quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Gamela ou masseira de Vila Praia de Âncora

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Hoje, o “Marintimidades” está por conta do Sr. Capitão Maques da Silva, com todo o gosto.

Prosseguindo a minha pesquisa acerca das embarcações dos rios e das praias do norte, desci um pouco para o sul de Caminha e parei em Vila Praia de Âncora.

Os autores do trabalho que me ajudaram na construção do carocho de Caminha, desenvolveram igualmente os seus estudos na direcção de uma embarcação utilizada pelos pescadores de Âncora, que nesta praia toma o nome de gamela ou masseira.

Assim, continuando a seguir atentamente a, «Adaptação sob desenhos” de José Gonçalves e “Apontamentos e memórias” de João Baptista», obtive mais uma vez, as informações que desejava, para construir um modelo desta invulgar embarcação de pesca.

Dizem-nos os autores deste estudo que na Galiza se utilizava também uma masseira muito parecida com esta, mas é a de Âncora que vou tentar reproduzir tão fiel quanto me for possível.

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De proa
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Grato a estes dois estudiosos e seguindo as suas preciosas memórias, comecei por preparar como de costume, um plano de construção de modelo, simplificado, para reproduzir uma masseira com cerca de quatro metros e oitenta, na escala de 1/25, que é a que mais costumo utilizar.

Principiando este trabalho, logo fui verificando que sendo tão próximas estas localidades, o método de construção utilizado no carocho e nesta masseira, são totalmente diferentes.

Na verdade, tanto na forma, como no aspecto, estas duas embarcações também em nada se podem comparar.

O método de começar a construir pelo casco primeiro, “shell-first” utilizado na construção do carocho é aqui completamente esquecido. Voltamos a ter primeiro a preparação do painel do fundo, onde se vão aplicar as quatro cavernas, seguidas dos respectivos braços.

Como na masseira não há roda de proa nem cadaste, estas peças são substituídas por painéis trapezoidais, que depois de colocados nos seus lugares, a vante e a ré do fundo vão receber as tábuas dos costados.

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De popa
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Ficamos assim com uma embarcação de formas específicas, diferentes de todas as que tenho vindo a reproduzir nos modelos que tenho construído.

É na verdade, na sua forma, muito semelhante à vasilha de madeira “em forma de tronco de pirâmide rectangular, invertida, em que se dá de comer a porcos e outros animais”, que, antigamente, também servia para “banhos e lavagens”.

Enquanto embarcação, a gamela, é suficientemente reforçada no interior e com dimensões para poder ser utilizada na pesca e vir à praia em mar aberto.

Por esta razão, tem pregadas no fundo a todo o comprimento, a meio e aos lados, umas largas réguas para protecção ao apraiar.

Interiormente tem três bancadas, sendo a de vante com uma enora para o mastro. Tem paneiros a vante e a ré e duas anteparas transversais, sendo uma na primeira caverna de ré e outra na última de vante.

As chumaceiras para escalamões são três por bordo, podendo assim usar dois ou quatro remos para sua deslocação com falta de vento.

No painel de ré tem ferragens para aplicação de um leme de cana, cuja porta desce abaixo do fundo da embarcação.

Usa vela de pendão de amurar a vante, do tipo poveiro. Como palamenta tem quatro remos, um vertedouro e uma âncora de pedra, dita poita.

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 Pormenor interior com palamenta

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Na construção deste modelo, como de costume, utilizei madeira de limoeiro no cavername e de choupo no tabuado. Nas ferragens arame de cobre e na vela pano de algodão. Como medidas temos:

 

Comprimento………….4.80 metros

Boca………………………..2.20 m

Pontal…………………….. 0.60 m                               

Escala ……………………. 1/25

 

10 / 09 / 2015

António Marques da Silva


Ana Maria Lopes

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