quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Modelo do Gil Eannes engrandece MMI (2ª parte)


O Gil Eannes, navio de apoio à frota bacalhoeira, era um robusto navio hospital de 98.450 m de comprimento de fora a fora, 13.716 m de boca, 8.000 m de pontal, 5.490 m de calado carregado, velocidade de 13 nós e capacidade para 72 tripulantes, 5 passageiros e 74 doentes. E, inovação para a época, dispunha de câmaras frigoríficas para fornecimento de alimentos frescos. Agora, com os meios de frio de que este novo navio era dotado, podia haver carne fresca diariamente e sem dependência directa de terra.

O Gil Eannes


A vida a bordo dos bacalhoeiros era difícil. Os momentos de lazer, nas poucas horas que sobravam entre o sono, a pesca e o amanho do bacalhau, passavam-se vendo filmes e jogando cartas. Uma rara distracção era uma visita a St John's, onde as populações terranovenses continuavam a acarinhar estes sacrificados do mar que eram os nossos pescadores. Mas agora a frota dispunha dum capelão para assistência religiosa, um desabafo humano, ou para dirimir pequenos conflitos.

Nos bancos da Terra Nova, o Gil Eannes, além das funções de navio-hospital, também distribuía correio, abastecia a frota de víveres, combustível, apetrechos de pesca e isco. Foi rebocador, salva-vidas e quebra-gelo: quando um dóri ficava encalhado no gelo, o Gil Eannes ia ao local, quebrando o gelo com o seu casco de aço, e abria o sulco de retomo ao barco sinistrado.

Mas ao fim de vinte anos de trabalho, o Gil Eannes ficou velhinho. Velhinho e gasto.

Original imagem do navio, em campanha


A sua última viagem à Terra Nova foi em 1973, mas, neste ano, fez uma viagem diplomática ao Brasil, como embaixador de Portugal. Depois, o Gil Eannes deixou de ser útil. Ainda foi à Noruega para de lá trazer bacalhau fresco nas suas instalações de frio e trouxe refugiados de Angola.

Mas, depois, foi sendo empurrado, como um fardo inútil, de cais em cais, do porto de Lisboa, até se anichar no Cais da Rocha do Conde de Óbidos, donde o venderam para abate, em 1977, à empresa Baptista & Irmãos, Lda. Foi a Alhos Vedros que a Comissão Pró Gil Eannes o foi buscar para o tratar e reabilitar.
Ele aí está, em Viana do Castelo, terra que o viu nascer, em 1955, aberto ao público e transformado em museu flutuante.
Totalmente recuperado e remodelado, mantido e gerido pela Fundação Gil Eannes, este navio, que fez carreira notável nas gélidas águas da Gronelândia, exerce agora outras funções: é explorado como espaço museológico e também como Pousada da Juventude, através das antigas enfermarias, recuperadas.

Fonte – Brochura original Gil Eannes, construído pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, para o Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau, em 1955.

Curioso é que entre os Amigos do Museu, um dos mais respeitáveis é o nosso idóneo Amigo Vitorino Paulo Ramalheira, que fez a sua primeira viagem à Terra Nova, em 1951, como terceiro piloto do primeiro Gil Eannes, com o seu Pai, Comandante João Pereira Ramalheira. Não podia deixar de assistir à chegada deste modelo e emocionado – confessou-nos.


“Para além da assistência médica propriamente dita, o Gil Eannes levava mantimentos, combustível, sal e água doce para abastecer a frota. Transportava ainda encomendas para os navios, batatas e isco congelado, e também dava assistência religiosa. Tinha um capelão a bordo para dizer a missa e dar apoio moral aos doentes", recorda o Capitão Vitorino, recentemente, em entrevista ao jornal Público, de 2.1.2010.

Fotografias gentilmente cedidas por vários Amigos e arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 4 de Fevereiro de 2010

Ana Maria Lopes

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite Dra Ana Maria e todos que por aqui passem ,queria escrever aqui algo e julgo oportuno o meu comentário , até porque conheci bem o Navio Hospital e mais nomes positivos se pode chamar a este grande e maravilhoso Navio o Gil Eanes que serviu e bem nesses tempos aureos dos bacalhaus tanto na Terra Nova como na Groenlândia .
Bem-haja aos seus salvadores que não deixaram que o nosso Gil Eanes fosse parar a uma sucata qualquer ,isto porque infelizmente é prova cabal que ninguém dos nossos Governos em Portugal se entereçou pelo nosso passado heroico dos nossos Capitães Oficiais tripulantes pescadores e os nossos belos Navios bacalhoeiros, hoje totalmente esquecidos ,por isso o meu desalento pelo ultraje a que foram sujeitos até hoje os nossos homens dos bacalhaus dos temporais dos gelos e dos nevoeiros , um bem haja a Empresa dos Sres de Pascoais pela coragem que tiveram ao investir nos cisnes brancos e a todos que de um jeito ou de outro contribuiram e contribuem para nos lembrar que existiram os bacalhoeiros ,espero que o Senhor Capitão Vitorino Ramalheira se encontre entre nós porque foi meu Capitão no Aviz até naufragar-mos por incendio e meus cumprimentos a Dra Ana Maria ...Jaime Pontes

Anónimo disse...

Hoje tive oportunidade de visitar e mostrar ao meu filho Joao Paulo Ramalheira o "Gil Eannes" em Viana do Castelo. Uma memória viva da nossa história. Como bisneto e sobrinho neto de homens que dedicaram a sua vida à pesca na TErra Nova, senti um orgulho muito grande quando dentro do Navio vi o meu primo (primo direito da minha mãe) VITORINO RAMALHEIRA. Bem haja. Um abraço amigo do Paulo Ramalheira Teixeira