domingo, 15 de dezembro de 2019

Homens do Mar - Cap. José de Oliveira Rocha - 54

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Cap. José de Oliveira Rocha
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Sempre aliei o nome do Cap. José Rocha à pesca do bacalhau, mas capitão já só de arrastões, e, neste caso, servidor fiel ao armador Egas Salgueiro, gerente da EPA.
Em conversa franca e amiga com o Hugo Calão, neto dele, perguntou-me: – Ó professora, do meu avô David Calão, não tinha quase nada, mas do meu avô Zé Rocha, tenho algumas fotos. Não pretende caminhar entre os meandros da sua vida profissional? Com dificuldade em elementos fotográficos, mais uma escotilha se me abriu. O Hugo já me valera, ao fornecer-me algumas imagens do bisavô materno, Francisco Calão (1897-1961), o que não estava fácil.
José de Oliveira Rocha, filho de Cândido da Rocha e de Maria de Oliveira, nasceu em Ílhavo, a 12 de Junho de 1923. Era irmão gémeo de Cândido de Oliveira Rocha, mais conhecido por Cândido do Café, falecido em Fevereiro último.

José de Oliveira Rocha, numa das suas amarrações no Porto, apaixonou-se por Margarida Ferreira Coutinho, natural do Porto e aí residente, atraente mulher e de uma grande beleza física. Depois do casamento no Porto, em 20 de Junho de 1948, passaram a morar em Ílhavo. Desta união, nasceram três rapazes, o José Joaquim Coutinho Rocha, que seguiu a carreira náutica, o Ângelo, que de entre as profissões marítimas, foi maquinista, e o Mário, o mais novo.
José Rocha era portador da cédula marítima nº 41623, passada pela Capitania do Porto de Lisboa, em 19 de Agosto de 1943. Conheci-o, enquanto morador da Avenida Senhora do Pranto, mas nunca tive grande convivência com a família.
Ver-me-ei limitada às informações de familiares, colegas ou pessoas que com ele conviveram.
Segundo informações credíveis, começou por ser piloto do arrastão Santa Princesa, pertença da EPA, nos anos de 1946 e 47, perfazendo duas viagens no primeiro ano e uma, no segundo. Foi seu comandante o capitão António Trindade da Silva Paião.
Nas safras de 1948, viagem inaugural, a 1950 (inclusive), passou a imediato do arrastão clássico São Gonçalinho, também pertença da EPA. À oitava viagem, ascendeu a capitão. Aí, foi seu piloto, o conterrâneo Francisco Correia Marques, como já tinha sido, nas duas anteriores viagens do navio.

Com a mulher, a bordo do São Gonçalinho
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E a vida continuou, sempre com muito pouco tempo em terra… viagem atrás de viagem… ele ia a todas – relembram colegas que o conheceram. De 1951 a 1955, foi a era do Santa Princesa, também arrastão clássico da EPA, em que fez oito viagens seguidas, apenas com uma interrupção – a 1ª de 1955, comandada por João Marques Pelicas. Vida dura e cheia de mar!
Nos cinco anos que comandou o Santa Princesa teve como imediatos, seus conterrâneos Adriano Agualusa Nordeste, em 1951, 1ª viagem, João Marques Pelicas, de 1952 a 54 e 2ª viagem de 1955. Como piloto, Manuel Seiça Filipe, de 1953 a 55.
De saco de roupa e aprestos para novo convés, sempre fiel ao mesmo armador, mudou-se para o comando do arrastão lateral Santa Mafalda, que chefiou durante nove anos seguidos, em 17 viagens. Apenas, na primeira de 1962, comandou o navio, o conterrâneo António Trindade Grilo Paião.

