Na Regata do S. Paio de 2011, que, cá para mim, foi a última, ou quase, dentre os oito moliceiros presentes, três, foram daqui do Sul. É de congratular esta nossa zona ter a velejar três embarcações tradicionais não adulteradas, enquanto no Canal Central de Aveiro e até no Jardim Oudinot, se assiste ao acto suicidário das embarcações lagunares mais típicas.
Os moliceiros «sulistas» são, presentemente, quase 50% da frota. Que honra!...
A saber, O INOBADOR da PT, o PARDILHOENSE de Miguel Matias e o S. SALVADOR, da Junta de Freguesia S. Salvador, de Ílhavo, à guarda da Associação Aquém Renasce da Gafanha d’Aquém.
Por mais que queira apresentar painéis novos, nada foi renovado. É a crise!... Desfilaram um pouco desbotados e estalados pelo tempo e pelo sol. O único barco que tem painéis novos, porque foi reconstruído e pintado este ano é o PARDILHOENSE.
E recorde-se um, que glorifica uma das fainas do mar que também nos disse muito:
Painel de popa, de bombordo
Saídos das mãos de mestres construtores abalizados, dois de António Esteves, de Pardilhó, e o terceiro, de Zé Rito, da Torreira, foram todos decorados pelo hábil pintor da ria, José Manuel Oliveira.
E, agora, a má notícia – depois do S. Paio, parece que mais dois moliceiros vão ser vendidos para operar no Canal Central. Será que ainda cabem? Ou não seria mais criativo e menos incomodativo, ali pela zona da Cale de S. João juntar uma série de barcos que serviriam de suporte a uma ponte que uniria as duas margens do Canal, para uso pedonal? Uma questão para a edilidade aveirense pensar.
E pela honra da Pátria, lá participaram na Regata, esperando, estoicamente, pela hora tardia da maré:
o PARDILHOENSE
O INOBADOR
e o S. SALVADOR.
Parabéns aos arrais Pedro Paião, Miguel Matias* e Manuel, bem como a suas tripulações, pois um «norte fresco» obrigou a consideráveis e extenuantes manobras.
Só um ligeiro apelo à equipa da Junta de S. Salvador. Quando a embarcação precisar pintada, ponham o bairrismo um pouco de lado e optem por outra coloração para o barco. E respeitem o negro que é característico do «pesadão leme negro do moliceiro».
O serôdio da hora não teve só desvantagens; deu origem a que saboreássemos, da ria, a beleza do entardecer, o lusco-fusco do pôr-do-sol, a brilhante lua mentirosa, em quarto crescente, no seu D perfeito, a rejuvenescida iluminação da ponte da Barra e a beleza que é a Costa Nova, de noite, feericamente iluminada, qual paquete no meio do Oceano.
Com mais ou menos contratempos, vividos em bonomia, o balanço foi muito, muito positivo e o convívio muito agradável.
Foi caso para dizer – Tão grande foi o dia com’à romaria!!!!!!!!
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* Propriamente na Regata, o arrais do PARDILHOENSE foi o José Pedro, de dez anos, neto do Zé Rito, arrais/construtor. A força dos genes lagunares, neste caso!
Fotografias – Da Etelvina Almeida (painel) e da autora do Blog
Ílhavo, 5 de Setembro de 2011
Ana Maria Lopes
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Adorável dia, maravilhosa regata e calorosa companhia tive eu a bordo do barco moliceiro "O Inobador" - o arrais Pedro Paião, o Nuno Santos, o Manuel Sardo ( a tripulação) e a Drª Ana Maria Lopes, que tanto conhecimento me transmitiu.
ResponderEliminarLamentavelmente os barcos moliceiros em regata têm vindo a diminuir e parece estar perto o fim destes eventos por falta de embarcações preparadas para velejar.
É de louvar existirem três embarcações ao sul da Ria que ainda reúnem estas condições, como comenta a Drª Ana Maria.
O norte da Ria, outrora a "casa" dos moliceiros está a perder os seus "habitantes" que pouco a pouco se vão mudando para o canal central...
Drª Ana Maria obrigada pela companhia. Receba um abraço.