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Cap. José de Oliveira Rocha
Sempre
aliei o nome do Cap. José Rocha à pesca do bacalhau, mas capitão já só de arrastões, e, neste caso, servidor fiel
ao armador Egas Salgueiro, gerente da EPA.
Em
conversa franca e amiga com o Hugo Calão, neto dele, perguntou-me: – Ó
professora, do meu avô David Calão, não tinha quase nada, mas do meu avô Zé
Rocha, tenho algumas fotos. Não pretende caminhar entre os meandros da sua vida
profissional? Com dificuldade em elementos fotográficos, mais uma escotilha se me abriu. O Hugo já me
valera, ao fornecer-me algumas imagens do bisavô materno, Francisco Calão
(1897-1961), o que não estava fácil.
José
de Oliveira Rocha, filho de Cândido da Rocha e de Maria de Oliveira, nasceu em
Ílhavo, a 12 de Junho de 1923. Era irmão gémeo de Cândido de Oliveira Rocha,
mais conhecido por Cândido do Café, falecido em Fevereiro último.
José
de Oliveira Rocha, numa das suas amarrações no Porto, apaixonou-se por Margarida
Ferreira Coutinho, natural do Porto e aí residente, atraente mulher e de uma
grande beleza física. Depois do casamento no Porto, em 20 de Junho de 1948, passaram
a morar em Ílhavo. Desta união, nasceram três rapazes, o José Joaquim Coutinho
Rocha, que seguiu a carreira náutica, o Ângelo, que de entre as profissões
marítimas, foi maquinista, e o Mário, o mais novo.
José
Rocha era portador da cédula marítima nº 41623, passada pela Capitania do Porto
de Lisboa, em 19 de Agosto de 1943. Conheci-o, enquanto morador da Avenida
Senhora do Pranto, mas nunca tive grande convivência com a família.
Ver-me-ei
limitada às informações de familiares, colegas ou pessoas que com ele
conviveram.
Segundo
informações credíveis, começou por ser piloto do arrastão Santa Princesa, pertença da EPA, nos anos de 1946 e 47, perfazendo duas
viagens no primeiro ano e uma, no segundo. Foi seu comandante o capitão António
Trindade da Silva Paião.
Nas
safras de 1948, viagem inaugural, a 1950 (inclusive), passou a imediato do
arrastão clássico São Gonçalinho, também pertença da EPA.
À oitava viagem, ascendeu a capitão. Aí, foi seu piloto, o conterrâneo
Francisco Correia Marques, como já tinha sido, nas duas anteriores viagens do
navio.
Com a mulher, a bordo do São Gonçalinho
E a vida continuou, sempre com muito pouco
tempo em terra… viagem atrás de viagem… ele
ia a todas – relembram colegas que o conheceram. De 1951 a 1955, foi a era
do Santa Princesa, também arrastão clássico da EPA, em que fez
oito viagens seguidas, apenas com uma interrupção – a 1ª de 1955, comandada por
João Marques Pelicas. Vida dura e cheia de mar!
Nos cinco anos que comandou o Santa Princesa teve como imediatos, seus conterrâneos Adriano
Agualusa Nordeste, em 1951, 1ª viagem, João Marques Pelicas, de 1952 a 54 e 2ª
viagem de 1955. Como piloto, Manuel Seiça Filipe, de
1953 a 55.
De saco de roupa e aprestos para novo
convés, sempre fiel ao mesmo armador, mudou-se para o comando do arrastão lateral Santa Mafalda, que chefiou durante nove anos seguidos, em 17
viagens. Apenas, na primeira de 1962, comandou o navio, o conterrâneo António
Trindade Grilo Paião.
A bordo do Santa Mafalda …
O arrastão
Santa Mafalda, como é do
conhecimento público, perdeu-se, na saída da barra de Lisboa, no dia 21 de
Janeiro de 1996, em frente a S. Julião da Barra – uma avaria do leme,
fatal.