A bordo do Santa Mafalda
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O arrastão Santa Mafalda, como é do conhecimento público, perdeu-se, na saída da barra de Lisboa, no dia 21 de Janeiro de 1996, em frente a S. Julião da Barra – uma avaria do leme, fatal.
Nos nove anos anos que comandou o clássico Santa Mafalda,  Zé Rocha teve como imediatos, Juvenal Carlos Filipe Fernandes, da Gafanha da Nazaré, de 1956 a 58 (1ª v) e seus conterrâneos José Mário de Oliveira Gordinho, em 1958, e de 1960 a 62, e João Manuel Morgado Peixoto da Silva, na 2ª viagem de 1965. Como pilotos, Manuel Paulo Pinto Nunes Guerra, na 1ªv de 1956, José Mário de Oliveira Gordinho, da 2ªv de 1956 até à 1ªv de 1958, Valdemar Aveiro, 2ªv de 1956 até 1ª v de 1960 e António Fernando Paroleiro dos Santos, 2ª v de 1960 até 1963, João Manuel Morgado Peixoto da Silva, 1964 e 1ª v de 1965 e Reinado dos Santos Madaíl, na 2ªv de 1965. Quanto a praticantes de piloto, nem sempre o navio levava, mas, todos de Ílhavo, lembremos, José Carlos Vieira dos Santos, Valdemar Aveiro, Israel Vechina Padinha, António Fernando Paroleiro dos Santos e Libânio Tibério Bóia Paradela.
Outro ano, outro navio, –1966– e, desta vez um arrastão de popa, que, de início, só era entregue a um capitão com renome comprovado. Uma honra e uma mágoa. Esta tinha a ver com a perda do Santa Mafalda – o Cap. José Rocha chorou junto de S. Julião da Barra a perda do «seu navio», que tantos anos comandou com proficiência e sabedoria. Como reconhecimento da sua experiência e do seu saber, largamente demonstrados durante uma vida de mar, teve a honra de ir comandar o arrastão de popa, Santa Cristina, acabado de construir em 1966 para a EPA, pelos Estaleiros Navais de São Jacinto, com todo o conforto, inovações e modernidade.
  
O arrastão de popa Santa Cristina
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Foi comandante do Santa Cristina, de 1966 (em viagem inaugural) a 1972, com 11 viagens realizadas, com excepção da 2ª v de 1972, em que não foi ao mar, para ficar a orientar a construção da sua moradia, na Avenida da Senhora do Pranto, tendo sido substituído pelo capitão António Alberto dos Santos Madaíl. Teve como imediato, Manuel Alves Mendes, nos anos de 1966 e 67 e António Alberto dos Santos Madaíl, na 1ª v. de 1972.
Outro ano – outro rumo – uma nova etapa da sua vida 1973!... O arrastão Santa Isabel, que veio substituir o homónimo, naufragado em 1971, foi construído para a EPA, em 1973, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, com as mais modernas características tecnológicas.
  
Em 1973, o Ministro da Marinha visitou o moderno arrastão
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A viagem inaugural do popa Santa Isabel foi a primeira de 1973, sob o comando de Asdrúbal Capote, mas na 2ª do mesmo ano, passou logo para o comando de Zé Rocha e, por aí adiante, até ao ano de 1978 – duas viagens de 1973 a 75 e, uma, nos anos de 1976 a 83, a sua última viagem, a partir da qual se aposentou.
O filho, José Joaquim Coutinho Rocha, que, amavelmente, me prestou algumas informações sobre o pai, estreou o navio como piloto e passou a imediato do pai, até 1975, tendo feito a viagem de capitão, na safra de 1982. O conterrâneo Manuel Paulo Pinto Nunes Guerra foi imediato do navio, de 1975 a 1983.

Capitão José Rocha junto ao «seu arrastão»
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Após a aposentação, problemas de saúde começaram a perturbar «o nosso capitão». Homem extremamente trabalhador e regrado na sua alimentação, foi atacado por um trombo numa perna, ao qual lhe foi feita uma pequena cirurgia, segundo diagnóstico médico.  As coisas não correram pelo melhor, complicaram-se, tendo-lhe sido amputada uma perna. Acabou por falecer, mais tarde, em Lisboa, relativamente novo, com 65 anos, em 26 de Junho de 1988.
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Fotos gentilmente cedidas pelo seu neto, Hugo Calão
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Ílhavo, 20 de Maio de 2019
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Ana Maria Lopes-

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