segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O "Tanto Mar!" regressou ao Museu Marítimo de Ílhavo

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O "Tanto Mar!”, iniciativa promovida pelo Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), regressou este fim de semana, com duas oficinas e uma Conversa de Mar.

Miguel Cabral de Moncada, fundador e actual sócio-gerente da prestigiada leiloeira nacional Cabral Moncada Leilões, foi o convidado para a Conversa de Mar, pelas 17 horas, ontem, domingo. No dia anterior, a sua leiloeira promoveu o Leilão Especial “200 Anos Vista Alegre”, a que assisti com interesse e que decorreu com muito público e entusiasmo, no Teatro da Vista Alegre.

 

Em pleno leilão…
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Foi-nos permitido apreciar peças raras e de muito bom gosto, uma das quais nunca vista, verdadeiro “tesouro nacional” VA, vendido no leilão por 13.000 €.

Também foi com satisfação que constatei que um par de esculturas ilhavenses (1924-47), pintadas à mão, relevadas a ouro,   havia sido adquirido pela CMI, para aumentar o espólio do MMI.

 

Par de esculturas ilhavenses
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A Conversa de Mar foi inspirada na exposição temporária “Alegorias do Mar na cerâmica da Vista Alegre”, que faz parte das comemorações do bicentenário da Fábrica da Vista Alegre e que, patente até ao dia 17 de Novembro, reúne peças produzidas desde 1869 até â actualidade, todas com o mar como   tema central.

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Alegorias do Mar na Cerâmica Portuguesa


Perante uma plateia interessada, foi um prazer ouvir o Dr. Cabral de Moncada, com um grande à vontade e  profundo conhecimento do assunto.

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Ílhavo, 28 de Outubro de 2024

Ana Maria Lopes

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domingo, 6 de outubro de 2024

A Catraia Piladeira de Esposende

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E Marques da Silva continua:

Concluído o meu modelo da masseira de Vila Praia de Âncora, tinha chegado a hora de continuar a navegar para o sul, pois era esse o caminho que vinha fazendo, ao encontro de embarcações locais.

Não foi necessário percorrer grande distância, pois chegado a Esposende, logo os olhos ficaram presos na elegante e vaidosa catraia piladeira, embarcação que foi muito utilizada, em toda esta zona da nossa costa.

De Esposende para sul até ao Douro, era possível encontrar sempre embarcações deste tipo. Mesmo com pequenas alterações, necessárias à arte de pesca ou ao local onde tinham de trabalhar, era sempre bela a sua presença.

Mas é a catraia piladeira de Esposende, que eu vou tentar reproduzir, seguindo os desenhos do magnífico livro “Embarcações Tradicionais: Em busca de um património esquecido” de Ivone Baptista de Magalhães, p. 80, e todas as preciosas informações que a pesquisa no computador sempre pode facultar.

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Página do livro citado
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Como sabemos, esta embarcação que não passava dos sete metros de comprimento, era construída com uma elegância de linhas e uma beleza de formas que a meu ver, é difícil de superar.

Tendo de boca, isto é, de máxima largura, uma dimensão que à primeira vista parecia exagerada, os seus construtores conseguiram com o lançamento de proa e os bem delineados delgados de popa, fazer um casco que dá gosto observar.

Certo é, que não foi de ânimo leve que assim o idealizaram com tão grande largura. A vela que lhe estava destinada era enorme e foi essa a forma de a conseguir envergar e marear, permitindo atingir com segurança, uma considerável velocidade.

Foi com todas as informações que consegui recolher, que preparei como é meu costume, um plano de construção de modelo de uma catraia piladeira, na escala de 1/25, para juntar aos meus anteriores modelos.

Principiei então a preparação do estaleiro e a escolha da madeira para a quilha, roda de proa e cadaste. Depois para o cavername escolhi os ramos mais curvos, que melhor se adaptavam às delicadas formas da minha catraia que ia ficando cada dia mais bonita. Mas quando se aplicaram as sarretas e as primeiras tábuas da cinta, era um gosto para a vista e até mereceu a sessão de fotografias que a perícia do meu sobrinho Quim tão bem fixou e que eu vou guardar para memória futura.

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Uma mão cheia …de cavername
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Aos poucos fui concluindo o tabuado do casco, e depois dos arranjos interiores, apliquei por fora e por dentro o costumado tratamento para a madeira, que a deixou de cor dourada e tão bonita que nem apetecia pintá-la.

Mas era preciso fazer a porta do leme e respectiva ferragem para fixação no cadaste e em seguida tratar do mastro e da verga para definir o painel da vela.

