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– Então só utiliza esta arte?
– Só!; e gosto dela. É uma arte antiga. Qu’inté a tenho, também tenho a selheira, mas não a achapo.
– Há muito tempo que a põe?
– Já o meu pai empalmava c’o ela, aqui, no Verão, saiba a senhora.
– E, nessa altura, havia muitos saltos?
– Vai um par de anos, ósque vinte ou trinta, ali p’ró sule espetavam-se muitos; mas agora, só escasseia o meu.
– Para si, o que é o Verão?
– Abotámo-lo em Março e lá íamos até Outubro ou Novembro. Sabe?!, esses tempos eram esgalmidos, havia por cá muita fome e abotei-me durante 50 anos para a Foz do Arelho, p’rá chincha, na lagoa d´Óbidos. Como senhor meu pai que fazia o mesmo.
– Que maré e tempo são os melhores para esta arte?
– Tem de haver paração (água não agitada). Bota-se a calquer hoira, inté de noite c’o luar.
– Acha que o lance, hoje, vai ser bom?
– Num me p’rece, pois é um mês de muita influência (afluência) e há muito imbalo (agitação das águas motivada por crianças e banhistas). A tainha é esconfiadona, assacanada, afoge com calquer espirração.
– Onde costuma fazer a venda do peixe?
– Se dá pouco, até 5 ou 10 quilos, vendo aqui às peixeiras, no mercado. Mas, se é muito, bou bendê-lo à lota.
– Então, Ti Manel, hoje faz aqui o lance e quando volta ao mesmo local?
– Vão 15 dias; o local tem de folgar. E aboto d’emposta inté ao Areão na enxerga de melhores sítios, pois é uma arte muito saltareca.
Lá para o meio-dia, o Ti Manel espeta as primeira quatro varas, perguntando-me se eu sabia para que serviam. Perante a minha falta de conhecimento, explicou-me que servem para o redame num ser lebado; para o saltadoiro, as águas num podem ter muita força.
A arte, também denominada peixeira ou parreira, é uma arte de tresmalho, fixa, parcialmente. Em projecção horizontal, toma o aspecto de um caracol ou uma espiral constituída por três tipos de rede: a branqueira, o salto (ou manta) e o cerco da rede. E muitas, muitas varas, para a manter e lhe dar forma.
O Ti Manel começa por separar o salto ou manta, que pousa no cagarete da bateira.
– Só!; e gosto dela. É uma arte antiga. Qu’inté a tenho, também tenho a selheira, mas não a achapo.
– Há muito tempo que a põe?
– Já o meu pai empalmava c’o ela, aqui, no Verão, saiba a senhora.
– E, nessa altura, havia muitos saltos?
– Vai um par de anos, ósque vinte ou trinta, ali p’ró sule espetavam-se muitos; mas agora, só escasseia o meu.
– Para si, o que é o Verão?
– Abotámo-lo em Março e lá íamos até Outubro ou Novembro. Sabe?!, esses tempos eram esgalmidos, havia por cá muita fome e abotei-me durante 50 anos para a Foz do Arelho, p’rá chincha, na lagoa d´Óbidos. Como senhor meu pai que fazia o mesmo.
– Que maré e tempo são os melhores para esta arte?
– Tem de haver paração (água não agitada). Bota-se a calquer hoira, inté de noite c’o luar.
– Acha que o lance, hoje, vai ser bom?
– Num me p’rece, pois é um mês de muita influência (afluência) e há muito imbalo (agitação das águas motivada por crianças e banhistas). A tainha é esconfiadona, assacanada, afoge com calquer espirração.
– Onde costuma fazer a venda do peixe?
– Se dá pouco, até 5 ou 10 quilos, vendo aqui às peixeiras, no mercado. Mas, se é muito, bou bendê-lo à lota.
– Então, Ti Manel, hoje faz aqui o lance e quando volta ao mesmo local?
– Vão 15 dias; o local tem de folgar. E aboto d’emposta inté ao Areão na enxerga de melhores sítios, pois é uma arte muito saltareca.
Lá para o meio-dia, o Ti Manel espeta as primeira quatro varas, perguntando-me se eu sabia para que serviam. Perante a minha falta de conhecimento, explicou-me que servem para o redame num ser lebado; para o saltadoiro, as águas num podem ter muita força.
A arte, também denominada peixeira ou parreira, é uma arte de tresmalho, fixa, parcialmente. Em projecção horizontal, toma o aspecto de um caracol ou uma espiral constituída por três tipos de rede: a branqueira, o salto (ou manta) e o cerco da rede. E muitas, muitas varas, para a manter e lhe dar forma.
O Ti Manel começa por separar o salto ou manta, que pousa no cagarete da bateira.
– No trabalho, é sempre a bara, nas biages, é que é o motor ou a bela.
A branqueira, além de fazer parte do saltadouro, também pode ser usada só por só.
É uma rede de três panos, de cerca de um metro e meio de altura, cujo pano interior é três vezes mais alto do que as albitanas (panos laterais).
É uma hora e meia. A maré ainda enche, mas já puxa p´ró lance!
(Cont.)
Costa-Nova, 9 de Agosto de 2009
Ana Maria Lopes
6 comentários:
Mas que belo livro seria, a descrição das diferentes artes de pesca que a Ana conhece; as diferentes entrevistas que tem feito ao pessoal das artes...
Que belos testemunhos ficariam registados!!!
Ao ler a entrevista, sinto que estou eu próprio a ouvir o pescador a falar.
Parabéns.
JR
Que linguajar saboroso!
Cumprimentos
Fernando Martins
Que cenas maravilhosas nos relata.
Estou de acordo com o João Reinaldo. Que belo livro sairia destas descrições tão fidedignas!
Cumprimentos,
Martins
Bom dia.
Uma das minhas "manias" é saber as origens e significado dos apelidos das pessoas, por vezes algumas delas famosas. Nesta 2ª parte desvendou-me porventura um dos famosos do futebol brasileiro Carlos Alberto Parreira, sendo parreira um nome conhecido desta arte. Na verdade o Brasil guarda muito do passado português nos seus apelidos e muitos deles, e dos portugueses que para lá emigraram, eram de gentes da costa. Muitos desses apelidos hoje "enigmáticos", revelam essa riqueza cultural (e de trabalho) do passado e hoje desaparecida.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Cara amiga,
Simplesmente genial !
Ainda por cima uma tarde bem passada, diferente.
Parabéns
Reimar
Uma conversa como que de um passado remoto. Vale a escrita a registar tais realidades. Gostei muito e obrigado pela divulgação.
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