sábado, 12 de março de 2011

Faina Maior - Para memória futura...no MMI - 3

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Tendo oportunidade de ler atentamente algumas actas, da mesma época, de Testa & Cunhas, criada em Dezembro de 1927, a partir da aquisição dos bens da Empresa de Navegação e Exploração de Pesca de Aveiro (todos os aprestos, extenso secadouro e os lugres Hernâni, Silvina e Cruz de Malta), constatei que os tempos de crise, escassez de peixe, dureza de vida, dificuldades financeiras, eram comuns às empresas do sector. E o meu Avô, o Capitão Pisco, por lá andava.


Vista aérea de Testa & Cunhas, nos anos 30


Em acta de 7 de Dezembro de 1932, os sócios resolveram quais os navios que deviam ir à pesca do bacalhau nas futuras safras de 1933 e 34, tendo assentado apenas na ida do Ernani e Cruz de Malta.

Decidiram ainda anunciar a venda do navio Silvina, entendendo que o podiam dispensar. Mas…

Depois de elaborada a acta de 11 de Agosto de 1934, (sic) chega-nos a notícia infeliz do desaparecimento do nosso lugre Ernani nos bancos. Ignoramos pormenores – causas e paradeiro dos tripulantes. Só mais tarde se soube que a causa tinha sido incêndio e que os tripulantes haviam sido distribuídos por navios dos pesqueiros próximos, onde se revelaram muito úteis no auxílio das penosas tarefas.

Toda esta falta de notícias, em 1934,  é um testemunho da rudeza desta vida.


Incêndio a bordo


Para suprir a baixa daquela unidade, resolveu-se reparar o lugre Silvina, de modo a estar pronto para a futura safra, para o que foram gastos cerca de 50 contos.
Acentuava-se na empresa, a necessidade de procurar uma nova unidade. Segundo acta de 28.11.1936, deram-se início a todas as diligências para a aquisição de um novo lugre. A proposta foi construir um, segundo o modelo do Brites (1936), com a introdução (sic) de algumas alterações, com empreitada de lavôr e materiais com o construtôr, Mestre Manuel Maria Mónica, pelo preço de 640 contos.
Encomendado em fins de 1936, o Novos Mares, de quatro mastros, beijou as calmas águas da ria, para satisfação de todos, a 16 de Abril de 1938, na Gafanha da Nazaré. O meu Avô capitaneara-o na primeira viagem, só à vela, à Groenlândia, já que o motor não havia chegado a tempo da viagem.

O Silvina foi prosseguindo a sua difícil missão, até que viu o seu fim em trágico incêndio, no Grande Banco da Terra Nova, a 25 de Maio de 1941, narrado por Jorge Simões em Os Grandes Trabalhadores do Mar.

(Cont.)


Imagens – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 12 de Março de 2011

Ana Maria Lopes
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1 comentário:

jaime pontes disse...

Mais uma demonstração de sabedoria da Dra.Ana Maria Lopes .Obrigada por este exclarecimento ,DOUTORA ,fiquei a saber mais um pouco sobre o que não sabia ,eu que trabalhei na empresa TESTA E CUNHA ,como pescador, dei uma viagem no INACIO CUNHA e naufraguei por incendio ,e dei três viagens no NOVOS MARES ,por isso obrigada Dra.Jaime Pontes ...