segunda-feira, 30 de setembro de 2024

AMI continua a enriquecer o espólio do MMI

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Os Amigos do Museu Marítimo voltaram a enriquecer as colecções do Museu, desta vez aproveitando o seu 87º aniversário, comemorado, este ano, a 10 de Agosto, e a inauguração da exposição sobre a Costa Nova.

Neste contexto, foram oferecidas duas pinturas a óleo, precisamente denominadas de “Costa Nova”, dos pintores Túlio Victorino e Manuel Tavares.

Túlio Victorino, nascido em Cernache de Bonjardim em 1896 e lá falecido em 1969, frequentou as Escolas de Belas Artes do Porto e de Lisboa, tendo como Mestres Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa e Marques de Oliveira.

Considerado um pintor naturalista, embora com trabalhos de feição impressionista, pintou praias com banhistas, feiras e romarias, recantos citadinos e paisagens rurais, procurando um afinado equilíbrio cromático com grande luminosidade.

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“Costa Nova”, de Túlio Victorino

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O segundo quadro é de Manuel Tavares, um autodidacta que nunca frequentou escolas de artes, nascido no Couto de Cucujães em 1911 e falecido em 1974.Usando como técnica principal a aguarela, distinguiu-se como paisagista, particularmente, na temática das paisagens da ria de Aveiro, embora tenha pintado trechos citadinos e algumas interessantes naturezas mortas.

Considerado um dos mais importantes aguarelistas portugueses, terá pintado milhares de aguarelas, tendo também participado em muitas exposições individuais e colectivas, estando representado em alguns museus portugueses.

O quadro de Manuel Tavares tem um especial interesse por se tratar de um óleo, técnica rara neste autor, que, como vimos, se dedicou quase exclusivamente à aguarela.

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“Costa Nova” de Manuel Tavares
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Ílhavo, 30 de Setembro de 2024

Ana Maria Lopes

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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O "carocho de Caminha"

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“Carocho” de Caminha –

Embarcação do rio Minho

 

Completada a minha colecção de embarcações da Ria de Aveiro e do meu bote de meia quilha como representante das da bacia do Tejo, por que não procurar construir algumas que nos recordem os rios do norte de Portugal?

Esta pergunta que fiz a mim mesmo levou-me a pesquisar algumas informações sobre este assunto.

Principiando pelo Rio Minho, não foi difícil encontrar as respostas de que necessitava.

O carocho português foi título que logo me prendeu a atenção e que trouxe consigo as informações desejadas: adaptação sob desenhos de José Gonçalves e apontamentos de memórias de João Paulo Baptista.

Muito grato a estes dois estudiosos, deitei mãos à obra.

Baseado nos desenhos que são apresentados, comecei a preparar um plano de construção do modelo na escala de 1/25, como é meu costume, para fazer um carocho de Caminha, que, na realidade, tivesse aproximadamente seis metros de comprimento.

Agora só me restava seguir as informações que o autor dos referidos «Apontamentos e Memórias» tão detalhadamente apresenta acerca desta embarcação. Sugere ainda o autor a existência no Rio Minho de um carocho galego muito semelhante ao nosso, mas é o de Caminha que eu vou procurar reproduzir.

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Visão geral
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Tratando-se de uma construção que segue o método conhecido por (shell-first), isto é costado primeiro, tudo é um pouco diferente das minhas anteriores bateiras e barcos da Ria de Aveiro. Para estas como sempre referi, o cavername é assente no fundo, para depois receber os costados.

Aqui, como o autor explica, depois de pronta a quilha, ser-lhe-ão aplicadas com escarva as rodas de proa e de popa, seguidas das duas primeiras tábuas, que pregam directamente para estas peças. Só então se assentam as sete primeiras cavernas do meio.

Assim tentei proceder, mas logo me surgiu uma dúvida. Como pregaria estas primeiras tábuas na quilha, se não tivesse umas sólidas abas laterais para as receber?

Entendi que à quilha vertical deveria sobrepor-se uma tábua/quilha, que iria topar nas extremidades dos pés das rodas, onde previamente se teriam afundado os alefriz, para receber as tábuas dos costados.

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De proa
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Assim fiz, por ter concluído que em minha opinião, seria a forma prática para fazer este trabalho.

Aplicadas então as duas tábuas do fundo, preparei as sete cavernas que coloquei no seu lugar, seguindo a indicação de que a estas se juntariam as restantes quatro, sendo três para vante e uma para ré.

Daqui se conclui que a caverna mestra, a mais larga das primeiras sete, fica nitidamente para ré da meia-nau. Esta é a razão que vai permitir ao carocho mostrar a sua proa adelgaçada, muito elegante e levantada, depois de pregadas todas as tábuas da borda.

Voltando à construção, e tendo já colocada a segunda tábua de cada lado, fiz os braços para juntar às cavernas, para que cada uma ficasse com a largura que lhe era devida.

Só depois assentei as tábuas da borda e as restantes cavernas de vante e de ré. Com a aplicação do verdugo, do alcatrate e do talabardão, já era possível fixar as quatro chumaceiras com os escalamões para os remos, ficando a borda completa e o carocho com ar de acabado.

Mas ainda lhe faltava a bancada do meio, o assento da popa, os paneiros inclinados das casas de vante e de ré, os remos, o mastro e a verga, o vertedouro e a fateixa, sem esquecer a vela e o leme, para que possa navegar quando tiver vento de feição.

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Pormenor dos aprestos

Como é meu costume, apliquei na construção madeira de limoeiro para a quilha, rodas de proa, de popa e cavername. Para o tabuado utilizei choupo, para os remos tola e para o mastro e verga ramos de ameixieira.

A vela e os cabos são de algodão, a fateixa e as ferragens do leme, de arame de cobre.

Os costados, por fora, pintei-os de preto para imitar o breu e por dentro dei bondex para imitar o breu louro aplicado para conservação da madeira.

A embarcação real representada tinha de:

 

Comprimento ……6,45 m

Boca……………...1,60 m

Pontal…………… 0,45 m

 

Caxias, 12/07/2015

António Marques da Silva