segunda-feira, 16 de junho de 2014

Uma janela para o sal - XVII

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Da eira para o barco…
 
Na marinha é dia da tirada do sal – da eira para o barco...
Chega o barco pela maré. É um possante saleiro fretado para o transporte do sal lagunar e aferido para a carga. Um vagão de salum barco de sal. É preciso escoá-lo, desocupar a eira, para dar lugar a nova safra.
De marinha em marinha, obedecendo à «escala das tiradas», a paisagem vai-se transmutando. Dos brancos cones que salpicam os malhadais, vão ficando, somente, breves apontamentos de cristais...
 
 
Marnoto e moço atiram-se à lida. Começam a desmanchar o monte de sal, ceifando-o pela base.
O majestoso deixa-se abater, escorrendo, até se desmoronar às mãos do seu criador, rendido.
Puxam e repuxam-lhe o sal com força e destreza, como que sugando…
Com os tradicionais rapões ripam-lhe o sal e enchem a padiola, vezes sem conta.
 

Com a padiola a abarrotar de sal, estes homens percorrem, num vaivém, o caminho que vão ladrilhando.
É entre a eira e o esteiro que o embarque tem lugar. É ali que o fundo do saleiro se cobre de sal, a cada tirada.
  

Arqueados pelo esforço, moço e marnoto soerguem o pesado carrego, a caminho do esteiro.
Ali, atracado, com a vela enrolada no aprumado mastro, sereno, o saleiro aguarda o que lhe está destinado – é o tempero da laguna que lhe cura o grotesco cavername.
O monte, esse monstro de sal erguido para o céu, adornado por mãos de marnoto, expõe-se agora, trincado, desventrado e desformado, como caveira plasmada em cenário de acto final.


Saleiro e barqueiro aguardam os carregadores. Ali, ainda erguido, tal como iceberg em terra quente, este gomo que resta escorre para o barco, que a manhã já se alonga e a maré se esvai… é tempo de partir.
Tirado fica o sal. É o fim desta feitura que a outras dará lugar.
Idos tempos esses em que os homens mediam forças com o trabalho em constante superação, safra após safra.
A beleza desta dureza está na entrega do homem à Mãe Natureza.
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Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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25| 03 | 2014
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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