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Aquando
da Exposição, em 15.9.1997, dos Cartazes pintados à mão, procedentes da
Comissão Liquidatária da ex-CRCB, foi-se publicitando algum do muito material,
que, nessa altura, “mexidos os cordelinhos”, deu entrada no Museu de Ílhavo, em
6.9.1994. Os mais apelativos, individualmente, foram as cerca de 21.000 fichas
de inscrição no Grémio, que têm vindo a fazer o encanto dos familiares, grandes
homens do bacalhau. Facilitou-se a aquisição de uma cópia, a cores, a quem
mostrasse esse desígnio, depois de cedido pelo familiar, o nome completo e a
terra de origem, para ver se constava dos inúmeros dossiers.
E
assim foi. O meu amigo Gaspar Albino encomendara, na minha ausência, uma cópia
da ficha do Pai, que fora pescador do bacalhau, pelos mares do Norte, o que eu
desconhecia, por quem tinha grande adoração. A temática marítima estava muito
presente nos seus trabalhos artísticos, tal era o enlevo pela pesca e pelo
“gadus morhua”, que tinha. Como homem multifacetado que era, chegou a ser
sócio-gerente de uma empresa de pesca, a IAP, Indústria Aveirense de Pesca,
sita na Gafanha da Nazaré, tendo deixado a sua participação no sector, em 1985,
para ter passado a empresário gráfico.
No
dia em que Gaspar Albino veio levantar a ficha de inscrição no Grémio, do Pai,
como não a conhecesse, emocionou-se, e eu estanquei, porque lhe vi uma teimosa
lágrima escorrer pelo rosto abaixo. Tentando encobrir, porque “um homem não
chora”, diz-se, não conseguiu e eu também fiquei um bocado entorpecida e sensibilizada.
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Manuel
de Melo Albino, filho de Luís de Melo Albino e de Guilhermina de Jesus, nasceu
em 11 de Dezembro de 1912, na Vera Cruz. Casou no primeiro de Maio de 1937, com
Maria Benedita Gaspar de Melo, doméstica, união de que resultou o filho Joaquim
António Gaspar Albino.
Era possuidor da cédula marítima nº 21680, passada pela Capitania do Porto de Aveiro, em 4 de Abril, de 1935. Começou a sua vida marítima, nesse mesmo ano, como moço de câmara.
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Nas
campanhas de 1936 e 37, foi pescador, no lugre-escuna “Santa Regina”,
sob o comando do capitão ilhavense António do Santos. Na de 1938, continuou no
mesmo navio, tendo mudado o comando deste para João Maria Madalena, com o
piloto, Artur Oliveira da Velha.
No
dia 11 de Junho, chegou a notícia a Ílhavo, de se ter perdido nos Açores, o lugre-escuna
“Santa “Regina”, pertencente à Empresa de Pesca de Portugal, com sede em Ílhavo,
atacado por um fortíssimo temporal, que o afundou brutalmente. Foi salva a
tripulação por um vapor de carga inglês, que a conduziu a Glasgow, enquanto, ao
todo, se perderem os tripulantes Eduardo António Rodrigues, de Ílhavo, Camilo
Valente da Afurada e Braz dos Santos Matias da praia da Nazaré.
Na
campanha de 1939, em mais uma emposta, mudou para o lugre-motor
“Pescador”, sob o comando do também conterrâneo José Gonçalves da Silva, tendo
sido pescador, 1ª linha,
O lugre “Pescador” foi o lugre “Algarve 5º”, de madeira, construído em Portimão, em 1922, por Joaquim Pedro de Sousa. Em 1936, foi comprado a José Braz Alves, pela Empresa Figueirense de Pesca, onde foi reconstruído e onde instalou rudimentar motor propulsor. Foi intercalando a pesca do bacalhau com viagens de comércio marítimo de cabotagem.
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Saltando um ano, fo 1ª linha/especial no navio-motor” São Ruy”, da Empresa de Pesca de Viana do Castelo, sob o comando do também ilhavense Aquiles Gonçalves Bilelo. Entretanto, deixou a pesca do bacalhau para se dedicar aos navios do comércio.
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Referiu-me
Gaspar Albino que o Pai, por volta de 1947, sofreu um grave acidente à entrada
do porto de Nova Iorque, passando por longos internamentos, nunca mais tendo tido
saúde até à sua morte, muitos anos mais tarde.
Ficha
do Grémio gentilmente cedida pelo MMI.
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Ílhavo,
21 de Janeiro de 2024.
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Ana
Maria Lopes
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