A
equipa de construção e decoração
No
próximo sábado, dia 20, por volta das 9. 30 h da manhã, a marina de recreio da Torreira,
no Município da Murtosa, vai ser o palco de um acontecimento raro nos tempos
actuais, e, como tal, digno de especial registo e regozijo: Marco Silva, um
jovem arrais da Torreira, de 39 anos, vai fazer o bota-abaixo de um moliceiro, completamente novo, construído por si.
O
moliceiro, que será baptizado com o nome do seu proprietário e construtor
«Marco Silva», possui um comprimento de 15,95 m, uma boca de 2,78 m e foi
construído em madeira de pinho, com recurso a técnicas tradicionais, ao longo
de cerca de um mês e meio, pelas mãos hábeis de Marco Silva, ajudado pelo
Mestre Firmino Tavares, filho do famoso mestre construtor de Pardilhó,
Agostinho Tavares.
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Para com este Mestre
(1922-1996), tenho um afecto especial, pois foi no estaleiro dele, em Pardilhó,
que nos anos 80, o meu filho registou as imagens que serviram de base ao
capítulo Construção, do meu livro Moliceiros – A Memória da Ria.
Mestre Agostinho Tavares, em
acabamentos
As
pinturas do barco e dos respectivos painéis, actualmente em fase de execução,
estão a cargo do Mestre José de Oliveira, conceituado artista murtoseiro, actor
da quase totalidade dos painéis dos moliceiros
existentes na Ria de Aveiro.
O
bota-abaixo deste novo barco moliceiro possui um enorme simbolismo, pois
representa um novo alento e esperança na preservação daquele que é o verdadeiro
ex-libris da Ria de Aveiro e, provavelmente, a mais bela embarcação do mundo,
que tem na Murtosa a sua pátria.
O
desaparecimento da actividade para a qual foram concebidos – a apanha do moliço
– ditou a quase extinção dos barcos moliceiros.
Hoje, uma grande parte dos moliceiros
ainda existentes, estão consignados à actividade turística nos canais da cidade
de Aveiro, já sem algumas das características originais.
Na
Murtosa, resiste, teimosamente, um conjunto de homens, que mantêm as suas
embarcações sem mácula, seja para actividade marítimo-turística, ou, apenas,
pela satisfação de as possuírem.
Marco
Silva ousou construir um moliceiro novo, que será o primeiro, em seis anos, a
ter um bota-abaixo na Murtosa, em pleno coração, geográfico e afectivo, da
grande laguna.
Com
Marco Silva, pela sua juventude, está também garantida a continuidade dos
saberes ancestrais da construção de embarcações tradicionais, pois com as suas
mãos, para além desta novíssima embarcação, já tinha construído, anteriormente,
cinco bateiras. Depois do moliceiro, o próximo desafio do jovem
arrais e construtor de embarcações é materializar um novo barco xávega, de pesca de mar.
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Além de conhecer o Marco do convívio nas regatas de moliceiros (em vias de extinção), foi
ele quem nos valeu e assumiu a feitura, de acordo com ordens recebidas, da vela
para a nossa bateira ílhava, existente
no MMI, construída pelo Mestre Esteves, de Pardilhó.
Marco Silva foi o ganhador, como arrais, do moliceiro São
Salvador, da Junta de Freguesia com o mesmo nome, de Ílhavo, vendido em hasta
pública a Miguel Matias. Já se encontra no estaleiro do Zé Rito, na praia do
Monte Branco, para últimos restauros e decoração.
Com secretismos, negócios e rivalidades, até parece que são
muitos. Mas com paixão e boa vontade, vão-se mantendo nem que seja pelo prazer de possuir e exibir em regata.
-Fonte: Município da Murtosa, com alguns acrescentos.
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Ílhavo, 18 de Junho de 2015
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Ana Maria Lopes
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