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Na exposição “O Grande Norte”,
patente na sala de Exposições Temporárias, no MMI, até 6 de Novembro, tive o
prazer de reler esta entrevista, que recordo e de que respiguei alguns
excertos.
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E o capitão João Pereira Cajeira assim o conta ao jornal “Beira Mar”, de 30/11/930.
– […] Ano passado chegaram até mim informações sobre a belíssima pesca que havi feito um navio francês nos Bancos da Groenlândia. […] Este ano, quando cheguei aos Bancos da Terra Nova, procurei os meus lugares predilectos de pesca, aqueles onde, em anos transactos, tenho feito boa safra. Uma grande desilusão sofri. Má pesca, escassês de peixe, uma arrelia. […] Resolvi, definitivamente, ir até aos bancos da Groenlândia.
– No dia?
– Partimos no dia 20 de Junho e tivemos uma viagem magnífica […] sem
novidade e ao fim de 10 dias estávamos a 63º
– E pescaram?
– Oiça: Castigada pelo frio intensíssimo e ante o perigo eminente em que nos achávamos em virtude da proximidade dos icebergs, a tripulação reunida declarou-me que era impossível pescar […] Que não podiam, diziam êles, e eu tive de concordar. O fogão já não tinha calor suficiente para cozer pão e a água já fervia com muita dificuldade. […]
Em derredor do navio, a certa distância, avistaram-se centenas de
icebergs. Faziam um ruído ensurdecedor. […]
– Como escaparam de tam grande perigo?
– Tivemos a nosso favor um grande factor de ordem natural. Quási não havia noite naquelas longínquas paragens. O sol rompia às duas horas da madrugada e só às 11, 5 horas desaparecia no horizonte.
– Três horas, pouco mais de noite…
Navegando com ventos contrários só conseguimos chegar aos Bancos da Terra Nova no dia 12 de Julho. […]
Um pescador disse referindo-se aos mares da Groenlândia:
Eh! Sinhor Capitão! Aquele mar não tem passage! Aquilo era tudo fechado que até metia medo…
O capitão Cajeira sorridente e pensativo parecia recordar a acidentada viagem que, pelos perigos de que foi cercada, nos faz lembrar as antigas viagens dos navegadores portugueses.
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Ílhavo, 25 de Maio de 2022
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Ana Maria Lopes
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