quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os «Garridos» de Salreu

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Por um acaso ou talvez não, demorámos quase trinta anos a saber algo mais sobre os Garridos de Salreu, construtores navais de machado e enxó, daquela localidade.
Eram eles Mestre José Luciano Rodrigues Garrido (1897-1962) e Mestre Manuel Maria R. Garrido, irmãos, que tinham tido um estaleiro de construção naval, em Salreu, até meados do século XX, seguramente.
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Pelos anos 80, ao visitarmos o esteiro, afirmamos em Moliceiros – A Memória da Ria, que tudo estava deserto e ninguém sabia nada de ninguém.
Só o estaleiro abandonado e arruinado do Manuel Maria testemunhava o eco de um passado que já parecia muito distante.
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Mas tinham existido os Garridos! Tivemos provas.
O afável Ti Arnaldo Pires, de Canelas, com eles tinha trabalhado na arte de construção de embarcações lagunares diversas, durante cerca de 30 anos – foi uma credível prova.
E, que melhor testemunho visual? O MMI mantém e exibe uma proa de moliceiro, encomendada em 1934, ainda em período anterior à própria fundação do museu (1937). Em legenda de estibordo, regista-se Mestre LUÇIANO GARRIDO Me Fes.


Mestre LUÇIANO GARRIDO Me Fes.
 
Tínhamos tido notícia há uns tempitos que um dos filhos do Luciano Maria Garrido, o Manuel (Augusto Tavares Garrido), tinha regressado da Venezuela, para onde emigrara ainda jovem, por volta de 1956.
Em busca de alguns esclarecimentos perdidos no tempo das «mui sui generis» embarcações de Canelas e Salreu, lá encontrámos, perto dos vestígios do antigo estaleiro do pai e tio, uma casa boa, espaçosa, tipicamente de emigrante venezuelano, pela traça e materiais usados.
Manuel Garrido (n. em Janeiro de 1937) e esposa acolheram-nos simpaticamente, mas, como ele próprio dizia, nos seus 76 anos feitos, com algumas maleitas e achaques, já não era muito exacto nos dados que fornecia. Foi o possível….o que a memória foi  deixando peneirar.
Cedeu-nos uma fotografia do pai, do Mestre Luciano Garrido e duas outras de uma reconstrução levada a efeito em Agosto de 1990, numas férias na região.


Mestre Luciano Garrido
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No largo da freguesia e perto da ribeira de Salreu, ajudava o Mestre Arnaldo a reparar a bateira do José Maria do Ilídio.
 

Reconstrução no largo…


No largo, perto do esteiro de Salreu

 
Em casa, esboçou a sigla (marca pintada no leme), dos Garridos, que ainda ninguém me soubera definir – uma espécie de flor com 5 círculos em amarelo e verde, circundada por um círculo maior a negro.
Em ameno cavaqueio, tivemos a oportunidade de observar restos de ferramenta de construção, incluindo «um macaco» de elevar as embarcações, bem como um grande e prazenteiro bertedoiro de moliceiro, saído das mãos do nosso hospitaleiro salreense. Cobiçámo-lo e em negócio amigável, lá o trouxemos, para fins decorativos.


Sobras de ferramenta…

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Imagens – Gentil cedência de filho de Luciano Garrido
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Ílhavo, 17 de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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4 comentários:

João Afonso disse...

Um blog com conteúdo que enaltece as artes da construção dos barcos que dão colorido à nossa Ria.

Anónimo disse...

Eh lá cachopa: que não contes tudo, é contigo,
mas o vertedouro é meu.....

Mas sim ,foi interessante encontrar o Garrido e esposa.....

Ana Maria Lopes disse...

Ah, ah, mas fui eu que o negociei!

Anónimo disse...

Ah, ah ,fui eu que tirei as fotos...!