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“Carocho” de Caminha –
Embarcação do rio Minho
Completada a minha colecção de
embarcações da Ria de Aveiro e do meu bote de meia quilha como representante
das da bacia do Tejo, por que não procurar construir algumas que nos recordem
os rios do norte de Portugal?
Esta pergunta que fiz a mim mesmo
levou-me a pesquisar algumas informações sobre este assunto.
Principiando pelo Rio Minho, não foi
difícil encontrar as respostas de que necessitava.
O carocho português foi título que logo me prendeu a atenção e que
trouxe consigo as informações desejadas: adaptação sob desenhos de José
Gonçalves e apontamentos de memórias de João Paulo Baptista.
Muito grato a estes dois estudiosos,
deitei mãos à obra.
Baseado nos desenhos que são
apresentados, comecei a preparar um plano de construção do modelo na escala de
1/25, como é meu costume, para fazer um carocho
de Caminha, que, na realidade, tivesse aproximadamente seis metros de
comprimento.
Agora só me restava seguir as informações que o autor dos referidos «Apontamentos e Memórias» tão detalhadamente apresenta acerca desta embarcação. Sugere ainda o autor a existência no Rio Minho de um carocho galego muito semelhante ao nosso, mas é o de Caminha que eu vou procurar reproduzir.
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Tratando-se de uma construção que
segue o método conhecido por (shell-first),
isto é costado primeiro, tudo é um pouco diferente das minhas anteriores
bateiras e barcos da Ria de Aveiro. Para estas como sempre referi, o cavername
é assente no fundo, para depois receber os costados.
Aqui, como o autor explica, depois de
pronta a quilha, ser-lhe-ão aplicadas com escarva as rodas de proa e de popa,
seguidas das duas primeiras tábuas, que pregam directamente para estas peças.
Só então se assentam as sete primeiras cavernas do meio.
Assim tentei proceder, mas logo me
surgiu uma dúvida. Como pregaria estas primeiras tábuas na quilha, se não
tivesse umas sólidas abas laterais para as receber?
Entendi que à quilha vertical deveria sobrepor-se uma tábua/quilha, que iria topar nas extremidades dos pés das rodas, onde previamente se teriam afundado os alefriz, para receber as tábuas dos costados.
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Assim fiz, por ter concluído que em
minha opinião, seria a forma prática para fazer este trabalho.
Aplicadas então as duas tábuas do
fundo, preparei as sete cavernas que coloquei no seu lugar, seguindo a
indicação de que a estas se juntariam as restantes quatro, sendo três para
vante e uma para ré.
Daqui se conclui que a caverna
mestra, a mais larga das primeiras sete, fica nitidamente para ré da meia-nau.
Esta é a razão que vai permitir ao carocho mostrar a sua proa adelgaçada, muito
elegante e levantada, depois de pregadas todas as tábuas da borda.
Voltando à construção, e tendo já
colocada a segunda tábua de cada lado, fiz os braços para juntar às cavernas,
para que cada uma ficasse com a largura que lhe era devida.
Só depois assentei as tábuas da borda
e as restantes cavernas de vante e de ré. Com a aplicação do verdugo, do
alcatrate e do talabardão, já era possível fixar as quatro chumaceiras com os
escalamões para os remos, ficando a borda completa e o carocho com ar de
acabado.
Mas ainda lhe faltava a bancada do
meio, o assento da popa, os paneiros inclinados das casas de vante e de ré, os
remos, o mastro e a verga, o vertedouro e a fateixa, sem esquecer a vela e o
leme, para que possa navegar quando tiver vento de feição.
Como é meu costume, apliquei na
construção madeira de limoeiro para a quilha, rodas de proa, de popa e
cavername. Para o tabuado utilizei choupo, para os remos tola e para o mastro e
verga ramos de ameixieira.
A vela e os cabos são de algodão, a
fateixa e as ferragens do leme, de arame de cobre.
Os costados, por fora, pintei-os de
preto para imitar o breu e por dentro dei bondex para imitar o breu louro
aplicado para conservação da madeira.
A embarcação real representada tinha
de:
Comprimento ……6,45 m
Boca……………...1,60 m
Pontal…………… 0,45 m
Caxias, 12/07/2015
António Marques da Silva
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