terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ílhavo na «rota» do Titanic - 1

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Talvez conduza os leitores amigos a concordarem com este título, à primeira vista delirante.

Em posts do mês de Fevereiro de 2009, dei-vos conta da predilecção que tinha pelas minhas colheres de sopa do Titanic e pelas «memórias» que as envolviam. Mito? Lenda? Realidade?

Tendo concluído que era uma história oral que «tinha pernas para andar», com um suporte real muito legítimo, lógico e credível, faltava-lhe uma autenticação por pessoa abalizada. Estará próxima, prometeram-me.

O que precipitou os factos? Coincidências ou destinos?

O Centenário em 2012 do fatídico naufrágio do luxuoso navio, com tudo de história, mito e lenda que em volta dele se gerou, aproxima-se.

E o Comandante, amigo e conterrâneo José Paulo Vieira da Silva capitaneou, no verão passado, um navio em que uma expedição da equipa RMS Titanic fez buscas ao local do naufrágio, com diversos e científicos fins.


No fundo do Oceano, presentemente

O Comandante deu a conhecer aos interessados a “estória” das colheres e, no regresso da viagem, viu e fotografou os talheres em causa, após entusiasmada conversa e troca de impressões.

Passou quase um ano e há pouco recebi um e-mail de Jérémie Marie, a perguntar-me se estaria interessada em contar a história, bem como em mostrar os «badalados» talheres, perante as câmaras, para um curto documentário francês acerca do Titanic, a rodar no ano do centenário.

Em princípio, concordei, vamos a ver se se realizará. A equipa de filmagens deslocar-se-á a Ílhavo para esse fim? !!!!! A ver vamos…

Neste último Agosto aparece também pela Costa Nova, trazido pelo Zé Paulo, outro especialista da RMS Titanic, interessado em conversar e ver as mesmas colheres – Christopher Davino, autor do Catálogo e Director Executivo da última exposição patente em Lisboa, no espaço Rossio (Julho 2009), Titanic The artifact exhibition.

Mas, como existem em Ílhavo? E há outras famílias que também possuem talheres, se bem que eu nunca os tivesse visto (a origem tinha sido a mesma).

Acharam a história encantadora e fascinante e perante a exequibilidade dos factos, prometeram que atestariam a autenticidade dos objectos.
Aguardemos…
Mas as coincidências não ficaram por aí…. Em banalidades de rua…, chegou-se aos talheres do Titanic e, imaginem, caso para dizer que santos de casa não fazem milagres.

(Cont.)

Imagens – Arquivo da autora do blog

Ílhavo, 27 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Procissão lagunar, em renovada honra à Senhora dos Navegantes

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A tradição secular voltou a cumprir-se e a Gafanha da Nazaré, este fim-de-semana, foi palco das Festas em honra da Nossa Senhora dos Navegantes, com a habitual romaria e procissão, pela Ria de Aveiro (a XIV, sob organização do Grupo Etnográfico da Nazaré e da paróquia local).

O cortejo formou-se, pelas 14 horas, junto do Cais dos Bacalhoeiros, a partir do Stella Maris, em direcção ao cais n.º 3, onde começou o desfile pela Ria.

Em dia soalheiro, um norte muito agreste fez com que participasse, a meu ver, um menor número de barcos.

No entanto, constitui sempre um espectáculo fulgurante, na diversidade de embarcações, na presença de muito devotos agasalhadíssimos e encapuçados, de muita cor, na presença de códigos de sinais que embandeiravam os navios em arco, nas bandeiras portuguesas e, claro, em algumas insígnias clubísticas que não podiam faltar.
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Flores multicolores, muitas, muitas flores, palmas hirtas ou vergadas em arco e outros enfeites adornavam o cortejo religioso.

As opas coloridas e esvoaçantes das irmandades também animavam o cenário, ao som dos acordes de uma banda gafanhense, que o vento ajudava a propagar.

Tudo isto tem um não sei quê de devoto, místico, profano e folclórico que se entrelaça e confunde.

Não tendo tido possibilidade de acompanhar a própria procissão pela Ria, resolvemos abrigarmo-nos na «ponte» do arrastão costeiro Cruz de Malta, acostado frente da empresa.
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A recato do vento e do sol e com óptima visibilidade, apreciámos embarcações, divindades e criaturas, em todo o seu esplendor.

A Ria agitada pelo próprio vento e pelo tumulto dos motores, numa marola de espuma, emoldurava a paisagem.

