quarta-feira, 9 de julho de 2008

Exposição João Carlos e Cândido Teles (Parte I I)


António CÂNDIDO Patoilo TELES nasceu em Ílhavo, a 1 de Janeiro de 1921 e faleceu a 31 de Outubro de 1999, deixando a sua obra para a posteridade.
A recente doação, por parte da Família, de obras suas à CMI., é um gesto nobre que nos permite ter ao nosso alcance um maior número de trabalhos seus do que aquele que existia no acervo do Museu Marítimo.
Obrigada, pois, pelo acto generoso!

Em vez de traçar a biografia que vem nos Catálogos, que tão carinhosamente me oferecia e dedicava e que carinhosamente guardo, preferi respigar uma sua entrevista fixada em “Os trabalhos e os dias”, em Outubro de 1988, altura em que foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Ílhavo. Daí transcrevi as frases que me pareceram mais eloquentes e elucidativas:


(…) O meu contacto com a arte começou desde muito cedo com o meu avô materno que era um ceramista e um barrista de mérito (…). O meu pai, Amadeu Simões Teles, nunca abandonou a pintura. Vi-o morrer com 84 anos ainda a pintar. Foi outra grande influência que tive (…).
Com os meus 18 anos, na Costa Nova, tive a felicidade de conhecer um pintor: Fausto Sampaio. Era de Anadia e vinha para a Costa Nova sobretudo pintar (…).
Comecei por o ver trabalhar e, por último, trabalhar a seu lado (…). Dava-me conselhos sobre o enquadramento, composição, retoques…Ele era um naturalista de ar livre e a minha pintura tornou-se isso, de início.

Em 1939, C. T. fez a sua primeira exposição no Salão Arrais Ançã, na Costa Nova, salão de diversão atrás do Café Coração da Praia. Houve uma reacção de interesse pela obra exposta.
Depois, a vida profissional do Artista proporcionou-lhe ambientes distintos: Açores, Madeira, Angola, Alentejo, Algarve, Moçambique, entre outros. Em todos sofreu a influência dos meios.
Quem não conhece os verdes e os negros das fases africanas de Cândido Teles e os laranjas, ocres e vermelhos da fase alentejana, sem esquecer o sucesso do chamado Alentejo branco, o Alentejo de Monsaraz?

Em 1962, na Madeira, foi importante para C. T. o encontro com Júlio Resende, amizade que se prolongou durante a sua estadia em Évora.
Foi um conselheiro e um grande amigo, agora a somar ao seu avô, ao seu pai e a Fausto Sampaio.

(…) Depois é o regresso a Ílhavo (em 1977) e a reintegração que estou a fazer há mais de dez anos, empenhado em ir buscar as coisas que estão a desaparecer: a arte da xávega, os temas da pesca na ria, da faina do moliço que procuro reviver…Agora dedico-me mais à figuração, fui buscar as figuras, os barcos que ainda existem e evoquei o sul da Costa Nova. Não voltei a pintar ao natural. Adquiri uma série de conceitos novos que depois aplico aos temas que tratei no passado (...).

Então, voltado para a ria e coisas da ria, experimentou a escultura e empenhou-se a fundo na cerâmica, de que é exemplo flagrante o painel cerâmico, de grandes dimensões, sito na Rua dos Galitos, em Aveiro, executado por encomenda da C. M. de Aveiro, em meados dos anos 80.


Cândido Teles muito me incentivou a levar por diante a minha pesquisa sobre os Moliceiros, que ambos apreciávamos, com olhares diferentes.
Em longas conversas de inverno, no conforto da lareira da sua saleta, o Artista, a Esposa e eu, trocávamos e partilhávamos ideias. Os motivos iam brotando e os esquissos ganhavam contornos. Cada um via e entendia o barco à sua maneira.
Serões agradáveis esses, e quase sempre frutuosos!

Os cadernos de apontamentos gráficos de Cândido Teles eram rigorosos e, enquanto os folheávamos, as conversas pareciam não ter fim. Foram estes “bonecos simples”, mas fiéis, que permitiram ao Artista evocar e pintar em 1994/5, cenas de 1940/41. É o caso da típica Malhada de então, da Barquinha, de cenas lagunares com moliceiros, junto ao Palheiro, a caminho de Vagos.

Após o seu regresso definitivo a Ílhavo, passei a ser visita assídua da casa, ainda antes de se situar ali, ao fundo, no Arenal.

Iniciei paulatinamente a aquisição de quadros, entre 1975 e1985, começando por aquilo que considero as pequenas relíquias dos anos trinta e quarenta, normalmente, de temas lagunares ou marítimos: moliceiros, companhas, o sul da Costa Nova com as suas bateiras, palheiros, marinhas… Sempre escolhas em casa do Artista, bem pensadas, e com a sua opinião.


Nas aquisições, mantive-me fiel às ambiências lagunares da nossa região. É delas que vos dou conta, na perspectiva de dar ainda mais a conhecer a obra deste saudoso Amigo. Mais uma vez por ordem cronológica, aqui estão:



Palheiros, 1947
Óleo sobre madeira, 18x27 cm

Companhas, 1948
Óleo sobre madeira, 14x24 cm

Moliceiros, 1967
Óleo sobre platex, 27x36 cm



Costa Nova, 1971
Óleo sobre platex, 69x99 cm



Consertando redes, 1977
Óleo sobre platex, 23x26 cm


Grupo de peixeiras, 1982
Óleo sobre platex, 87x87 cm



Remendando redes, 1982
Óleo sobre platex, 87x87 cm



Não deixem, pois, de visitar a Exposição.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 9 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes




3 comentários:

almagrande disse...

Cara Dra.,embora fazendo parte das minhas visitas diárias a blogues de que gosto e estando o Marintimidades linkado no meu, nunca calhou eu deixar aqui algum comentário.Felicito-a pelo blogue e neste caso também pela qualidade dos quadros em causa.
Bons Ventos

Marieke disse...

Cândido Teles ilustre Ilhavense com que tive o privilégio de contactar..na minha sala da Costa Nova impera um quadro oferecido por ele ...imaginem ..tipo..tome o quadro..~. deixei cair um pingo branco no céu azul...claro que aceitei de imediato..hoje tenho uma obra de arte ..por causa de um pingo de óleo de cor inadequada..ehehehheheheh

Ana Maria Lopes disse...

Para almagrande, o meu muito obrigada.
Lá vou fazendo o que posso pelo Marintimidades. Já agora, gostava de saber o nome do seu blogue, para o poder consultar.
Cumprimentos