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Pormenor dos aprestos
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Pronta a vela, comecei a construir a fateixa, a polé, o vertedouro e os forcados, onde arrumei os quatro remos depois de prontos, para não estorvarem a manobra de rede, que consegui arrumar numa das casas da popa.

Ficou assim pronto o meu modelo da catraia piladeira de Esposende, a que atribui o nome de Gaivina.

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                                      A Gaivina – catraia piladeira de Esposende


Como de costume, apliquei madeira de limoeiro nas peças estruturais da ossada e choupo no forro dos costados. Para as ferragens usei arame de cobre, nos remos, madeira de tola e no mastro na verga e nos forcados, ramos de ameixieira. A vela, os cabos e a rede são de algodão.

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De proa…

 

A catraia que procurei representar teria:

 

Comprimento…………...7.00  m

Boca……………………..2.50  m

Pontal…………………...0.87  m

10/12/2015

António M. Silva

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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Gamela ou masseira de Vila Praia de Âncora

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Hoje, o “Marintimidades” está por conta do Sr. Capitão Maques da Silva, com todo o gosto.

Prosseguindo a minha pesquisa acerca das embarcações dos rios e das praias do norte, desci um pouco para o sul de Caminha e parei em Vila Praia de Âncora.

Os autores do trabalho que me ajudaram na construção do carocho de Caminha, desenvolveram igualmente os seus estudos na direcção de uma embarcação utilizada pelos pescadores de Âncora, que nesta praia toma o nome de gamela ou masseira.

Assim, continuando a seguir atentamente a, «Adaptação sob desenhos” de José Gonçalves e “Apontamentos e memórias” de João Baptista», obtive mais uma vez, as informações que desejava, para construir um modelo desta invulgar embarcação de pesca.

Dizem-nos os autores deste estudo que na Galiza se utilizava também uma masseira muito parecida com esta, mas é a de Âncora que vou tentar reproduzir tão fiel quanto me for possível.

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De proa
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Grato a estes dois estudiosos e seguindo as suas preciosas memórias, comecei por preparar como de costume, um plano de construção de modelo, simplificado, para reproduzir uma masseira com cerca de quatro metros e oitenta, na escala de 1/25, que é a que mais costumo utilizar.

Principiando este trabalho, logo fui verificando que sendo tão próximas estas localidades, o método de construção utilizado no carocho e nesta masseira, são totalmente diferentes.

Na verdade, tanto na forma, como no aspecto, estas duas embarcações também em nada se podem comparar.

O método de começar a construir pelo casco primeiro, “shell-first” utilizado na construção do carocho é aqui completamente esquecido. Voltamos a ter primeiro a preparação do painel do fundo, onde se vão aplicar as quatro cavernas, seguidas dos respectivos braços.

Como na masseira não há roda de proa nem cadaste, estas peças são substituídas por painéis trapezoidais, que depois de colocados nos seus lugares, a vante e a ré do fundo vão receber as tábuas dos costados.

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De popa
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Ficamos assim com uma embarcação de formas específicas, diferentes de todas as que tenho vindo a reproduzir nos modelos que tenho construído.

É na verdade, na sua forma, muito semelhante à vasilha de madeira “em forma de tronco de pirâmide rectangular, invertida, em que se dá de comer a porcos e outros animais”, que, antigamente, também servia para “banhos e lavagens”.

Enquanto embarcação, a gamela, é suficientemente reforçada no interior e com dimensões para poder ser utilizada na pesca e vir à praia em mar aberto.

Por esta razão, tem pregadas no fundo a todo o comprimento, a meio e aos lados, umas largas réguas para protecção ao apraiar.

Interiormente tem três bancadas, sendo a de vante com uma enora para o mastro. Tem paneiros a vante e a ré e duas anteparas transversais, sendo uma na primeira caverna de ré e outra na última de vante.

As chumaceiras para escalamões são três por bordo, podendo assim usar dois ou quatro remos para sua deslocação com falta de vento.

No painel de ré tem ferragens para aplicação de um leme de cana, cuja porta desce abaixo do fundo da embarcação.

Usa vela de pendão de amurar a vante, do tipo poveiro. Como palamenta tem quatro remos, um vertedouro e uma âncora de pedra, dita poita.

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 Pormenor interior com palamenta

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Na construção deste modelo, como de costume, utilizei madeira de limoeiro no cavername e de choupo no tabuado. Nas ferragens arame de cobre e na vela pano de algodão. Como medidas temos:

 

Comprimento………….4.80 metros

Boca………………………..2.20 m

Pontal…………………….. 0.60 m                               

Escala ……………………. 1/25

 

10 / 09 / 2015

António Marques da Silva


Ana Maria Lopes

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