E nós próprios, a bordo, também éramos suavemente embalados por uma ondulação atrevida, que nos tonteava.
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Pena é que os alvos e abundantes montes de sal da paisagem de outrora se fizessem sentir! Sinais dos tempos!!!

Integraram o desfile as imagens de Nossa Senhora da Boa Viagem, de Nossa Senhora da Nazaré, a padroeira da freguesia e de Nossa Senhora dos Navegantes, a homenageada.

Este ano, a procissão contou, ainda, com a presença de uma imagem vinda da Capelinha da Costa Nova, que imediatamente reconheci – o Santo Amaro, altaneiro, embarcado na sua «xávega», num mar de flores, transportada na embarcação ESPERANÇA NO FUTURO.

ESPERANÇA NO FUTURO


Abriu o desfile a pomposa Lancha dos Pilotos DUAS ÁGUAS, seguida da motora TRAVESSO com a Senhora da Nazaré.


DUAS ÁGUAS



TRAVESSO

O ponto alto foi a embarcação de Adelino Palão JESUS NAS OLIVEIRAS que transportou, além do principal andor, os elementos da Filarmónica Gafanhense, várias irmandades e convidados.



JESUS NAS OLIVEIRAS

Barcos mercantéis adulterados, da MT, também transportaram pessoas devidamente autorizadas, a que se juntaram, ainda, barcos de recreio, barcos de pesca artesanal, lanchas, botes e outros, com proprietário, familiares e amigos.
O possante rebocador MERCÚRIO, no seu gritante alaranjado, encerrava o desfile.

Todo o agrupamento rumou a São Jacinto, saiu em direcção à barra, sempre emblemática, até à Meia-Laranja, para seguidamente voltar e acostar ao Cais do Forte. Aí, a minúscula e típica capelinha de Senhora dos Navegantes acolheu a imagem, seguindo-se a celebração de missa Solene.

Imagens – gentilmente cedidas por Etelvina Almeida


Ílhavo, 19 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bateira ílhava, modelo de Marques da Silva

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Em 2007, o MMI exibiu a exposição A Diáspora dos Ílhavos, no seu 70º Aniversário, de 8 de Agosto a 31 de Outubro, em que um modelo da bateira ílhava executado pelo hábil Marques da Silva fora vedeta.

Bateira ílhava, no Catálogo


A este propósito, referiu o autor do modelo, in Catálogo Colecção Capitão Marques da Silva, elaborado para o depósito de sua colecção, em Abril de 2008, no MMI:

Os barcos ílhavos ou varinos são como o nome sugere embarcações que vieram da Ria de Aveiro.
Digo vieram, porque nas indicações que recolhi, o seu local de trabalho era na boca da Barra de Lisboa, durante os meses de Inverno. No Verão ficavam varados nas praias de Algés e Pedrouços, onde as companhas tinham palheiros e varais, para guardar a palamenta e as redes. Durante o verão este pessoal ficava nas suas terras, onde havia trabalho nas artes da Torreira e da Costa Nova.


ílhavos da tarrafa abicados na Praia da Ribeira

Cada companha de trinta homens possuía dois barcos e com eles rebocavam, à força de remo, a sua tarrafa, rede de arrasto de superfície, com a qual pescavam sardinha. No barco da rede, embarcava o mestre e catorze camaradas, no caíque ou barco do peixe, um arrais e os outros catorze.

ílhavos de gabão e barrete, na ílhava, dedicados  à arte da tarrafa

Tal como nos descreve D. Manuel de Castello Branco, no seu livro Embarcações e Artes de Pesca, 1981, (os ílhavos são barcos longos, de fundo chato e arqueado, boca aberta e proa e popa erguidas, arrufadas e encurvadas em forma de gancho. São semelhantes aos saveiros, mas muito maiores. Têm igualmente tábua de quilha e verdugos de reforço na borda. Interiormente têm bancada com enora, carlinga fixa nas cavernas, sarretas e tilha abaulada à proa).

Dimensões de registo:
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Comprimento + ou – 13. 80 metros
Boca + ou – 2. 50 metros
Pontal + ou – 0,80 metros
Tonelagem + ou – 5, 8 toneladas
Relação comprimento/boca +ou – 5. 5 metros

Continua:

Nas minhas frequentes visitas ao Museu de Marinha de Lisboa, sempre o modelo do Ílhavo me fascinava. Não só a sua forma característica, mas achava estranho nunca ter visto nenhum, mesmo velho, nos meus passeios à volta da Ria.

