-
Ontem, mais uma ida a Viana do Castelo, ao
Gil Eannes, em agradável companhia
de Amigos do Museu, desta vez, a terceira, desde que começou a saga do
lançamento da obra do Capitão João David Batel Marques – A Pesca do Bacalhau – História, Gentes e Navios –, desta vez, o III
volume, dedicado aos navios-motor.
É uma obra muitíssimo completa, uma
Enciclopédia da pesca do bacalhau – como era de esperar, que foca aquela pesca que,
na realidade existiu, nas suas várias vertentes, baseada em inúmeros documentos:
jornais, fichas do grémio, documentos de capitanias, do Arquivo Central de
Marinha, protestos, diários de bordo, todos estes elementos coadjuvados pela
grande memória de João David e capacidade de cotejo.
Desde o primeiro volume, tenho sempre
algum perto de mim, que folheio, que consulto, que confronto com avidez – havendo
navios da minha preferência. Dos lugres, o lugre-patacho
Gazela, o Golfinho, o Voador, o Ana Maria (o velhinho Argus), o Santa Maria Manuela, o Cruz
de Malta, o Silvina, o Hernâni, o Laura, e o Novos Mares. Entenderão as razões. Dos navios-motor, o Inácio Cunha, o Novos Mares e o São Jorge,
porque dele fui madrinha com doze anos.
E o prazer que me dá identificar cada foto
e saber, pelo menos, onde o Autor, a foi «pescar», nem que, por vezes, nem se
saiba bem, quem foi o fotógrafo !? Cada um gosta do que gosta e esta é a «Faina
Maior», por que me apaixonei e que ainda hoje me encanta, na dureza, na rudeza
e na beleza daquela vida. Tanto a vivi,
a ouvi, a pesquisei, que parece que fui sua protagonista. E vivi, vivi-a em
terra, em Ílhavo e na Gafanha da Nazaré.
Claro, relativamente ao espaço, a –
«Câmara dos Oficiais do Gil Eannes» – torna-se muito pequena para o número de
frequentadores e apaixonados pelo tema. Enche depressa, os lugares sentados
andam pela meia centena, mas, pelos vistos, se lá vamos é porque queremos e não
nos importamos das condições menos boas.
Na «Câmara dos Oficiais do Gil Eannes»
Ontem, o programa da apresentação do livro
foi abrilhantado pela exibição do documentário da campanha de 1952, no
navio-motor São Ruy, da praça de
Viana do Castelo. Ia «ògada» por apreciar filme e revisitar a pesca do fiel amigo.
Não destronou o pedestal, em que tenho
«The White Ship», passado na campanha de 1966, filmado por Hector Lemieux, em
que o capitão era Vitorino Ramalheira, com 37 anos, com a sua boina preta, um
autêntico galã hollywoodesco.
O navio-motor São Ruy
Mas, neste caso, «A Campanha do São Ruy – 1952», atendendo ao facto do Capitão
João Araújo não ser um profissional, deixou-nos, para memória futura, um
excelente documentário – a precisão das cenas, a sua sucessão. os timings
certos fazem dele um filme excepcional para se apreciar o processo de registo
de uma viagem redonda: o abastecimento de sal, a cerimónia da Bênção no
majestoso Tejo, a saída da barra, a vizinhança de outros navios, a vida a bordo,
a pesca, o processamento do peixe, a salga, a ida a terra para abastecimento, o
reencontro de capitães amigos e o regresso. Por acaso ou não, tem uma forte intenção
pedagógica, para que seja apreciado por escolas, por jovens descendentes ou não, de
quem viveu essa vida.
O texto escrito pelo João David que
comenta o filme é excelente, com um narrador presente, de primeira pessoa,
visto que foi posto na boca de quem o filmou – o imediato, vianense, João
Araújo. Do trio da oficialidade faziam parte o Capitão José Bilelo e o piloto,
carinhosamente conhecido por Chico Leite, ambos de Ílhavo. Não haverá por aí,
mais relíquias destas?
Cansada, mas de alma cheia, ainda fomos,
ao fim da tarde, visitar a réplica da capela, do Gil Eannes, à ré, já que a
autêntica se encontra no Museu de Marinha, bem como as belíssimas rodas do leme.
E até ao IV Volume!...
Ílhavo, 4 de Fevereiro de 2019
-
-
Ana
Maria Lopes-
Sem comentários:
Enviar um comentário