domingo, 19 de dezembro de 2010

O lugre Silvina

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À laia de Boas-Festas para todos os meus Amigos, leitores e apreciadores, vou hoje explanar o lugre Silvina, para lembrar o bacalhau do Natal. Escolham-no, pois, directamente da seca, para a noite de Consoada.

O lugre Silvina, registado em Aveiro, foi construído na Gafanha da Nazaré, em 1919, por Manuel Maria Bolais Mónica, com o nome de Águia, para a Companhia Aveirense de Navegação e Pesca, tendo sido o bota-abaixo a 4 de Outubro de 1919. Era um lugre com três mastros, de madeira, proa de beque, popa de painel e um pavimento.


Dia de bota-abaixo do lugre Águia (1919)

Media de comprimento, entre perpendiculares, 35,50 metros, 8,80 m. de boca e 3,60 de pontal. Tinha uma arqueação bruta de 212, 33 toneladas e líquida de 169,88.
Não tinha motor auxiliar e a tripulação era, em média, de quarenta homens.
Em 1920, foi comprado por 75 000$00, pelo Sr. João Bola, para a Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, em Aveiro, para quem já efectuou a campanha em causa, com o nome de Silvina.

Surge com características ligeiramente diferentes: 40, 42 metros de comprimento, fora a fora, 34,67, entre perpendiculares, 8,92 m. de boca e 3,62 de pontal. A arqueação bruta era de 207,76 toneladas e líquida de 152,65.

Foi vendido à empresa Agualuza & Batata, Lda., de Aveiro, em 1927, ficando este contrato anulado, face à compra da totalidade dos bens do armador pela firma Testa & Cunhas, ainda durante o ano de 1927, tendo-lhe sido atribuído o valor de 250 000$00 (escritura em 20.12.1927).

De 1920 a 1926, foi comandado por Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco, de alcunha) e em 1927, por António de Souza.
Já na posse de Testa & Cunhas, foi capitão em 1928, Ambrósio Gordinho, e em 1929, António de Souza (ou, eventualmente, Manuel dos Santos Labrincha).

Curiosidades:

Nos anos de 1928, 1929 e 1930, o navio foi à Terra Nova com 37, 37 e 36 tripulantes, respectivamente, tendo utilizando sempre 32 dóris. Nestas campanhas de fracas capturas, foram apurados apenas 1.148, 1.400 e 835 quintais de peixe e 1.100, 2000 e 1.200 kgs. de óleo de fígado de bacalhau. O valor conseguido com a venda foi de 140.000$00, 172.000$00 e 102.000$00 (escudos), certamente muito abaixo das melhores perspectivas, resultando daí um considerável prejuízo.

Daí resultou o navio não ter feito as viagens seguintes.
Na acta de 7 de Dezembro de 1932 da firma Testa & Cunhas, Lda., os sócios resolveram quais os navios que deviam ir à pesca do bacalhau nas futuras safras de 1933 e 34, tendo assentado apenas na ida do Ernani e Cruz de Malta.

Decidiram ainda anunciar a venda do navio Silvina, entendendo que o podiam dispensar. Todos concordaram, desde que se pudesse efectuar em boas ou regulares condições, ficando a gerência autorizada a promover a sua venda.

Segue:
Depois de elaborado o presente relatório (acta de 11 de Agosto de 1934), chega-nos a notícia infeliz do desaparecimento do nosso lugre Ernani nos bancos da Groenlândia. Ignoramos pormenores. Uma dificuldade surge.

Como suprir a baixa daquela unidade?
Três soluções se apresentam:

1ª – Reparar e apetrechar o Silvina
2ª – Adquirir um navio já feito
3ª – Mandar construir um navio novo

Resolveu-se reparar o lugre Silvina, de modo a estar pronto para a futura safra (para o que foram gastos cerca de 50 contos), obtendo a Gerência informação dos barcos que se ofereçam em boas condições, quer no país, quer no estrangeiro e ainda de um orçamento para um barco novo.


Foto do Silvina, frente à seca


Acentuava-se na empresa, a necessidade de procurar uma nova unidade. Segundo acta de 28.11.1936, deram-se início a todas as diligências para a aquisição de um novo lugre. Quem oferece melhores garantias de técnicas é o Senhor Manoel Maria Mónica, que tem dado provas da sua competência e idoneidade. A proposta foi construir um lugre segundo o modelo do Brites (1936), com a introdução de algumas alterações, com empreitada de lavôr e materiais com o construtôr, pelo preço de 640 contos. A aquisição do motor Diesel ficaria a cargo da gerência.

 

Encomendado em fins de 1936, o Novos Mares, de quatro mastros, beijou as calmas águas da ria, para satisfação de todos, a 16 de Abril de 1938, na Gafanha da Nazaré.

O Silvina foi prosseguindo a sua difícil missão, capitaneado por Joaquim F. Agualuza (de 1935 a 1937) e José Cachim Júnior (de 1938 até 1941), até que viu o seu fim em trágico incêndio, no Grande Banco da Terra Nova, a 25 de Maio de 1941.

Quem quiser recordar, pormenorizadamente, este acidente, poderá ler as páginas a ele dedicadas (103 a 116 da reedição de 2007), escritas por Jorge Simões, em prosa da época, «O Silvina em chamas», no livro Os Grandes Trabalhadores do Mar. O jornalista fez a campanha de 1941, a bordo do «Groenlândia», para a observação da faina e recolha de dados.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 19 de Dezembro de 2010

Ana Maria Lopes

5 comentários:

  1. Boa tarde.

    Sempre considerei o "Silvina" um dos lugres mais bonitos da frota. Este seu artigo mostra-nos no entanto que nunca foi um "campeão" de pesca.

    Atentamente,
    www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

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  2. Esta última fotografia, em frente à seca, é um registo precioso.

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  3. Possuindo o livro original, encontrei a descrição da pág. 97 à 105.
    Sou leitor assíduo do blog e tenho-o entre os meus favoritos.
    Boas Festas de um admirador atento dos seus escritos.
    João Guimarães Marques

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  4. Sem dúvida um trabalho de pesquisa fantástico!
    O B.I. completo do "Silvina" e o todo o seu curriculum...
    Obrigada por compartir tão preciosas informações!
    Desejos de um Feliz Natal e votos de um próspero novo ano de 2011.

    Abraços,
    Etelvina Almeida

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  5. Como sempre a Dra. Ana Maria brinda-nos com presentes maravilhosos.
    Pelo Natal, tinha de ser um presente muito especial.
    Só tenho uma dúvida. Será que a firma Agualuza & Batata,Lda. era dos capitães com o mesmo nome?

    Saudações Natalícias.

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