sábado, 28 de junho de 2014

Regata de Moliceiros - 2014 - Preparativos

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São 26 de Junho, quinta-feira. O Verão já começou, mas o tempo, para ajudar à missa, anda muito incerto! Uma brisa de sudoeste saborosa! Um céu de um azulino puro, com nuvens acumuladas, apenas junto ao horizonte. Já não bastam as desavenças, exigências e desorganizações para a organização da Regata da Ria, evento que já foi acontecimento/âncora nas Festas da Ria. Será no sábado, mas com quantos barcos moliceiros? De dimensões normais? Sete a oito, não se sabe bem. Moliceirinhos? Quatro…, número incerto. Bateiras à mistura, para colmatar a falta de moliceiros? Não se sabe quantas. É o que se ouve, no centro do mundo. E, neste caso, o centro do mundo é a praia do Monte Branco, na Torreira, junto ao Estaleiro-Museu, onde trabalha o Mestre Zé Rito e pinta o Zé Manel. Actualmente, é lá o melhor local para sentir os preliminares da festa. Quem vagueia pela ria, sabe-o.

 
A Regata de Moliceiros, a realizar no sábado, dia 28, depois de amanhã, já foi prevista com versões diferentes, integrada num evento de nome pomposo e sonante Ria de Aveiro-Weekend.2014. Não seria melhor aproveitar o espectáculo dos preparativos, que, por vezes, são o melhor da FESTA?
Nem temos dúvidas… sabe tão bem, de quando em vez, tirar o relógio e viver sem tempo, entre a natureza e o ser.
E lá fomos de mala aviada, a Etelvina e eu, de olhar expectante e máquinas à espreita, bordejar a ria e saboreá-la, refrescar os pés, em contacto directo com o agitar das águas, que sobem.
E o concurso de painéis, que, há dezenas de anos, esteve na base da organização da regata para entusiasmar os proprietários a mudar, anualmente, os painéis?
Foram repintados dois barcos, o do Zé Revesso e o do Zé Rito. Ao todo, oito painéis. Que pobreza franciscana!
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Há pessoas de boa vontade, há manobras, há barcos, há homens da ria verdadeiros, inseridos numa paisagem deslumbrante e envolvente!
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Mestre Zé Rito, no seu semblante simpático e risonho, ultima o seu moliceiro, que ficou para o fim, a que o Zé Manel e o pai finalizam a decoração.

 
Três gerações entreajudam-se e carenam três barcos, com uma facilidade impressionante, que nos deixam abismadas. São brinquedos nas mãos deles; precisam de uma limpeza no fundo e de uns pequenos retoques, que farão ainda, amanhã.
Mas esta geração está a acabar e não se vê muito quem a continue.

 
– Força, carago! Para cima, e apoiam-nos na toste (outra serventia), escorada.
Fogo, é pesado! – reclamam! Não soa bem assim, mas de forma idêntica.
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É este o verdadeiro espírito da ria.
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O Ti Zé Revesso, miúdo, magrote, de olho azul desbotado pelo sol, de pele engelhada, rugas vincadas, conhecedor dos segredos da ria, de calça arregaçada, comenta:
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– Esta semana tem sido um correr para aqui. Amanhã, de novo.
– Olhe, deixe lá, é bom. Enquanto estamos aqui… – retorqui.
Não estamos noutro lado – respondeu. Verdade lapalissiana.
Então, Sr. Revesso, que idade tem? No ano passado, pediu-me segredo, pois tinha só 37 anos. Percebi.
– Olhe, este ano, estou perto de fazer 3 quarteirões.
Mas enquanto por cá andar, o meu barco há-de ser pintado todos os anos, até poder.

 
E foi. E mostrou-mo enlevado, pintadinho de fresco, o A. RENDEIRO.
Está quase tão lindo comò donogracejou.
 


Disso se encarregou o Zé Manel, o conhecido pintor da ria, que a todos acode, agora auxiliado pelo pai.
Pouco depois das cinco horas – começava o adeus de Portugal ao Mundial – foram desandando e despedindo-se afectuosamente de nós.
Ficámos sós naquele espaço e cada uma saboreou-o à sua maneira.
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Sentada num passadiço, na borda-d’água, com os pés pousados num mastro deitado no areal, perdi-me na imensidão da paisagem.
O silêncio só era quebrado pelo marulhar das águas e a alteração da luz intensa, suave, mágica ia realçando os brancos dos casarios, por entre as serranias longínquas.


Esqueci-me do mundo, das crises, das maleitas, das corrupções, dos desempregos, dos exames e quejandos.
Semicerrava os olhos para ver se o que observava era mesmo verdade – barcos, água, céu, serranias…infinito! Até onde irá? Será o antónimo de finito? Medito…Reflicto…
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Bebia sofregamente a imensidão das águas de uma calmaria impressionante. A brisa sudoeste rodara e caíra, por completo.
Nem escrevinhar, nem fotografar me apetecia! Por melhor que fosse a objectiva não era suficiente para registar tanta beleza e tanta paz. Só sentidas!
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Para os tempos que correm, quatro moliceiros tradicionais juntos é uma mão cheia deles.
Ao longe, da esquerda para a direita, a policromia do cais dos pescadores, a Ponte da Varela riscada no céu, embranquecida pelo efeito do pôr-do-sol.

 
Não tínhamos vontade de regressar. A hora crepuscular obrigava-nos. Os barcos ali se aquietaram para nosso deleite, enquanto saboreávamos o fim de tarde lagunar, com fascínio. 
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Imagens – Recolhidas, hoje, pela autora do blogue
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À beira-ria, 26 de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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