
O meu Pai fazia as velas do barcos moliceiros e mercanteleiros MannySantos 7@ gmail.com