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Hoje, o “Marintimidades”
está por conta do Sr. Capitão Maques da Silva, com todo o gosto.
Prosseguindo a minha pesquisa acerca
das embarcações dos rios e das praias do norte, desci um pouco para o sul de
Caminha e parei em Vila Praia de Âncora.
Os autores do trabalho que me
ajudaram na construção do carocho de Caminha, desenvolveram igualmente
os seus estudos na direcção de uma embarcação utilizada pelos pescadores de
Âncora, que nesta praia toma o nome de gamela ou masseira.
Assim, continuando a seguir
atentamente a, «Adaptação sob desenhos” de José Gonçalves e “Apontamentos e
memórias” de João Baptista», obtive mais uma vez, as informações que desejava,
para construir um modelo desta invulgar embarcação de pesca.
Dizem-nos os autores deste estudo que
na Galiza se utilizava também uma masseira muito parecida com esta, mas é a de
Âncora que vou tentar reproduzir tão fiel quanto me for possível.
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De
proa
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Grato a estes dois estudiosos e
seguindo as suas preciosas memórias, comecei por preparar como de costume, um
plano de construção de modelo, simplificado, para reproduzir uma masseira
com cerca de quatro metros e oitenta, na escala de 1/25, que é a que mais
costumo utilizar.
Principiando este trabalho, logo fui
verificando que sendo tão próximas estas localidades, o método de construção
utilizado no carocho e nesta masseira, são totalmente diferentes.
Na verdade, tanto na forma, como no
aspecto, estas duas embarcações também em nada se podem comparar.
O método de começar a construir pelo
casco primeiro, “shell-first” utilizado na construção do carocho é aqui
completamente esquecido. Voltamos a ter primeiro a preparação do painel do
fundo, onde se vão aplicar as quatro cavernas, seguidas dos respectivos braços.
Como na masseira não há roda
de proa nem cadaste, estas peças são substituídas por painéis trapezoidais, que
depois de colocados nos seus lugares, a vante e a ré do fundo vão receber as
tábuas dos costados.
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De
popa
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Ficamos assim com uma embarcação de
formas específicas, diferentes de todas as que tenho vindo a reproduzir nos
modelos que tenho construído.
É na verdade, na sua forma, muito
semelhante à vasilha de madeira “em forma de tronco de pirâmide rectangular,
invertida, em que se dá de comer a porcos e outros animais”, que, antigamente,
também servia para “banhos e lavagens”.
Enquanto embarcação, a gamela,
é suficientemente reforçada no interior e com dimensões para poder ser
utilizada na pesca e vir à praia em mar aberto.
Por esta razão, tem pregadas no fundo
a todo o comprimento, a meio e aos lados, umas largas réguas para protecção ao
apraiar.
Interiormente tem três bancadas,
sendo a de vante com uma enora para o mastro. Tem paneiros a vante e a ré e
duas anteparas transversais, sendo uma na primeira caverna de ré e outra na
última de vante.
As chumaceiras para escalamões são
três por bordo, podendo assim usar dois ou quatro remos para sua deslocação com
falta de vento.
No painel de ré tem ferragens para
aplicação de um leme de cana, cuja porta desce abaixo do fundo da embarcação.
Usa vela de pendão de amurar a vante,
do tipo poveiro. Como palamenta tem quatro remos, um vertedouro e uma âncora de
pedra, dita poita.
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Pormenor
interior com palamenta
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Na construção deste modelo, como de
costume, utilizei madeira de limoeiro no cavername e de choupo no tabuado. Nas
ferragens arame de cobre e na vela pano de algodão. Como medidas temos:
Comprimento………….4.80 metros
Boca………………………..2.20 m
Pontal…………………….. 0.60 m
Escala ……………………. 1/25
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/ 09 / 2015
António Marques da Silva
Ana Maria Lopes
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