Nos nove anos anos que comandou o clássico Santa Mafalda, Zé Rocha teve como imediatos, Juvenal Carlos Filipe Fernandes, da Gafanha da Nazaré,
de 1956 a 58 (1ª v) e seus conterrâneos José Mário de Oliveira Gordinho, em
1958, e de 1960 a 62, e João Manuel Morgado Peixoto da Silva, na 2ª viagem de
1965. Como pilotos, Manuel Paulo Pinto Nunes Guerra, na 1ªv de 1956, José Mário
de Oliveira Gordinho, da 2ªv de 1956 até à 1ªv de 1958, Valdemar Aveiro, 2ªv de
1956 até 1ª v de 1960 e António Fernando Paroleiro dos Santos, 2ª v de 1960 até
1963, João Manuel Morgado Peixoto da Silva, 1964 e 1ª v de 1965 e Reinado dos
Santos Madaíl, na 2ªv de 1965. Quanto a praticantes de piloto, nem sempre o
navio levava, mas, todos de Ílhavo, lembremos, José Carlos Vieira dos Santos,
Valdemar Aveiro, Israel Vechina Padinha, António Fernando Paroleiro dos Santos
e Libânio Tibério Bóia Paradela.
Outro ano, outro navio, –1966– e, desta vez um arrastão de popa, que, de início, só era
entregue a um capitão com renome comprovado. Uma honra e uma mágoa. Esta tinha
a ver com a perda do Santa Mafalda –
o Cap. José Rocha chorou junto de S. Julião da Barra a perda do «seu navio»,
que tantos anos comandou com proficiência e sabedoria. Como reconhecimento da sua
experiência e do seu saber, largamente demonstrados durante uma vida de mar, teve a honra de ir comandar o arrastão
de popa, Santa Cristina, acabado de
construir em 1966 para a EPA, pelos Estaleiros Navais de São Jacinto, com todo
o conforto, inovações e modernidade.
O arrastão de
popa Santa Cristina
Foi comandante do Santa Cristina, de 1966 (em viagem inaugural) a 1972, com 11 viagens
realizadas, com excepção da 2ª v de 1972, em que não foi ao mar, para ficar a
orientar a construção da sua moradia, na Avenida da Senhora do Pranto, tendo
sido substituído pelo capitão António Alberto dos Santos Madaíl. Teve como
imediato, Manuel Alves Mendes, nos anos de 1966 e 67 e António Alberto dos
Santos Madaíl, na 1ª v. de 1972.
Outro ano – outro rumo – uma nova etapa da sua vida – 1973!... O arrastão Santa Isabel, que veio substituir o homónimo, naufragado em 1971,
foi construído para a EPA, em 1973, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo,
com as mais modernas características tecnológicas.
Em 1973, o Ministro da Marinha visitou o moderno arrastão
A viagem inaugural do popa Santa Isabel foi a primeira de 1973, sob o comando de Asdrúbal
Capote, mas na 2ª do mesmo ano, passou logo para o comando de Zé Rocha e, por
aí adiante, até ao ano de 1978 – duas viagens de 1973 a 75 e, uma, nos anos de
1976 a 83, a sua última viagem, a partir da qual se aposentou.
O filho, José Joaquim Coutinho Rocha, que, amavelmente,
me prestou algumas informações sobre o pai, estreou o navio como piloto e
passou a imediato do pai, até 1975, tendo feito a viagem de capitão, na safra
de 1982. O conterrâneo Manuel Paulo Pinto Nunes Guerra foi imediato do navio, de
1975 a 1983.
Capitão José Rocha junto ao «seu arrastão»
Após a aposentação, problemas de saúde
começaram a perturbar «o nosso capitão». Homem extremamente trabalhador e
regrado na sua alimentação, foi atacado por um trombo numa perna, ao qual lhe
foi feita uma pequena cirurgia, segundo diagnóstico médico. As coisas não correram pelo melhor,
complicaram-se, tendo-lhe sido amputada uma perna. Acabou por falecer, mais
tarde, em Lisboa, relativamente novo, com 65 anos, em 26 de Junho de 1988.
Fotos gentilmente cedidas pelo seu neto,
Hugo Calão
Ílhavo, 20 de Maio de 2019
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Ana
Maria Lopes-