segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Em vésperas da Nossa Senhora da Saúde

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Em maré de romarias setembrinas, segue-se neste último fim-de-semana (27 a 29 de Setembro), a festa da Nossa Senhora da Saúde, na Costa Nova.

Se fosse possível regredir no tempo, por uns anos, desejaria assistir a uma romaria dos anos sessenta, com artística armação na Avenida Marginal e nos caminhos conducentes à Capelinha. A montagem da armação em altos escadotes marcava o início da festa. Seguia-se a chegada das primeiras tendas. Mas quando os primeiros moliceiros vinham do norte e do sul da ria, os norteiros e os matolas e atracavam mesmo aqui pertinho de mim, então a festividade estava próxima.

Recordo com saudade a chegada das barracas das cutelarias de Guimarães, os chapelinhos de papel de vários feitios e cores, os brinquedos toscos infantis de lata e de madeira, o café “de apito”, a doçaria tradicional da Ti Rosa Caçoa, com os seus suspiros melosos e açucarados e os bolinhos brancos de gema.

Ao lado, a Ti Adelaide Ronca com as flores das festas, de papel, com quadra a gosto, e as coloridas e vistosas ventarolas. O Sr. Quintino Teles com os seus pratos típicos, em cerâmica relevada, com castanhas e sardinhas assadas, ovos estrelados, que até apetecia degustar, etc.

Ainda os ferros forjados, as barracas das loiças de Barcelos e de alguns atoalhados e “lingerie”, bem como, os homens dos guarda-chuvas, a leitura da sina, compunham o ramalhete.

E os vistosos e animados coretos com a banda a tocar!!!!.....

Não faltava a Vida de Cristo, em movimento, descrita em voz roufenha, rouca, do publicitador, tornada ensurdecedora pela ampliação conferida pelas cornetas do altifalante, que tentavam sobrepor-se ao anúncio da casa dos espelhos, do carrocel, dos carrinhos eléctricos ou cadeirinhas voadoras.

Com muita gente, com muito barulho, acabou por se tornar impossível a festa na frente/ria, incluindo a própria procissão, que não era recebida com o respeito devido.

Há uns anos largos, toca de mudar a festa para a Avenida do Mar. Ainda pior!!!! Chegou-se a um exagero e a uma falta de sanidade, com que alguns moradores não conviviam muito bem, quase impossibilitados de entrar em suas casas. Já não eram vendas típicas e, por vezes, ingénuas, mas uma autêntica FEIRA, onde chegou a intervir a ASAE.

O que se seguiu? A procissão, após a missa festiva e pouco mais. Mas a coisa lá se tem vindo a recompor.

Ainda se vai passar à Costa Nova a Senhora da Saúde, quanto mais não seja, para saborear, entre amigos, a chanfana ou o leitão assado, o que origina uma prévia “procissão de leitões”.

O momento alto que vivo na festa é a passagem da procissão na Calçada Arrais Ançã, frente à minha varanda, com colgadura de damasco amarelada, em que reúno alguns amigos para a verem passar, num misto de satisfação, convívio, colorido, adorno empenhado dos andores e muita fé.

Algumas imagens:

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Nossa Senhora da Saúde, a passar na Mota
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Com o casario por fundo
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Entre palmeiras…
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Imagem de S. José
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Imagem de  Santo Amaro, no seu meia-lua
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Outros aspectos haveria mais a enumerar – irmandades, fanfarra, grupo de escuteiros, pároco da Gafanha da Encarnação, acólitos e crentes acompanhantes, cumpridores de promessas.

Nem gosto, sequer, de ver a casa fechada, nesse dia.

Tradição…apesar de já não ser o que era. É a que temos. Está a tomar uma posição sensata, sem exageros. É para respeitar e tentar transmitir…

Este ano, vamos a ver como corre. Uma coisa, é consultar o Cartaz, outra é apreciar, de facto, os eventos.

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Ílhavo, 22 de Setembro de 2025

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Ana Maria Lopes

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