Finalmente a explicação chegou no livro do D. Manuel de Castello Branco. Sendo barcos da Ria de Aveiro, a sua aplicação era em Lisboa. Aqui encontrei ainda a razão para o meu avô dizer que tinha nove anos quando veio na bateira para Lisboa com o seu pai e também recordar-se do palheiro e dos varais que os seus tios armavam na praia de Pedrouços, dos quais foram desapropriados quando da construção do caminho de ferro de Cascais.

Todas estas lembranças, reforçadas pelo gosto que os Amigos do Museu de Ílhavo mostravam ter por esta embarcação, deram-me força e coragem para que baseado no desenho Nº. 798 – 11Bb-A5 na escala de 1/25, do Museu de Marinha, resolvesse construir este modelo de Barco Ílhavo.


António Marques da Silva

Lisboa, Abril de 2007


Esta foi a primeira das bateiras que Marques da Silva construiu, não pensando ainda que seria a primeira de uma colecção primorosa de bateiras que tem vindo delicadamente a executar. A seu pedido, fui buscar os escritos ao Catálogo então feito e com ela encerramos, ele e eu, a tal colecção.

É caso para dizer que as últimas, muitas vezes, são as primeiras. Ou melhor, neste caso, a primeira foi, aqui, na postagem do blog, a última.

Fotografia de Carlos Pelicas

Ílhavo, 9 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Na Regata do S. Paio, três moliceiros «sulistas»

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Na Regata do S. Paio de 2011, que, cá para mim, foi a última, ou quase, dentre os oito moliceiros presentes, três, foram daqui do Sul. É de congratular esta nossa zona ter a velejar três embarcações tradicionais não adulteradas, enquanto no Canal Central de Aveiro e até no Jardim Oudinot, se assiste ao acto suicidário das embarcações lagunares mais típicas.

Os moliceiros «sulistas» são, presentemente, quase 50% da frota. Que honra!...

A saber, O INOBADOR da PT, o PARDILHOENSE de Miguel Matias e o S. SALVADOR, da Junta de Freguesia S. Salvador, de Ílhavo, à guarda da Associação Aquém Renasce da Gafanha d’Aquém.

Por mais que queira apresentar painéis novos, nada foi renovado. É a crise!... Desfilaram um pouco desbotados e estalados pelo tempo e pelo sol. O único barco que tem painéis novos, porque foi reconstruído e pintado este ano é o PARDILHOENSE.

E recorde-se um, que glorifica uma das fainas do mar que também nos disse muito:


Painel de popa, de bombordo

Saídos das mãos de mestres construtores abalizados, dois de António Esteves, de Pardilhó, e o terceiro, de Zé Rito, da Torreira, foram todos decorados pelo hábil pintor da ria, José Manuel Oliveira.

E, agora, a má notícia – depois do S. Paio, parece que mais dois moliceiros vão ser vendidos para operar no Canal Central. Será que ainda cabem? Ou não seria mais criativo e menos incomodativo, ali pela zona da Cale de S. João juntar uma série de barcos que serviriam de suporte a uma ponte que uniria as duas margens do Canal, para uso pedonal? Uma questão para a edilidade aveirense pensar.

E pela honra da Pátria, lá participaram na Regata, esperando, estoicamente, pela hora tardia da maré:


o PARDILHOENSE

O INOBADOR


e o S. SALVADOR.



Parabéns aos arrais Pedro Paião, Miguel Matias* e Manuel, bem como a suas tripulações, pois um «norte fresco» obrigou a consideráveis e extenuantes manobras.

Só um ligeiro apelo à equipa da Junta de S. Salvador. Quando a embarcação precisar pintada, ponham o bairrismo um pouco de lado e optem por outra coloração para o barco. E respeitem o negro que é característico do «pesadão leme negro do moliceiro».

O serôdio da hora não teve só desvantagens; deu origem a que saboreássemos, da ria, a beleza do entardecer, o lusco-fusco do pôr-do-sol, a brilhante lua mentirosa, em quarto crescente, no seu D perfeito, a rejuvenescida iluminação da ponte da Barra e a beleza que é a Costa Nova, de noite, feericamente iluminada, qual paquete no meio do Oceano.

Com mais ou menos contratempos, vividos em bonomia, o balanço foi muito, muito positivo e o convívio muito agradável.

Foi caso para dizer – Tão grande foi o dia com’à romaria!!!!!!!!
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* Propriamente na Regata, o arrais do PARDILHOENSE foi o José Pedro, de dez anos, neto do Zé Rito, arrais/construtor. A força dos genes lagunares, neste caso!

Fotografias – Da Etelvina Almeida (painel) e da autora do Blog

Ílhavo, 5 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes
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