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Luís de Magalhães refere, no seu
trabalho “Os barcos da Ria de Aveiro”,
1905 – 1908, que nas romarias fluviais,
as velas ricas têm bordados interessantes, quase todos multicores e feitos por
meio da aplicação de estofos diversos ao pano da vela: umas armas reais, uma
cruz, um vaso com flores, etc.
Já há muito que esse costume não se observa, é pena. Creio mesmo que nunca vi.
No MMI., em exposição na Sala da Ria, o visitante tem possibilidade de apreciar um desses raros exemplares, com escudo encimado por coroa real, ladeado por ornamentos florais, em arte aplicada. Tem a particularidade de rizar só por cima. Data provável 1816/1876 (?)
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Costume que ainda se mantém é ornamentar a vela com bandeiras de várias nacionalidades, relativas aos países para onde emigraram os donos dos barcos ou familiares, em dias também festivos.
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Normalmente. as velas são brancas, não se submetendo ao encasque ou seja à submersão numa cozedura de casca de pinheiro, que lhes dá uma cor vermelho-acastanhada. Tornam-se translúcidas e luminosas, deixando transparecer a luz, o que permite apreciar as várias teadas inteiriças ou emendadas, se a lona não chegou, ou remendadas, quando já apresentam partes envelhecidas.
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Esporadicamente, há anos, usavam um
segundo mastro, à proa, o mastaréu,
mais baixo, que fixavam numa pequena coicia,
através de uma abertura entre as duas painas
da proa, entre um argolão que
funcionava encostado a uma reentrância do barrote,
onde trabalhava uma vela de dimensões menores, chamada traquete. Chegavam “a bolear
e a arrastar com dois panos, mas, quando o tempo era muito, arriavam o traquete
e botavam ombro ao mastaréu, poisando-o por cima da proa, por riba dos golfiões”.
Imagem de beleza invulgar era o moliceiro armado com vela grande e traquete de que conservo uma vaga ideia da minha juventude, aqui, na Costa-Nova. Era motivo para virmos apreciar à varanda, quando algum passava…já ia sendo raro. Agora, nada, nem com duas velas, nem com uma. Eu bem olho…mas…só na realidade imagética de alguns espólios encontrados…
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Foi o que aconteceu há pouco tempo, quando me veio à mão, em buscas em sótãos, pela primeira vez, um cliché de um moliceiro a navegar com duas velas, frente à Costa-Nova. Não é brilhante a imagem, mas, até hoje, foi a única encontrada. Por isso, merece divulgação e partilha.
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Ílhavo, 14 de Julho de 2021
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Ana Maria Lopes
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